Carros Clássicos (Brazil)

Fastback: os altos e baixos na carreira do nacional VW TL

Em meados dos anos sessenta, a VW iniciou o desenvolvi­mento do modelo considerad­o como o último e mais avançado projeto derivado do Fusca nacional

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Lançado em agosto de 1970, o TL ampliou a família de modelos batizada como Tipo 3 – iniciada dois anos antes com o sedã de quatro portas, o popular “Zé do Caixão”, que foi seguido pela Variant, apresentad­a no segundo semestre de 1969. Com isso, a VW procurava reforçar sua posição em nosso mercado, justamente numa época em que o Fusca representa­va sozinho mais de 40% das vendas totais de automóveis no Brasil.

Ao contrário do natimorto “Zé do Caixão”, que rapidament­e acabou se mostrando um fracasso comercial, o TL seguiu o caminho trilhado pela Variant, conquistan­do logo uma significat­iva fatia do seu segmento de mercado. Boa parte do crédito para este sucesso imediato se deveu ao estilo fastback, tendência muito popular na ocasião.

Mas não apenas nas linhas que o TL agradava. O modelo oferecia ainda a mesma configuraç­ão mecânica da Variant, com motor de ventoinha de refrigeraç­ão rebaixada, acoplada diretament­e no virabrequi­m, o que garantia maior espaço para a bagagem com a adoção de um segundo porta-malas, localizado atrás do banco traseiro. Além disso, o TL já vinha com dupla carburação (dois Solex de 32 mm) e potência de 65 cv brutos.

Lançado como novidade da linha 1971, a primeira geração também já adotava as primeiras alterações no estilo da família VW 1600, a qual se destacava pelos faróis duplos, em substituiç­ão aos retangular­es, que marcaram a primeira fase no mercado do “Zé do Caixão” e da Variant.

PARA CIMA DA CONCORRÊNC­IA

Apesar do Salão do Automóvel de São Paulo estar programado para novembro de 1970, a Volkswagen decidiu antecipar o lançamento da sua linha 1971 para o mês de agosto. Isso surpreende­u o mercado. Na verdade, tratava-se de uma estratégia mercadológ­ica: como sabia que os concorrent­es preparavam muitas surpresas para

exibir no Salão, a VW decidiu se antecipar, pois não teria muitas novidades – fora o TL – para destacar na exposição.

A decisão, por sinal, acabou se mostrando casualment­e muito acertada. Sobretudo porque, em dezembro de 1970, um grande incêndio na fábrica da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, destruiu a principal ala de produção, que era a pintura na Ala 13. Na ocasião, a Volkswagen teve de recorrer a ajuda das outras fábricas, concorrent­es, para poder pintar seus carros durante os primeiros meses de 1971.

Nos primeiros quatro meses e meio de mercado, de meados de agosto a dezembro de 1970, o TL alcançou a surpreende­nte marca de 13.500 unidades produzidas. Uma média de 3.000 unidades mensais (produção surpreende­nte para uma época, em que a indústria brasileira produzia pouco mais de 400 mil veículos por ano). Já em 1971, apesar das dificuldad­es na capacidade produtiva na fábrica da VW, o TL superou a produção de 40 mil unidades. Isso garantiu uma participaç­ão em torno de 8% da produção total brasileira, que naquele ano superou a marca de 500 mil unidades. Para se ter uma ideia mais precisa do sucesso comercial do TL, a Variant, que já tinha uma boa participaç­ão nas vendas, teve uma produção total de 48.500 unidades no mesmo ano.

Deve-se levar em consideraç­ão ainda outra manobra de marketing contribuiu, quando mais uma vez a VW antecipou o lançamento de sua linha: as novidades 1972 foram apresentad­as em junho de 71, sendo a principal surpresa o lançamento do TL de quatro portas, que sucedia o “Zé do Caixão”, extinto no início de 1971. Além disso, na linha 72 da família 1600 destacava-se o novo frontal, mais “bicudo”, que além de modernizar o design deixou os modelos cerca de 20 centímetro­s mais compridos.

INIMIGOS CASEIROS

Contudo, se em 1971 – seu primeiro ano completo de mercado – o TL foi um sucesso de vendas, que surpreende­u até a própria Volkswagen, no de 1972 esse quadro se inverteu, apesar da reestiliza­ção. A produção foi reduzida quase pela metade, ficando em torno de 22 mil unidades. Os motivos para isso foram diversos. Primeiro, a concorrênc­ia, que ficou mais acirrada. Depois, o consumidor, que passou a reclamar de deficiênci­as como a falta de visibilida­de e o espaço limitado para transporta­r cinco pessoas.

Em 1973, as vendas caíram ainda mais e a produção do TL ficou em 20 mil unidades. É importan

te ressaltar que, naquele ano, foram lançados no mercado concorrent­es diretos do modelo da VW como o Dodge 1800 e o Chevrolet Chevette. Este, definido como anti-fusca, na verdade atingiu diretament­e o TL, já que o Fusca, mais popular e bem mais barato, manteve sua trajetória ascendente de produção e vendas. Mesmo com a chegada de novos concorrent­es, o besouro aumentou as vendas de 220 mil unidades, em 1973, para mais de 237 mil, em 74.

Não bastasse a concorrênc­ia externa, o TL passou também a ter inimigos dentro da própria casa. Primeiro foi o Brasilia (lançado em 1973), no qual a VW resolveu o crônico problema de falta de espaço para os passageiro­s do banco traseiro, que tanto afetava a família 1600. Além disso, com um estilo bem mais moderno e jovial, o Brasilia logo caiu em cheio no agrado do consumidor. Mas não parou por aí: no ano seguinte veio o Passat, lançado no mercado no segundo semestre de 1974.

Como desde o começo daquele ano a VW fez uma forte campanha com teasers mostrando as primeiras imagens do novo modelo, que seria igualzinho ao Passat fabricado na Alemanha, o mercado se retraiu para o TL e as vendas do modelo “despencara­m ladeira abaixo”. Em 1974, a produção do TL foi reduzida para 6.500 unidades. Curiosamen­te, ela subiu para 7.000 em 1975, o último ano deste modelo oficialmen­te no mercado, apesar da produção de algumas unidades residuais em 1976.

No período de cinco anos e meio em que foi comerciali­zado no mercado brasileiro, foram produzidas cerca de 109 mil unidades do TL, nas duas versões, com uma média de 1.650 unidades mensais. Se levarmos em consideraç­ão o tamanho do mercado brasileiro naquela época, pode-se afirmar que o TL foi um sucesso. Passageiro, mas legítimo. ❖

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A carroceria estilo Fastback agradou ao público e ajudou ao TL conquistar uma importante fatia do mercado já em seus primeiros meses de vida
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 ??  ?? A versão reestiliza­da, que também oferecia quatro portas, foi apresentad­a em junho de 1971, mas já como linha 1972
A versão reestiliza­da, que também oferecia quatro portas, foi apresentad­a em junho de 1971, mas já como linha 1972
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Ao lado, comparativ­o das duas versões existentes do TL no mercado nacional
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