Sedan 1500 1974-75: sem luxo, Fuscão se despede do mercado
Quatro décadas após surgir no mercado, o VW “Fuscão” 1500 passou por sua mais profunda alteração de estilo – o que, para muitos, significou também o fim de seu charme...
Oano de 1974 reservou mudanças significativas no Fuscão, marcadas principalmente pelo rompimento de estilo, sofisticação e conforto que o modelo havia introduzido na linha do besouro quatro anos antes. Um downgrade que depunha contra tudo aquilo que tanto agradara aos proprietários e que, de fato, justificavam o nome do modelo em forma de superlativo.
A primeira e lamentável mudança ocorreu no painel, que deixou de vir com o charmoso acabamento em plástico que imitava madeira jacarandá. Em vez disso, o Fuscão repaginado a partir de 1974 trazia painel inteiramente revestido por uma capa de plástico preto fosco. Com ele, também desaparecia o clássico volante “cálice” com aro de buzina cromado, dando lugar a uma nova peça, de design mais simples, logo batizada como “bumerangue” – esse volante, na verdade, era o mesmo utilizado no recém-lançado VW Brasilia, mesmo modelo que “emprestava” o novo padrão dos bancos do Fuscão. No lugar dos assentos e encostos reforçados, com gomos altos, os bancos da versão 1500 do besouro passaram a ser revestidos com um courvim liso preto, que só não era mais pobre devido às listras em tonalidades de cinzas e de azuis existentes numa faixa central.
INTERIOR VENTILADO
O visual mais sóbrio do conjunto – ou menos charmoso, como queiram – também se estendia à aparência externa do modelo. A começar pelas novas rodas, que não vinham mais com as chamativas calotas grandes e cromadas substituídas por uma peça plástica tão sem-graça quanto pequena, logo apelidada de “copinho”.
Mas nem tudo regrediu no Fuscão reestilizado em 1974. Além das mudanças estéticas desaprovadas pela maioria dos fãs do modelo, a fábrica também apresentou naquele ano algumas novidades que, de fato, mostravam progresso na evolução do besouro nacional. De todas essas “boas no
vas”, o principal atrativo foi, sem dúvida, o sistema de aeração dinâmica da cabine, que funcionava da seguinte forma: o ar entrava por uma grelha localizada na base do para-brisa, refrigerava o interior por meio de difusores com aberturas para o motorista (sobre o velocímetro) e o passageiro (localizada abaixo da alça de mão, o famoso “PQP”), ambos com controle abre/fecha no painel, e saía por orifícios localizados nas colunas traseiras, após as janelas laterais.
Do lado de fora da carroceria, essas saídas de ar, emolduradas por um plástico preto em formato de lua crescente, ganharam o apelido de “orelhinhas”. É preciso também fazer distinção deste sistema de aeração com o antigo sistema de ar quente com saída nos cantos inferiores do pára-brisa e no assoalho dianteiro que sempre existiu no Volkswagen, mas que passou a ser opcional a partir de 1973, visando diminuir custos.
E as novidades não pararam por aí. A linha 1974 também oferecia pela primeira vez no Fusca nacional aperfeiçoamentos como
As mudanças surgidas em 1974 marcaram o rompimento do nível de sofisticação lançado quatro anos antes pelo Fuscão. Com acabamento mais pobre, o modelo voltou a se assemelhar à versão 1300
o limpador de para-brisa com duas velocidades e o sistema de acelerador com dois estágios, que tinha a finalidade de deixar o veículo mais econômico – sem perda de desempenho, numa época em que o preço da gasolina passou a pesar muito no bolso dos consumidores. Por isso também, a fábrica realizou uma nova calibração do motor, que resultou em melhora de consumo de combustível tornando o Fuscão capaz de alcançar média de até 12 km/litro.
CONCORRÊNCIA INTERNA
Apesar das novidades, algumas atitudes da Volkswagen davam claros sinais de que a vida comercial da versão 1500 estava chegando ao fim. Naquele mesmo ano de 1974, a fábrica lançou o 1600-S, também conhecido como “Super Fuscão” e “Bizzorrão”, equipado com motor de 1600 cm³ com dupla carburação e 57 cv (líquidos). A nova versão acelerava mais rápido e atingia velocidades superiores à do Fuscão 1500, e tudo isso sem gastar muito mais combustível. Nas reportagens de época, especulações sobre o fim da versão 1500 tornaram-se frequentes: “Um modelo que não conseguiu “aposentar” a versão 1300 será capaz de enfrentar o Super Fuscão?”, questionavam as publicações.
Ainda assim, Fuscão e Super Fuscão iniciaram o ano de 1975 lado a lado nas concessionárias. Como novidades na linha, apenas alguns detalhes necessários devido a uma nova resolução do Contran, que determinava a inclusão de luzes traseiras na cor vermelha e para-brisa de vidro temperado com ilha de segurança para garantir um mínimo de visibilidade em caso de quebra. Por causa disso, as lanternas deixaram de ser tricolores, sendo que a área superior laranja, que servia para a luz do pisca direcional, passou a ser vermelha, o que prejudicou a visibilidade do pisca-pisca durante o dia. Curiosamente, era esse o padrão obrigatório nos Estados Unidos naquela época e assim até hoje, típica imitação sem fundamento e nada benéfica...
A nova regulamentação também provocou uma alteração no interior, com a adoção de mais um botão no painel: o de acionamento
A concorrência “interna” com o Super Fuscão, além do 1300-L e do Fusca 1600 decretaram o fim da versão equipada com o motor de 1.500 cm³. E junto com ela a morte da denominação “Fuscão”
do pisca-alerta, colocado no lado direito do cinzeiro, feito de plástico vermelho transparente e com um triângulo branco pintado no centro. O extintor de incêndio também mudou de posição, passando a ser instalado no lado direito inferior. O teto ganhou um novo revestimento, assim como os para-sóis, maiores e com tecido preto na parte superior. Por fim, tanto o VW 1500 quanto o 1300 perderam o interruptor da luz interna na porta direita.
Além da convivência dos dois modelos “superlativos” do besouro, o ano de 1975 viu também o lançamento da versão 1300-L, que unia a economia do motor 1300 com o acabamento mais refinado e suspensão do Fuscão, inclusive a bitola traseira 62 milímetros maior. Um sucesso imediato. Além disso, de forma surpreendente, a Volkswagen anunciou no mês de junho o encerramento da produção do Super Fuscão. Em seu lugar, surgia – já como linha 1976 – o VW 1600, que nada mais era do que um Super Fuscão de visual “comportado”. Nos testes realizados na ocasião, este modelo se mostrou mais econômico do que a versão com motor 1500, que definitivamente já não tinha mais espaço no mercado. Em dezembro de 1975, o Sedan Volkswagen com motor de 1.493 cm³ deixava de existir, assim como a denominação “Fuscão”. ❖