UM TRIO INESPERADO
Fui ouvir “Owl Song” graças a um elogio que li sobre o disco. Já tinha ouvido alguma coisa de Ambrose Akinmusire, um trompetista e compositor americano nascido em 1982. Os seus primeiros passos no Berkeley High School Jazz Ensemble despertaram a curiosidade do saxofonista Steve Coleman, que o convidou a integrar o seu grupo Five Elements numa digressão europeia. No regresso, dedicou-se a aperfeiçoar os seus conhecimentos em algumas das maiores escolas de jazz nos Estados Unidos, em Nova Iorque e Los Angeles. Em 2008, gravou o seu primeiro disco e regressou a Nova Iorque, onde tocou com alguns dos mais importantes nomes do jazz contemporâneo – Vijay Iyer, Aaron Parks, Esperanza Spalding ou Jason Moran. “Owl Song” é o seu oitavo disco em nome próprio e aqui escolheu dois nomes incontornáveis para o acompanhar: Bill Frisell na guitarra e Herlin Riley na bateria. É um trio absolutamente fora de série, os músicos dialogam uns com os outros com uma naturalidade impressionante e o trompete de Ambrose Akinmusire cria uma atmosfera musical única, demonstrando a razão pela qual, há já alguns anos, foi premiado e reconhecido como um dos mais relevantes trompetistas actuais. A guitarra de Frisell une-se ao trompete numa combinação inesperada, com o suporte certeiro da bateria de Riley. O tema-título, “Owl Song”, nas suas duas versões, mostra isso mesmo, a fusão das sonoridades da bateria, guitarra e trompete, criando uma música comovente, empolgante e na realidade inesquecível. É um dos melhores discos que ouvi nos últimos meses. Um obrigado a Miguel Esteves Cardoso, que numa recente crónica me fez descobrir este trabalho. Edição Nonesuch, disponível nas plataformas de streaming.