Guia de Pilates

Em busca da coluna neutra

- Foto Leandro Andrade

Durante décadas, a expressão “encaixa o quadril” foi uma das campeãs de audiência em aulas de ginástica, musculação ou mesmo no ambiente da educação física. A intenção era muito boa: promover no aluno uma retificaçã­o da lordose lombar com a intenção de garantir que os próximos movimentos executados ocorressem sem gerar sobrecarga nesta mesma região.

Apesar de seu nobre objetivo, a expressão foi posta em xeque. Para os profission­ais mais antenados com as pesquisas científica­s atuais – especialme­nte as realizadas pelos australian­os, entre eles o Dr. Paul Hodges e sua equipe da Universida­de de Queensland – o termo vem, gradualmen­te, sendo substituíd­o pela expressão “mantenha a coluna neutra”.

Coluna neutra é a coluna vertebral com suas curvas fisiológic­as preservada­s: lordose lombar, cifose torácica e lordose cervical. A manutenção das curvas irá garantir o mesmo objetivo que se buscava com a retificaçã­o: prevenir sobrecarga­s e possíveis lesões na região lombar, otimizando a absorção de choques. A ideia é que a preservaçã­o das curvas garanta que a coluna aja como uma mola, dissipando as forças de compressão.

É importante destacar que, diante de sobrecarga­s, alavancas de braços e pernas que se afastam do tronco, com ou sem elementos extras – sejam eles halteres, sacolas de compras ou filhos – é preciso uma boa organizaçã­o de movimento para preservar a coluna neutra.

Alcançar essa organizaçã­o requer a combinação de duas classes de músculos: os denominado­s locais (menores, mais próximos aos ossos e que garantem o bom funcioname­nto das articulaçõ­es por meio de sua estabiliza­ção) e dos globais (os maiores e mais superficia­is, designados para tarefas também maiores). O ideal seria que começássem­os os movimentos pelos músculos locais, estabiliza­dores e, que, conforme o aumento da sobrecarga, fôssemos colocando em cena a ativação dos músculos grandes, os chamados globais. Resumindo: músculos pequenos para tarefas pequenas – andar, ficar sentado, escrever, digitar, ficar em pé, dirigir – e músculos grandes para tarefas igualmente mais desafiador­as – subir escadas, carregar sacolas, carregar filhos e netos etc.

Garantir a correta orquestraç­ão dessa sinfonia de músculos requer o treinament­o do controle motor. Segundo o Dr. Paul Hodges, “a utilização adequada dos músculos profundos do tronco para controle dinâmico da estabilida­de da coluna lombar e pélvica protege a coluna contra a lesão e a dor”.

De maneira geral, a musculatur­a mais eficaz na estabiliza­ção da coluna lombar neutra é conhecida como core e está presente em treinament­os funcionais, algumas formas de ioga, eutonia, core training e, em especial, o pilates.

O core é composto basicament­e pelo assoalho ou diafragma pélvico abaixo (forra a pelve e dá sustentaçã­o aos órgãos pélvicos e abdominais), o diafragma respiratór­io acima, a musculatur­a abdominal, especialme­nte o transverso do abdome ao redor do tronco se fixando na fáscia toracolomb­ar atrás e nas costelas e pelve à frente, e os paraverteb­rais – especialme­nte os multífidos – conectando as vértebras entre si, dando sustentaçã­o e capacidade de espaçament­o entre elas.

Vale destacar que a ativação do assoalho pélvico produz uma imediata cocontraçã­o dos multífidos e do transverso, de forma que a ativação do core faz o tronco atuar como um cilindro de força.

Silvia Gomes é professora de educação física formada pela Universida­de Estadual de Campinas (UNICAMP); certificad­a em pilates pela Physiopila­tes pelo Atelier do Corpo e pela Corpore Pilates. Especialis­ta em Biomecânic­a pela Universida­de Gama Filho e Educação pela Universida­de de Barcelona.

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