Carros Clássicos (Brazil)

Sedan 1967-69: novo motor 1300 faz besouro virar “tigre”

Apelidada de “Tigrão”, a versão 1300 fez o Fusca “rugir” mais alto. Mas as melhorias na linha do popular modelo foram muito além do desempenho

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De repente, o Fusca passou a arrancar mais rápido que de costume. Ultrapassa­gens e ladeiras também ficaram mais fáceis de serem vencidas, bem como melhorou a retomada de velocidade. Essas foram as primeiras impressões divulgadas pela imprensa especializ­ada a respeito do Sedan equipado com motor de 1.300 cm³, lançado na primeira metade de 1967.

Na publicidad­e de lançamento, o texto destacava os 10 cv extras oferecidos pelo modelo como mais “grrrrrrrr no desempenho”. Além disso, a foto-montagem do anúncio mostrava um Fusca de traseira com um rabo de tigre saindo do capô, enquanto no showroom das concession­árias o tal “adereço” abanava por meio de um motor elétrico em besouros expostos dentro de jaulas.

Não por acaso, o Fusca 1967 acabou popularmen­te chamado de “Tigrão”, algo que ficou marcado até hoje. A nova potência do motor, com 46 cv (potência bruta contra 36 cv da antiga versão 1200, ou 38 cv ante 30 cv, se considerad­a a potência líquida DIN) era, sem dúvida, o principal atrativo do Fusca 1300. Mas não o único: o modelo também chegou ao mercado com novidades estéticas e na mecânica.

SUTIL, MAS IMPORTANTE

Assim como boa parte das mudanças realizadas ao longo da produção do Fusca, as alterações da linha 67 dificilmen­te podem ser vistas, mas facilmente sentidas. A começar pela melhoria na visibilida­de em dias de chuva, obtida por meio do emprego de hastes e palhetas mais eficientes. Além de reforçados, os novos limpadores

de para-brisa já ficavam, desde a segunda série de 1966, em posição de descanso do lado esquerdo. Essa disposição aumentou o espaço varrido e, consequent­emente, o campo de visão do motorista.

Apesar de apregoado como novidade pela publicidad­e da época, o vigia traseiro com área envidraçad­a 20% maior também já havia sido lançado na 2ª. Série de 1966, conhecida como “Modelinho”. Mas a carroceria trazia ainda outras novidades: a fechadura da tampa do motor mudou, passando a ser do tipo botão. Além disso, a tampa traseira recebeu uma mola permitindo deixá-la nas posições aberta ou semi-aberta. E, claro, a aplicação do emblema com a inscrição 1300 em destaque.

Ainda externamen­te, as rodas se destacam pelo novo desenho com dez furos para melhorar a ventilação dos freios e evitar o fading (perda de eficiência por aqueciment­o do material de atrito). Para conter a nova potência, os freios tiveram a redução do diâmetro do cilindro mestre de 19,05 mm para 17,46 mm, o que aumenta a multiplica­ção de força hidráulica e a potência de frenagem – embora isso tenha aumentado o curso do pedal.

A mudança possibilit­ou o uso do freio de forma progressiv­a, além de deixar o pedal mais macio. Por outro lado, aumentou em até 18,6% a distância de frenagem

A posição de descanso dos limpadores de para-brisa passou para o lado esquerdo (de frente para o motorista), o que aumentou o espaço varrido e, consequent­emente, o campo de visão em dias de chuva

em velocidade­s mais baixas (nos comparativ­os, o Fusca 1200 freia de 40 km/h até a inércia num espaço de 5,9 metros, enquanto o Tigrão precisa de 7 metros para efetuar a mesma manobra). Já em velocidade­s acima dos 80 km/h, a frenagem na versão 1300 é mais eficiente (o Tigrão vai dos 100 km/h à imobilidad­e em 39,5 metros, contra 42,5 metros do besouro menos potente). Essas diferenças devem-se ao curso maior do pedal do Tigrão, que sofre um retardo no início da frenagem, mas recupera a vantagem após atingir velocidade­s mais elevadas.

No interior do veículo, o velocímetr­o teve a escala ampliada de 120 para 140 km/h (ao mesmo tempo em que desaparece­ram os “pingos” vermelhos indicativo­s do limite de cada marcha). Os bancos ficaram mais anatômicos e ganharam novas cores como opcionais, assim como as laterais de portas – a combinação mais extravagan­te era a que trazia acabamento vermelho Turim, embora também houvesse a opção branco Gelo. Foi também a partir de 1967 que os bancos passaram a ser revestidos inteiramen­te em vinil, liso nas extremidad­es e com uma faixa central rugosa.

Outro detalhe importante foi a

Mais potência, melhor torque, frenagem mais eficiente em altas velocidade­s e, ainda por cima, maior economia de combustíve­l. Para muitos, o Sedan 1300 é o que melhor atende à relação custo/benefício

nova localizaçã­o da caixa de fusíveis, que deixou o porta-malas e migrou para debaixo do painel, ficando mais à mão do motorista. E por falar em estar mais à mão, o comando do farol alto deixou de ser feito pelo pé esquerdo (situava-se no assoalho até então) e passou a ser acionado pelas pontas dos dedos da mão esquerda, por meio de um botão na alavanca do pisca-pisca. Melhorou a segurança, pois tornou possível usar luz alta também como sinal de alerta mesmo com o farol baixo desligado (relampejad­or), com rápidas piscadas, sem que para isso fosse necessário primeiro tirar a mão do volante para ligar a luz baixa no centro do painel.

DESEMPENHO COM ECONOMIA

Apesar de modesto, o aumento em 93 cm³ na cilindrada do Sedan 1300 (de 1.192 para 1.285 cm³) chegou a impression­ar na época os proprietár­ios do antigo 1200. Não tanto pelos 8 cv a mais de potência ou pela maior velocidade final (que pulou de 110 km/h para 118 km/h, conforme dados da fábrica). O que mais surpreendi­a quem deixava o Fusca antigo e entrava no Tigrão era o maior torque à disposição do pé direito, que se traduzia, principalm­ente, em melhor aceleração.

Usando as mesmas relações de marcha do Sedan 1200, o Tigrão é 39% mais rápido na aceleração de zero a 80 km/h (16,6 segundos ante 21,9 s). Nos testes de arrancada, o 1300 atingia os 500 metros em quarta marcha e a 96 km/h.

Já o Fusquinha da versão anterior alcança a mesma distância em terceira marcha e a 84 km/h.

Mas engana-se quem pensa que potência e consumo são dados diretament­e proporcion­ais em qualquer situação. Nos testes comparativ­os realizados em 1967, o Tigrão mostrou-se até mais econômico do que a versão 1200 em determinad­as situações. Para muitos fãs do Volkswagen, o Fusca “felino” é o que melhor atende à combinação custo/benefício, capaz de oferecer transporte seguro, rápido e extremamen­te barato.

O novo pacote da linha 67 também incluía novidade técnicas que passavam longe dos olhos do motorista. Para combater o fenômeno da auto-ignição, por exemplo, a Volkswagen passou a equipar os carburador­es com válvulas eletro-magnéticas, vedando o giclê de marcha-lenta. Quando a ignição está desligada, a agulha da válvula obstrui o orifício de passagem,

evitando a auto-ignição, que fazia o motor continuar funcionand­o mesmo desligando a ignição.

As primeiras unidades do Fusca 1300 ainda vinham com o sistema elétrico de 6 volts, que acabaria passando a 12 volts somente no segundo semestre de 1967. Se por um lado aquele foi um ano repleto de mudanças importante­s na evolução do besouro, os dois anos seguintes foram marcados pela estagnação. Exceto por detalhes quase irrelevant­es, como as peças madrepérol­a (volante, botões do painel, manopla de câmbio e de freio de estacionam­ento, ferragens e acabamento de maçanetas internas) agora também oferecidas em tonalidade­s creme e cinza, nada mudou no Sedan nacional fabricado em 1968 – nada, a não ser, é claro, a paleta de cores oferecida nas concession­árias e o revestimen­to do assoalho, alterado em meados daquele ano. Em 1969, o Fusca finalmente passou a sair de fábrica com o retrovisor externo, embora ainda apenas para a porta do motorista. ❖

Se por um lado 1967 surgiu repleto de novidades e avanços na evolução do Sedan nacional, os dois anos seguintes foram marcados pela estagnação, exceto pelo retrovisor externo lançado em 1969

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 ??  ?? Acima, farol baixo e alto com apenas um toque de dedos, novidade apresentad­a na linha do besouro de 1967
Acima, farol baixo e alto com apenas um toque de dedos, novidade apresentad­a na linha do besouro de 1967
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 ??  ?? À direita, a nova potência exigiu freios mais eficiêntes, que por sua vez exigiram novas rodas com furos para ventilação
À direita, a nova potência exigiu freios mais eficiêntes, que por sua vez exigiram novas rodas com furos para ventilação
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 ??  ?? A tapeçaria preto ainda era o padrão, mas o proprietár­io podia escolher também entre bancos na tonalidade branco Gelo e esse chamativo revestimen­to vermelho Turim
A tapeçaria preto ainda era o padrão, mas o proprietár­io podia escolher também entre bancos na tonalidade branco Gelo e esse chamativo revestimen­to vermelho Turim
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 ??  ?? Acima, a publicidad­e da época inspirou o apelido “Tigrão”. À direita, o sistema elétrico passou de 6 Volts para 12 Volts a partir do segundo semestre de 1967
Acima, a publicidad­e da época inspirou o apelido “Tigrão”. À direita, o sistema elétrico passou de 6 Volts para 12 Volts a partir do segundo semestre de 1967
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 ??  ?? A linha 1968 oferecia novas tonalidade­s para volante e botões de comandos no painel. Na segunda metade daquele ano, o besouro também ganharia novo revestimen­to de assoalho
A linha 1968 oferecia novas tonalidade­s para volante e botões de comandos no painel. Na segunda metade daquele ano, o besouro também ganharia novo revestimen­to de assoalho
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Os bancos são revestidos inteiramen­te em courvim, com padrão liso nas laterais e uma faixa de material rugoso no centro de assentos e encostos
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