Carros Clássicos (Brazil)

Máxima evolução: a curiosa Família Tipo 4 alemã

Em meados dos anos sessenta, a VW iniciou o desenvolvi­mento do modelo considerad­o como o último e mais avançado projeto derivado do Fusca

- (Roberto Marks)

Ao assumir o controle acionário da Auto Union, em 1964, a VW tinha como objetivo básico utilizar a fábrica de Ingolstadt para aumentar sua capacidade de produção, em especial a do Fusca, e assim poder suprir a demanda mundial pelo besouro, que não parava de crescer. Sem demonstrar nenhum interesse pelos modelos que eram fabricados na ocasião pela Autounion, o DKW F102 e o seu sucessor Audi F103, o comando da empresa em Wolfsburg decidiu encerrar a produção destas linhas, além de não dedicar, a princípio, nenhuma preocupaçã­o com o desenvolvi­mento de novos modelos para a tradiciona­l marca.

Para suceder os modelos da Auto Union no mercado, Nordhoff autorizou o projeto daquela que pode ser considerad­a como a última e mais avançada proposta de derivado do Fusca: o VW 411, apesar deste só ter em comum com o popular besouro o motor refrigerad­o ar acoplado ao transeixo montado na traseira. Por outro lado, a nova família 4 trazia uma série de novidades em se tratando de VW naquela ocasião. Para começar, o sedã 411 foi o primeiro modelo da marca lançado com quatro portas, apesar de também ter a versão com duas portas, que era a proposta original do projeto. Além disso, a nova família – apresentad­a no Salão de Frankfurt de 1967 – não vinha com o chassi-plataforma do Fusca, mas com uma estrutura monobloco desenvolvi­da para concorrer no disputado segmento mé

dio do mercado europeu. A campanha de lançamento destacava se tratar de um modelo de luxo com a reconhecid­a economia e confiabili­dade do Fusca, mas com mais espaço e estilo.

PROPOSTA ARROJADA

A estrutura monobloco, entretanto, não se tratava de nenhuma novidade para a VW, já que o sistema era utilizado na Kombi desde seu lançamento, mas se refletia diretament­e no espaço dentro da cabine do 411, bem maior do que nos modelos da família Tipo 3 proporcion­ando mais conforto. Também contribuía para isso o maior entre-eixos, de 2.500 mm, 100 mm a mais do que o do chassi-plataforma do Fusca que equipava os modelos Tipo 3. Ainda no que se refere ao conforto, o sistema de suspensão também era totalmente diferente, sem os tradiciona­is braços arrastados duplos com barras de torção na dianteira, substituíd­os por suspensão tipo Mcpherson e por uma moderna estrutura de braços arrastados na traseira, sistema idêntico ao utilizado no Porsche 911, mas com molas helicoidai­s como elemento elástico em vez de barras de torção. Além de um rodar mais suave, esta suspensão proporcion­ava melhor estabilida­de direcional e nas curvas.

Mas se foi arrojada no projeto da carroceria monobloco e nos sistemas de suspensão e freio, que já eram a disco na dianteira e po

O Volkswagen 411 pode ser considerad­o o último e mais avançado derivado do Fusca, apesar de as semelhança­s entre os dois modelos ficar no fato de ambos serem equipados pelo motor a ar acoplado na traseira

diam vir opcionalme­nte com servofreio, a VW foi tremendame­nte tímida no que se refere ao motor aumentando ligeiramen­te a cilindrada em relação aos modelos da família Tipo 3 para 1.679 cm³ (90 x 66 mm) o que resultou em potência de 68 cv a 4.500 rpm e que se refletia em velocidade máxima de apenas 145 km/h na versão com câmbio manual de quatro marchas e 142 km/h na versão com transmissã­o automática de três marchas, que a VW já havia desenvolvi­do para o mercado americano. Este foi para muitos especialis­tas um grande erro e que afetou diretament­e nas vendas, bem abaixo do estimado pelo comando da empresa.

SISTEMA DE INJEÇÃO

Para solucionar a falta de potêntavam cia foi tomada outra decisão arrojada, para a época, com a adoção de sistema de injeção de combustíve­l nas versões 411E e LE, lançadas em 1969 juntamente com a camioneta Variant. Isso aumentou a potência para 80 cv a 4.900 rpm refletindo em velocidade máxima de 155 km/h (câmbio manual) e 152 km/h (automático). Mas este paliativo não funcionou, já que elevou o preço do carro bem mais do que proporcion­ou em ganho de desempenho. Além disso, o sistema Bosch D-jetronic exigia verificaçõ­es constantes para manter a regulagem correta que garantisse desempenho e consumo compatívei­s. Mas a maior crítica aos modelos da família Tipo 4 era o elevado ruído interno devido ao posicionam­ento do motor, praticamen­te dentro da cabine, problema que não enfren

Um dos motivos para o insucesso da Família Tipo 4 é atribuído ao fato de os modelos terem sido lançados tarde demais. “Quatro portas onze anos atrasadas”, costumavam brincar os alemães na ocasião...

seus concorrent­es diretos.

Tudo isso limitou o mercado para esta família de modelos praticamen­te a quem já possuía outro VW. Pesquisas da época mostraram que cerca de 80% dos compradore­s do Tipo 4 já eram clientes da VW e escolheram o modelo como forma de upgrade. Assim, a proposta de tentar cativar clientes de outras marcas, em especial dos modelos da Auto Union desativado­s, não vingou. Além disso, a versão mais luxuosa 411 LE era mais cara que a versão topo de linha do Opel Rekord – modelo do qual derivou o Opala –, apesar deste ser mais potente e veloz. Mas, se fracassou no mercado alemão e europeu, a família Tipo 4 curiosamen­te obteve razoável sucesso no mercado americano, no qual foram vendidas cerca de 120 mil unidades em quatro anos, e também na África do Sul, onde passou a ser montada a partir de 1969.

URSO NARIGUDO

No fim de 1971 a VW ainda tentou fazer uma última tentativa para salvar o Tipo 4, com o lançamento da linha 412 com um novo motor de 1.795 cm³, mas somente dois carburador­es, o que resultou no aumento de potência para 75 cv na versão básica e 85 cv na versão S, mais esportiva. Isto, porém, pouco se refletiu em ganho de velocidade final. Na mesma época também foi redesenhad­o o frontal desta linha, outro ponto que recebeu muitas críticas desde seu lançamento. Tanto que, na gíria alemã da época o Tipo 4 era chamado de “Nasenbär”, o que pode ser traduzido ao pé da letra como “urso narigudo”. Tudo isso, acabou provocando o encerramen­to da produção desta linha na primeira metade de 1974, pois ela foi sucedida pelo Passat, lançado em 1973 com motor de refrigeraç­ão líquida e tração dianteira.

Segundo dados da Volkswagen, em cerca de seis anos de produção foram montadas pouco mais de 360 mil unidades da primeira família Tipo 4 e, apesar de ter frustrado os objetivos da marca, não se pode negar sua importânci­a na trajetória de evolução mecânica da família VW a ar. Talvez, um dos motivos de tamanho insucesso for por ter sido lançado tarde demais. Tanto que os alemães também se referiam ao 411 como: “Vier türen elf jahre zu spät”, ou “Quatro portas onze anos atrasadas”. Desta forma se referiam ao fato do primeiro VW de 4 portas ter sido lançado exatamente onze anos após o Auto Union 1000, o DKW de plataforma F94 mais luxuoso que chegou ao mercado alemão em 1957. ❖

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 ??  ?? Ao contrário da Família Tipo 3, a linha 411 não possuía uma versão de três volumes, apenas a perua Variant e o modelo Fastback
Ao contrário da Família Tipo 3, a linha 411 não possuía uma versão de três volumes, apenas a perua Variant e o modelo Fastback
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A concepção de construção, com estrutura monobloco, refletia diretament­e no amplo espaço interno dos modelos 411, bem mais confortáve­is que a antiga Família Tipo 3 derivada diretament­e do besouro
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 ??  ?? Embora tenha “falhado” no mercado alemão, a família Tipo 4 obteve relativo sucesso nos EUA e também na África do Sul, onde passou a ser montada a partir de 1969
Embora tenha “falhado” no mercado alemão, a família Tipo 4 obteve relativo sucesso nos EUA e também na África do Sul, onde passou a ser montada a partir de 1969
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