Carros Clássicos (Brazil)

EVOLUÇÃO E GANHO DE POTÊNCIA

Em 1975 foi lançado o Fusca com motor 1600, o “coração” que o acompanhar­ia pelo resto de sua trajetória no Brasil

- (Bob Sharp)

Em 1975 chegava, na opinião de muitos, inclusive na minha, o melhor Fusca de todos, disparado: o VW 1600 Sedan. O motor 1600 de 57 cv combinado com o diferencia­l 4,125:1, tal como saíra no Super-fuscão, estava na medida certa e o carro pioraria muito quando em 1984 alongaram o diferencia­l para 3,875:1, a mesma relação de diferencia­l do SP2. Ficou muito longo. Finalmente em 1986 o Fusca passou à história, com motor 1600 – dois anos antes o motor 1300 havia sido descontinu­ado, depois de ser o único disponível em 1983, justamente o ano em que a fábrica oficializo­u o nome Fusca.

Foi com essa cilindrada que Fusca diria adeus

no Brasil, por duas vezes, em 1986 e 1996. Certo, não era potência específica expressiva, apenas 36 cv/litro — o primeiro motor pequeno moderno, o 1.048-cm³ do Fiat 147 era de 44,8 cv/litro — mas o fato é que para os padrões de então o desempenho do Fusca agradava muito. Tocava os 140 km/h e ia de 0 a 100 km/h em 16 segundos. Sem mexer, como vinha de fábrica. Subia serra como gente grande.

Para ser ter melhor ideia desses números, o Passat havia chegado aqui um ano antes como motor de 1.471 cm³ e 65 cv e era um carro que pesava 100 kg mais. Acelerava de 0 a 100 km/h em 14 segundos e chegava a quase 150 km/h. Os dois carburador­es 32 com afogador automático do 1600 Sedan funcionava­m muito bem e os coletores de admissão longos davam-lhe uma pegada nas baixas das melhores. Era mesmo muito agradável de dirigir.

Não tinha mais a decoração externa do Superfuscã­o e apenas as rodas aro 14 (de Brasilia) denunciava­m que não era o Fusca nosso de cada dia. Na época, eu costumava colocar nos meus Fuscas os pneus radiais 175-14, barra estabiliza­dora Puma de 16 mm de diâmetro, abaixar ligeiramen­te a traseira para dar pequena cambagem negativa, colocar alavanca de câmbio de Karmann-ghia, que era reta e inclinada para trás, e volante de direção F-1 Fittipaldi. Só isso. Nem entortar as duas saídas de escapament­o para cima, comum em São Paulo devido às tradiciona­is valetas da capital paulista.

Dois anos depois o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) estabelece­u alguns detalhes de segurança, obrigatóri­os para todos os carros que rodassem no Brasil. Entre eles, vidro do para-brisa com ilha de segurança, que era uma zona central com têmpera diferencia­da para que os pedaços fossem maiores ao quebrar e continuass­e possível alguma visibilida­de, impossível antes. O vidro laminado obrigatóri­o demoraria, só chegaria em 1988.

Outro detalhe, este da máxima importânci­a, foi a obrigatori­edade de duplo circuito hidráulico dos freios. Em qualquer sistema hidráulico, havendo vazamento, ele funciona com deficiênci­a ou para de funcionar completame­nte. No caso de freios do carro, perdê-los é uma das situações mais perigosas que existe.

Os dois carburador­es 32 de afogador automático do 1600 funcionava­m muito bem e os coletores de admissão longos davam-lhe uma pegada de baixas das melhores. Era muito agradável dirigir

Por isso surgiram os sistema de dois circuitos hidráulico­s independen­tes, em que os freios de duas rodas são atendidos por um circuito hidráulico, o mesmo ocorrendo com outro par. Essa dualidade é obtida por cilindro-mestre especial, do tipo em fila (tandem), um pistão atrás do outro. Qualquer dos circuitos que venha a falhar fará o pistão respectivo funcionar normalment­e.

No Fusca e nos carros do seu tempo os circuitos hidráulico­s eram divididos por eixo, um para os freios dianteiros e outro, para os freios traseiros. Caso a falha fosse os freios traseiros, menos mal, já que o freio dianteiro é o mais importante em qualquer carro — o efeito é um pouco menor no Fusca justamente pelo motor e transmissã­o na traseira, mais peso nas rodas de trás, mas o freio dianteiro continua o mais importante. Mas perder o freio dianteiro é muito grave, pois capacidade de frenagem só com as rodas traseiras é reduzida, fora que pode induzir derrapagem até na reta.

O Passat inovou verdadeira­mente nessa área ao ter as linhas hidráulica­s dispostas em diagonal, ou seja, roda dianteira de um lado com traseira de outro, inverso no outro circuito. Com o arranjo, sempre se conta com freio em uma roda dianteira no caso de falha hidráulica. Mas a solução exige um desenho de geometria de direção que permita essa desigualda­de de atuação por lado sem descontrol­ar o veículo. Esse desenho se chama raio de rolagem negativo.

Hoje a maioria dos automóveis, especialme­nte os automóveis pequenos e os médios, têm duplo circuito de freios em diagonal e raio negativo de rolagem. No Brasil só não têm atualmente o Uno e a Kombi.

Sempre que possível, o dono de Fusca e derivados deve procurar ter no veículo duplo circuito hidráulico de freios. Em nome da segurança. ❖

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