UM LIVRO ESPECIAL
Depois de ter frequentado a Escola de Belas Artes, em Lisboa, Rui Chafes aprofundou os seus estudos, de 1990 a 1992, na Kunstakademie Düsseldorf com Gerhard Merz. Foi lá que desenvolveu a sua pesquisa sobre a cultura e arte alemãs. Nessa época, traduziu de alemão para português os “Fragmentos de Novalis”, livro editado originalmente em 1992 pela Assírio & Alvim. Há muito tempo esgotado, mesmo depois de uma segunda edição em 2000, a tradução que Chafes fez de “Fragmentos de Novalis” teve agora nova edição, também bilingue e com 25 dos seus desenhos. Os fragmentos de Novalis seleccionados por Rui Chafes vêm de oito textos diferentes, escritos entre 1797 e 1800, e, citando Chafes, “espalhando fragmentos de ideias, fragmentos de pensamentos, instaura-se a possibilidade de eles florescerem algures.” Novalis é o pseudónimo de Philipp Friedrich von Hardenberg, que viveu entre 1772 e 1801, no tempo do esplendor do idealismo alemão, dos poetas e filósofos do romantismo. Os idealistas e o pensamento estético do Romantismo Alemão têm sido uma das bases de trabalho de Rui Chafes. Na tradução, sempre que possível, Chafes tentou manter “o jogo musical e conceptual das palavras, procurando guardar a limpidez cristalina das palavras de Novalis”. E são também dele estas palavras: “Não sou escritor nem tradutor. Nem tenho essa pretensão. Esta é uma tradução de escultor, não de escritor. Este livro é um ‘projecto completo’, pois compreende a tradução de fragmentos de Novalis, por mim seleccionados, acompanhada de um bloco de desenhos que não são, de modo algum, uma forma de ilustração dos textos: eles existem em simultâneo com a tradução. Ambas as coisas se interpenetram aqui, fazendo que este objecto, este livro, tenha o estatuto de escultura.” Termino com um dos escritos de Novalis incluídos no livro: “Toda a ciência se torna poesia – depois de se ter tornado filosofia”.