Sedan 1300: fórmula básica, mas sucesso de vendas no Brasil
Simplificado ano a ano, o Fusca 1300 teve que enfrentar concorrentes mais modernos e atualizados. Mas sobreviveu aos anos setenta como uma opção barata e confiável
Quem analisa hoje o mercado de automóveis nacionais na década de 1970, inevitavelmente faz a pergunta: como pôde o Fusca 1300 sobreviver a tamanha concorrência, inclusive interna, de modelos fabricados pela própria Volkswagen? A resposta é simples: uma ficha limpa e confiável, calcada em anos de bons serviços prestados. Crédito esse que o tornava, na visão de muitos brasileiros da época, a melhor equação custo-benefício do mercado.
Lançado em 1967, o modelo viu seu “reinado” ameaçado pela primeira vez em julho de 1970, com o lançamento do Fuscão 1500. Na ocasião, publicações especializadas apontavam como questão de meses para a Volkswagen aposentar em definitivo a versão menos potente. Em vez disso, o Sedan 1300 ganhou visual semelhante ao do Fuscão e se manteve firme na liderança de vendas – apoiado, principalmente, pela melhor economia de combustível.
No ano seguinte, teve início uma política contraditória, cujas metas esbarravam em filosofias conflitantes: aumentar a segurança e, ao mesmo tempo, reduzir os custos industriais. Resultado? Para alcançar os objetivos traçados, cada vez mais se sacrificava o refinamento do acabamento. Assim, ano a ano o besouro nacional saía de fábrica com materiais de menor qualidade, bem como reduzidos acessórios de adornos.
A partir de 1971, a versão 1300 já se diferenciava da 1500 pela ausência do friso cromado no capô
dianteiro e pelas capas dos piscas pintadas na mesma tonalidade da carroceria – entre outros detalhes. Dois anos depois, o carro deixou de oferecer de série o sistema de aquecimento da cabine e as janelas traseiras basculantes.
MUDANÇAS PROFUNDAS
Detalhes de conforto como esses, tidos supérfluos, eram eliminados em favor da chegada de itens de economia e segurança, muitos deles exigidos pelas novas leis em vigor. A linha 1974 marcou o surgimento do sistema de ventilação dinâmica e do acelerador de duplo estágio, que ajudava a gastar menos combustível – assunto importante no auge da primeira crise mundial do petróleo. Já o ano de 1975 marcou a maior (r)evolução na trajetória da versão 1300. Um carro praticamente novo – apesar do visual aparentemente idêntico.
Devido às novas normas do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), as lanternas adotaram lentes monocromáticas vermelhas, enquanto o modelo passou a vir de fábrica equipado com pisca-alerta de emergência (acionado por um botão instalado à esquerda do cinzeiro). No campo da segurança, o Fusca 1300 ganhou para-brisa com ilha de segurança no vidro temperado e o mesmo conjunto de suspensão lançado com o Fuscão em 1970, com bitola traseira 62 mm mais larga – em contrapartida, o modelo continuava sem a opção de freio a disco
na dianteira. As novas rodas de quatro parafusos, iguais Às usadas no Fuscão 1500, também tiveram a tala aumentada de 4 para 4,5 polegadas, embora o visual ficasse mais pobre com o desenho de 20 aberturas de ventilação e a diminuta calota plástica conhecida como “copinho”.
Com relação à economia de combustível, a Volkswagen alterou distribuidor passando-o para tipo avanço misto (o carro deixou de engasgar em baixas rotações), elevou um pouco a taxa de compressão, modificou o filtro de ar e recalibrou o carburador (veja detalhes na “Evolução Técnica”). Resultado: um Fusca ainda mais econômico, capaz de rodar até 12,7 km com um litro de gasolina. Contudo, como todo investimento em melhorias exigia cortes de “perfumaria” na mesma medida, o besouro 1300 fabricado a partir de 1975 deixou de vir com faixas
Detalhes de conforto, tidos como itens supérfluos, eram eliminados em favor da chegada de componentes de economia e segurança, muitos exigidos por novas leis
pretas no centro dos para-choques e frisos cromados na extremidade dos estribos, além de eliminada a luz de cortesia interna sobre o banco do passageiro.
Para a linha 1976, a Volkswagen aposentou a versão 1500 e também o esportivo besouro 1600-S. Em seus lugares, surgia um novo Sedan “topo de linha”, batizado como Fusca 1600. Mais uma vez, surgiram
A partir de um momento, a versão mais básica do básico Fusca continuava a atrair um público cativo. E a Volkswagen já nem precisava investir em melhorias para manter a reta estável no gráfico de vendas
“ecos” no mercado apregoando que o fim do besouro 1300 estaria próximo. Mas o modelo se manteve firme – e já não estava mais sozinho, tendo agora a companhia da “luxuosa” versão 1300 L.
PÚBLICO FIEL
Nos anos seguintes, a versão básica do básico Fusca continuava a atrair um público cativo. E a
Volkswagen já nem precisava investir em melhorias para manter a reta estável no gráfico de vendas. Em 1977, por exemplo, a única novidade foi a alteração do módulo das engrenagens da quarta marcha, que passava a funcionar mais silenciosamente. No ano seguinte, 1978, toda a linha recebeu um novo tanque de combustível, com o bocal de abastecimento passando para o exterior do veículo pela primeira vez. Além disso, o besouro nacional recebia outras “modernidades” como a trava das portas em formato de pinos e maçanetas embutidas na forração.
E, em 1979 a versão 1300 ficou um pouco mais pobre com manivelas dos vidros plásticas e retrovisor externo também de plástico, preto. Além disso, a versão básica não ganhou as lanternas “Fafá” adotadas nas versões 1600 e 1300 L a partir da metade daquele ano, mantendo as lentes acrílicas pequenas utilizadas desde 1962. ❖