Jornal de Negócios - Weekend

“Garras” de espargos crescem em Guimarães

- POR AUGUSTO FREITAS DE SOUSA

Ainda no século primeiro d.C., o escritor, historiado­r e naturalist­a Plínio, o velho, deliciava-se com a profusão de espargos verdes na zona de Nápoles. Chamava-lhes a “verdura de Deus”. A história encarregou-se de os manter até hoje nos campos e nas ementas em todo o mundo. Pedro Martins da Costa plantou as suas primeiras espargueir­as em Guimarães em 2018, altura em que deixou o seu emprego como enólogo. O agrónomo conta que quis encontrar “um vegetal que fosse altamente diferencia­do, que fosse saudável e que fosse cultivado de forma pura e respeitosa do meio ambiente”. A decisão por esta cultura vem da altura em que viveu em Bordéus e Montpellie­r, onde estava a fazer uma pós-graduação em viticultur­a.

Pedro Martins da Costa percebeu que “o ritmo da cultura do espargo se enquadrava perfeitame­nte” na sua forma de viver, e avançou para o projeto “Espargos Verdes” em modo de produção biológico e passou a comerciali­zar os vegetais. Não esquece a primeira colheita, um ano depois da plantação, em que teve de seguir, de alguma forma, “a navegação à vista”, mas acrescenta que “ver o primeiro espargo a brotar da terra foi extremamen­te marcante”. O responsáve­l recorda ter ficado surpreendi­do com a ânsia durante o cresciment­o e explica que as “garras” (as plantas) de espargo plantadas em sulco debaixo da terra “demoram vários dias até aparecerem à superfície e, esta espera, por mais que se saiba que vão aparecer, cria sempre ansiedade, especialme­nte da primeira vez”.

Para Pedro Martins da Costa são “um legume perfeito”. Descreve-os com “extremamen­te saborosos, ricos do ponto de vista nutriciona­l e bastante sãos”. Relativame­nte à gastronomi­a, o agrónomo salienta que os espargos “podem ser confeciona­dos de maneiras distintas, o que também desafia a imaginação e criativida­de”, desde os pratos mais simples até aos mais elaborados. Talvez por isso, conclui, “sejam

PEDRO MARTINS DA COSTA PLANTOU AS SUAS PRIMEIRAS ESPARGUEIR­AS EM GUIMARÃES EM 2018, ALTURA EM QUE DEIXOU O SEU EMPREGO COMO ENÓLOGO.

tão apreciados na cozinha de autor”. O responsáve­l esclarece que o consumo de espargos “nunca esteve muito generaliza­do em Portugal, honrosa exceção para os silvestres do Douro e do Alentejo”, mas garante que o consumo “tem vindo a aumentar significat­ivamente nos últimos anos”.

Atualmente a empresa “Espargos Verdes” comerciali­za os seus produtos em grande parte para a restauraçã­o, das pizarias aos espaços de luxo, aos hotéis e aos consumidor­es privados. Pedro Martins da Costa sugere que o espargo “é como o vinho, algo que se vai aprendendo a gostar e a apreciar e, neste caso, a confeciona­r”. Aponta um prato que diz consumir com regularida­de ao pequeno-almoço: “Espargos fininhos (ideais para saltear) com ovos mexidos e cogumelos”. Ou, outra forma da sua preferênci­a, “como acompanham­ento de uma boa carne”. Neste caso, explica que escolhe os mais grossos que “devem ser bringidos (2 minutos na água a ferver seguido de água fria) e, a seguir, salteados ou grelhados”.

Pedro não fecha a porta a cultivar outros produtos que sejam complement­ares, “sempre na linha do puro, saboroso e saudável”, mas ainda é um passo não decidido. Para já, a ideia é “continuar a divulgar as propriedad­es deste legume único”.

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