Jornal de Negócios - Weekend

AS MENTIRAS A QUE Flashes de coisas importante­s e um solilóquio sobre política

- PARAGRAFIN­O PESCADA

Há coisas mais importante­s que o novo Governo de Luís Montenegro? Certamente que sim. Não acredita?! Pois bem, aqui vão flashes que provam a minha observação e são isso mesmo, na medida em que foram retirados da edição online da Flash:

- “Sem vergonha de admitir que procura um novo amor, Fernanda Serrano deixa nova indireta nas redes sociais”;

- “Divórcio com João Reis obriga Catarina Furtado a fazer terapia”;

- “José Castelo Branco precisa de Betty Grafstein e nem quer pensar na morte da mulher de 95 anos”;

- “Sérgio Conceição com mão pesada para o filho Francisco! Como o treinador usa a sua dura história de vida para ajudar a que os filhos se superem”.

Agora imaginem Fernanda Serrano a namorar com João Reis, Sérgio Conceição a ter mão pesada para José Castelo Branco e Catarina Furtado a dar alento a Betty Grafstein que, por sua vez, adota Francisco pensando que ele é José, criando um enorme problema a nível da herança. É, ou não, material do bom?

Pronto. Já percebi pelas vossas caras que não consigo ver que me atribuem inteira razão, e esta constataçã­o permite-me partir de ego insuflado para outras análises, menos impactante­s para o país, mas com um grau de relevância que as coloca no plano do aceitável, embora ficassem mais suculentas com umas pitadas adicionais de noz moscada.

Uma delas tem a ver com um certo sentimento de orfandade que pressinto em certos cronistas do reino que estavam habituados a bater em António Costa e nos seus apaniguado­s. Agora, existe uma tentativa de baterem em Pedro Nuno Santos se ele não fizer o que Luís Montenegro lhe pede, mas este chão vai dar poucas uvas, porque é assim a natureza das coisas. Portanto, vamos ter este Governo a criticar o anterior, tal como o anterior havia feito em relação ao seu predecesso­r e assim sucessivam­ente. Na verdade, existem dois princípios inelutávei­s em política: fazer promessas que não se cumprem e passar a “batata quente” da culpa a terceiros.

Na realidade, até se entende que os políticos, chegados ao poder, não cumpram as promessas que fizeram para lá chegar, porque se as cumprissem os vindouros não poderiam prometer fazer aquilo que os outros não fizeram. Dito de outra forma, só a falta de ação permite que outros prometam ação. É sempre o mesmo enredo, embora com protagonis­tas diferentes. Em relação à culpa, é mesma coisa. Onde já se viu um político assumir a culpa de qualquer coisa? O princípio, basicament­e, é o do ditado popular: “quem não sabe dançar diz que a sala está torta”. E nos ministério­s, como se sabe, há salas tortas ao virar da esquina.

Julgo que já perceberam este ponto, pelo que chegou o momento de introduzir uma vírgula eloquente em modo de tutorial: quer saber como usar bermudas aos 40 e 50, para acompanhar a grande tendência desta primavera? Bem me parecia que sim.

E, como tal, recorro, de novo, à Flash, que nos informa sobre o que realmente importa, agora que o sol está a assomar à janela. O tema das bermudas pode ser visto apenas como uma questão de moda, mas também pode ser usado no Parlamento, onde é proibido os deputados e deputadas comparecer­em de bermudas (sabia desta ignomínia, doutor Ventura?), ou no Conselho de Ministros, para meditar sobre o futuro da indústria têxtil que, se depender apenas das bermudas, fica obviamente mais curto. As bermudas “podem usá-las em ‘look’ total com um blazer da mesma cor, ou, se forem de ganga, usá-las com um blazer branco, por exemplo. Para lhes dar um toque mais formal, é só juntar-lhes os tão em voga sapatos ‘kitten heels’ com um pequeno salto ou usar sabrinas ou mocassins, sendo que também ficam lindamente com ténis para um ‘look’ mais descontraí­do”.

Agora que já sabe como usar bermudas, vamos refletir sobre quem deseja que Montenegro se estatele na passarela. Será Pedro Nuno? Será André? Será Rui? Ou serão os três em concomitân­cia? (Nota: Esta última hipótese é apenas colocada para permitir o uso da palavra concomitân­cia). As outras são todas plausíveis e confluem num mesmo sonho, o de calçar sapatos ‘kitten heels’ ao primeiro-ministro, que por estes dias colocou ao pescoço um fio com uma medalhinha ostentando a figura de “São Cavaco”. Que o homem que raramente se engana e nunca tem dúvidas o proteja, porque só por milagre a legislatur­a chegará ao fim.

Tenha um bom fim de semana.

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