“É pois evidente que quanto mais o Estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais risco há, se não positivamente mais certeza, de a estar prejudicando” Fernando Pessoa
A PROPAGANDA CULTURAL
Bem sei que politicamente a Cultura é apenas uma flor na lapela que, em tempos eleitorais, os políticos gostam de usar para dizerem que se interessam por ela e, sobretudo, para terem uns quantos artistas a apoiá-los e a aparecerem em eventos de campanha. Já das campanhas eleitorais o tema está ausente, como temos visto. Por curiosidade fui ler diversos programas partidários na área da Cultura. O ponto comum de todos eles é a existência de frases bonitas mas vazias, ausência de medidas concretas, substituídas por proclamações gerais de intenções. Mesmo quando descem a temas concretos, em nenhum caso dizem o que de facto pretendem fazer. A Lei do Mecenato é um bom exemplo. Aqueles que defendem a necessidade de incentivar o mecenato privado não exemplificam, com uma medida que seja, o que consideram prioritário na revisão dessa Lei – nem mesmo a simples identificação de medidas constantes da legislação de um país onde as coisas funcionem bem. É um contraste com outras áreas onde as medidas são pormenorizadas. Tantas com contas detalhadas em vários temas e tantas promessas vagas noutras. À esquerda do PS, ou seja, Bloco, PCP e Livre, o mecenato nem sequer é tema e a entrega do sector à dependência do Estado é total. Os programas do Bloco e do PCP são pouco mais que cadernos reivindicativos sindicais sobre as condições de trabalho no sector. O PS, que reivindica ser o campeão na área cultural, aponta no seu programa uma série de medidas interessantes, mas que foi incapaz de tomar nestes anos em que foi Governo. Em teoria sabe o que quer, mas não faz. Mais grave ainda, em todos os programas há como que um pudor em premiar a procura de públicos e em associar os apoios a conceder à capacidade de conseguir atrair novos públicos, de forma quantificada. Em nenhum caso se põe em causa a continuidade das rendas pagas a entidades, que se repetem anos após anos, independentemente dos resultados alcançados. A manutenção do status quo da subsídio-dependência é coisa que invade os programas de todos os partidos, em maior ou menor grau. E é um dos maiores problemas para conseguir uma estratégia cultural diferente. Os programas são pouco mais que promessas, e essas, leva-as o vento…
DIXIT “Estamos, de facto, perante um leilão eleitoral, em que cada partido tenta dar mais do que o outro. Lamentavelmente, cada partido está, nesta campanha, mais a olhar para o retrovisor do que para o pára-brisas” António Saraiva