Carros Clássicos (Brazil)

Sedan 1600: injeção de ânimo e potência no besouro nacional

Com o advento do motor 1600, o Fusca nacional conheceu o “coração” que o acompanhar­ia até o fim de sua produção no Brasil

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Oano de 1975 marcou importante­s acontecime­ntos na trajetória do Sedan nacional: no mês de junho, a Volkswagen anunciou o fim da produção da versão esportiva 1600-S, também conhecida como Super Fuscão e Bizorrão e que ficou cerca de um ano e meio no mercado. Como substituto, já como linha 1976, a fábrica apresentou o Fusca 1600, que nada mais era do que um Super Fuscão, equipado com o mesmo motor de 1.600 cm³ de dupla carburação, porém com um visual mais “comportado”.

Durante os seis meses seguintes, o novo modelo conviveu lado a lado com a outra versão topo de linha do besouro nacional: o Fuscão 1500. Mas a comparação inevitável logo mostrou que não havia espaço para ambos nas concession­árias. Nesta “guerra caseira”, além de agradar pelo melhor desempenho, a versão 1600 também se mostrou mais econômica que a equipada com o motor de 1.493 cm³. Com isso, no fim daquele ano, o Sedan 1500 deixou de existir, assim como a denominaçã­o Fuscão.

PESQUISA DE MERCADO

Na verdade, o surgimento da versão 1600 que “aposentou” os superlativ­os como Fuscão, Super Fuscão e Bizorrão fez parte de um

bem-elaborado plano de marketing da Volkswagen do Brasil. E se não trazia atrelado ao nome nenhuma alcunha que engrandece­sse a palavra Fusca, ficou com o mérito de inaugurar a configuraç­ão que acompanhar­ia o besouro nacional até o fim de sua carreira comercial – incluindo a Série “Itamar”.

De início, a imprensa especializ­ada ainda insistiu em definir o Fusca 1600 como o novo Fuscão, mas a própria fábrica deixou de utilizar a nomenclatu­ra na publicidad­e do modelo, fazendo com que o superlativ­o rapidament­e caísse em desuso. Ao que parece, a ideia da fábrica foi procurar reforçar a imagem do Fusca oferecendo duas opções de motor (1300 e 1600) para o comprador. Aquele que desejasse economia de combustíve­l, uma grande preocupaçã­o naquela época, optaria pelo motor menor, mas quem ainda preferisse desempenho poderia obter isso com o motor maior.

Lançado oficialmen­te em julho de 1975, já como modelo 1976, o Fusca 1600 de dupla carburação foi a evolução natural do Bizorrão. Segundo a própria fábrica definiu na época, o Super Fuscão 1600-S, lançado em outubro de 1974, jamais foi pensado como uma versão de vida longa, mas sim como uma experiênci­a para sentir a reação do público. Se desse errado, a Volkswagen simplesmen­te seguiria com o Fuscão 1500 e encerraria a produção desta versão mais “esportiva”, que entraria para a história como mais uma das muitas versões especiais do besouro nacional – como foram as monocromát­icas do início da década de 1960 e do Pé de Boi...

Vale lembrar também que a receita do novo modelo não era propriamen­te nenhuma novidade, já que preparador­es do Brasil inteiro estavam “envenenand­o” besouros com essas caracterís­ticas; ou seja,

aumentar a cilindrada de um motor Volkswagen para 1600 cm³ e adaptar um segundo carburador ou então colocar dois maiores.

Os planos iniciais da Volkswagen previam a produção de apenas 3 mil unidades da versão esportiva 1600-S. Mas o mercado surpreende­u as expectativ­as, com o Bizorrão chegando a quase 5 mil unidades vendidas no curto período de seis meses. Esse sucesso imediato era o sinal verde que a fábrica esperava para lançar a versão 1600 “definitiva”.

DESEMPENHO FAVORÁVEL

Sob outro ponto de vista, é possível afirmar que o novo Fusca 1600 nada mais era que a “fusão” do Fuscão com o Super Fuscão. Isso porque o modelo acabou herdando caracterís­ticas visuais e técnicas de cada um desses modelos. Externamen­te, por exemplo, ganhou as mesmas rodas adotadas no Super Fuscão, com aro de 14 polegadas e tala de 5 polegadas (mais largas que as habituais e com desenho igual às rodas usadas no Brasilia e no SP2).

A antiga versão “apimentada” do Bizorrão também forneceu a grafia do velocímetr­o e do marcador do nível de combustíve­l no painel (com fundo preto, números brancos, ponteiro vermelho e graduação até 160 km/h), assim como a ausência do botão do afogador (necessário nas versões 1500, mas não no 1600 de dupla carburação, que tinha afogador automático).

De resto, incluindo todo o acabamento interno, as primeiras unidades do novo Fusca 1600 eram visualment­e idênticas ao Fuscão 1500 fabricado até o final de 1975. Quanto à mecânica, o motor de 1600 cm³ com dupla carburação e 54 cv de potência líquida era o mesmo que havia equipado o Bizorrão. A suspensão e a transmissã­o também seguiam sem modificaçõ­es, continuand­o iguais às do Fuscão 1500.

Em testes realizados na época, o Fusca 1600 agradou pela elasticida­de do motor e atingiu velocidade máxima de 139 km/h, marca bem superior às obtidas pelo Fuscão 1500 (125,8 km/h), pelo Brasilia (134,3 km/h) e pela Variant (136,3 km/h). Na aceleração, o Fusca 1600 levou vantagem sobre todos os outros modelos Volkswagen

Em testes realizados na época, o 1600 agradou pela elasticida­de do motor e pela velocidade máxima de 139 km/h – 13 km mais veloz que a média do antigo Fuscão 1500

refrigerad­os e ar, acelerando em 17,2 segundos de 0 a 100 km/h. Superando não só o Fuscão 1500 (23,1 segundos), mas também esportivos como o Karmann-ghia TC (21,3 segundos) e até mesmo o SP2 (18,3 segundos) que era equipado com motor 1700!

De quebra, o modelo mostrou-se mais econômico que a versão 1500, além de vir freio a disco nas rodas dianteiras de série (no Fuscão era opcional), gerando mais segurança, já que as rodas mais largas proporcion­am maior área de atrito ao solo. Com isso, a versão 1600 freou a 100 km/h e levou 42,5 metros para parar. No mesmo teste, o Fuscão 1500 percorreu 48,6 metros).

MUDANÇAS NA LINHA

Em 1977, o modelo recebeu diversas novidades, sobretudo no acabamento interno. A começar pelos bancos, que passaram a mesclar courvim com uma faixa central em tecido aveludado. A forração do teto mudou para cinza escuro, enquanto o assoalho ganhou carpete no lugar do tradiciona­l revestimen­to de borracha.

No painel, uma indicação luminosa monitorava o novo circuito duplo de freio que acionava as rodas dianteiras e traseiras separadame­nte. Em nome da segurança, a linha 1977 também ganhou coluna de direção retrátil que, em caso de colisão, reduzia os riscos ao motorista, além de reforços estruturai­s na carroceria e no chassi.

Já a linha 1978 trouxe como principal novidade a transferên­cia do bocal do tanque de combustíve­l do interior do porta-malas para a lateral externa da carroceria. O modelo ganhou ainda novas forrações internas de portas, com as maçanetas embutidas, além de travas em formato de pino. No painel, o interrupto­r do pisca-alerta de emergência migrou de cima do rádio para uma pequena alavanca na coluna de direção.

Na segunda metade de 1979, a versão perderia uma de suas maiores identidade­s visuais: as lanternas “pata de cavalo”, lançadas junto com a extinta linha do Fuscão, em 1970. Em seu lugar, surgiram as não menos populares lanternas “Fafá”, que acompanhar­iam o besouro nacional até o fim de sua produção... ❖

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“pata de cavalo”
O Fusca 1600 nada mais era do que a versão “comportada” do Super Fuscão (1600-S), inclusive nas rodas com desenho semelhante às do Brasilia e nas lanternas “pata de cavalo”
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Em 1977, os bancos passaram a mesclar courvim com tecido aveludado
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O velocímetr­o de fundo preto também foi uma “herança” recebida da versão Bizorrão 1600-S
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