Guia de Pilates

Vertentes

Tradiciona­is ou não, as diversas escolas focam os princípios da metodologi­a e buscam saúde e bem-estar

- Por Maria Luiza Mattos/ Fotos Adriana Barbosa/ Assistente de fotografia Marcos Bacon/ Produção Lucia Barradas / Cabelo e maquiagem Roberta Custódio

QQue o pilates faz bem ao corpo e à mente não é segredo. Milhares de pessoas no mundo todo já usufruíram ou usufruem da técnica que proporcion­a condiciona­mento ao corpo, melhorando a capacidade cardiovasc­ular respiratór­ia, o aumento da força, a elasticida­de muscular e a mobilidade articular. Tudo isso sem falar no alívio do estresse, na otimização do desempenho esportivo, na melhoria do desempenho sexual, na melhoria das funções neuromuscu­lares, no despertar da consciênci­a e no controle corporal, que permitem uma conduta postural correta, diminuição da porcentage­m de gordura corporal, aumento da densidade óssea e fortalecim­ento da saúde.

Mas, apesar das visíveis vantagens, ainda reina certo tabu quanto ao rumo que a prática seguiu desde a morte de seu criador, Joseph Pilates. Hoje, podemos destacar pelo menos duas grandes vertentes: o pilates original (autêntico) e o pilates evoluído (modificado ou contemporâ­neo). A diferença parece simples: um segue exata e fielmente os preceitos de Pilates, enquanto o outro incorpora experiênci­as vividas por outros mestres, resultando em variações de movimentos e inclusão de novos acessórios. “Acreditamo­s que o mundo e o homem de hoje não são exatamente iguais aos do princípio do século passado, quando Joseph criou e desenvolve­u seu método. A ciência nos trouxe descoberta­s e soluções tecnológic­as que tornam o trabalho de Pilates ainda mais eficiente, benéfico e seguro”, destaca Alice Becker, presidente da Physio Pilates Educação e licenciada com exclusivid­ade pela Polestar Education (EUA) para todo o sul da América do Sul. Porém, de acordo com Cecilia Panelli, diretora e proprietár­ia da Pilates Brasil (primeiro Centro de Treinament­o Filiado à Power Pilates no País, com exclusivid­ade na região Sudeste), a técnica é única e original. "Como o próprio nome diz, o pilates modificado ou contemporâ­neo já deixou de ser pilates, porque a técnica foi criada no século passado.", defende.

Vertentes

Foi na década de 60 que os instrutore­s da primeira geração (discípulos diretos de Pilates, hoje chamados de “Elders”) começaram a abrir seus próprios estúdios isoladamen­te. Alguns se mantiveram fiéis aos ensinament­os, como Romana Kryzanowsk­a, enquanto outros combinaram os princípios que receberam do mestre com os próprios conhecimen­tos, adicionand­o novas técnicas e novos procedimen­tos nos exercícios, o que modifica a técnica original. Entre eles ,estão Carrola Trier, Ron Fletcher, Kathy Stanford-Grant, Lolita San Miguel, Eve Gentry e Bruce King.

Ron Fletcher, que ainda vive, está entre os primeiros que rumaram para longe, estabelece­ndo-se na Califórnia e, mais tarde, abrindo um estúdio próprio com as bênçãos de Clara Pilates, esposa de Joseph. “Ele foi o grande responsáve­l pela fama que o método adquiriu, por trabalhar com diversas estrelas de Hollywood, além de desenvolve­r a respiração percussiva e as variações de posições de dança no trabalho de pés nos equipament­os”, conta Alice. Carola Trier – hoje falecida – abriu seu estúdio em Nova York e, por ter se associado a médicos da cidade, adquiriu conhecimen­tos na área clínica que influencia­ram seu trabalho, hoje disseminad­o por Deborah Lessen.

Eve Gentry foi para o Novo México, fundando um

centro de pilates bastante orientado e influencia­do pela área clínica. Romana Kryzanowsk­a encaminhou-se para o Chile, onde viveu por 15 anos, e voltou a Nova York depois da morte de Joseph Pilates, assumindo a direção do seu estúdio a pedido de Clara Pilates. Durante muitos anos, ela foi a responsáve­l técnica pelo The Pilates Studio, mas hoje dirige o Romana Pilates. Kathy Stanford-Grant leciona até hoje no departamen­to de dança da Universida­de de Nova York. Lolita San Miguel – bailarina profission­al em Nova York durante muitos anos – voltou à terra natal e lá dirige o Balé Concierto de Puerto Rico, onde o pilates é ensinado e praticado pelos profission­ais e alunos da dança. No Brasil, os estúdios The Pilates Studio® Brasil (de Inélia Garcia) e Pilates Brasil são os grandes representa­ntes do pilates original. Já a Physio Pilates, com os seguidores da técnica da Stott Pilates, como a Pilates StudioFit, entre outros, representa­m uma vertente da técnica evoluída.

Original x evoluído

Segundo Renata Gailey, gerente de estúdios da Pilates StudioFit, ainda não foi feito um estudo comparativ­o sobre o resultado das diferentes técnicas de pilates. O fato é que todas elas alegam resultados efetivos e eficientes. “Apesar das diferenças, acredito que ambas alcançam resultados importante­s, desde que as instituiçõ­es sejam sérias, com profission­ais comprometi­dos e estudiosos que fizeram formações completas”, opina Alice Becker. Já Cecilia é mais tradiciona­l. “Acredito que as pessoas devessem primeirame­nte estudar os exercícios e princípios originais para entender que não há necessidad­e alguma de modificaçõ­es e complement­ação com outras técnicas. Não significa ser inflexível, mas reconhecer que o criador tem méritos e que o fato de ter vivido no século passado não o torna menos inteligent­e do que nós”, defende.

Segundo Alice, a grande diferença entre as técnicas está no repertório utilizado, na escolha das variações e nos detalhes de como os movimentos devem ser executados. “Algumas linhas possuem regras e sequências definidas de como uma aula deve começar e terminar. Outras acreditam que, dependendo do aluno e de sua condição, a escolha dos exercícios e/ ou sua ordem e sequenciam­ento devem ser mudados”, conta. “A sequência de exercícios preservada dentro do método tradiciona­l sofreu modificaçõ­es no método evoluído a partir da criação de novos exercícios e de uma rotina de trabalho diferente”, completa Renata. Segundo Alice, o que difere em cada escola que possui conteúdo e qualidade de reconhecim­ento internacio­nal é a aplicação desses exercícios e suas modificaçõ­es criadas a partir da experiênci­a de líderes e mestres de cada linha, que se propõem a adequar os diferentes alunos com suas disponibil­idades e deficiênci­as particular­es. O método pilates original é uma técnica baseada em princípios que Joseph Pilates denominou

“Contrologi­a”. “Dentre eles, temos a fluência, que é o maior diferencia­l entre o método original e os modificado­s pela técnica”, ressalta Cecilia. Segundo ela, o original enfatiza o condiciona­mento físico, com um ritmo frenético do início ao fim, em uma sessão realmente vigorosa. A fluência está entre as transições dos movimentos, ou seja, a sessão é contínua, o praticante não para de se movimentar, e a transição de um exercício para o outro também é considerad­a exercício. Também existe a não dissociaçã­o entre as partes do corpo. “Não fazemos séries para membros superiores e, depois, separadame­nte, para membros inferiores. O corpo todo é estimulado a todo momento, seguindo o princípio do método inspirado nas antigas artes marciais e na ioga”, conta Cecilia.

No princípio da respiração, os exercícios possuem um padrão próprio desenvolvi­do por Pilates. “A respiração não é algo a ser trabalhado separadame­nte e, sim, em conjunto, devendo ser incorporad­a aos movimentos de forma natural e não excessivam­ente esclarecid­a ao aluno: o que e como deve fazer, antes mesmo de se movimentar”, observa Cecilia.

No pilates evoluído, novas soluções tecnológic­as foram incluídas na fabricação de equipament­os, ampliando os recursos e a segurança, além de modificaçõ­es de alguns exercícios – com base em descoberta­s científica­s –, que incluem novos conceitos sobre organizaçã­o corporal, prevenção e tratamento de lesões. “Incluímos todo novo pensamento da medicina holística, que se volta para a energia e a física quântica, baseada nos estudos científico­s atuais”, afirma Alice.

Segundo Renata, outra grande diferença está no fato de o pilates evoluído utilizar a coluna e a pelve neutras – ou seja, o posicionam­ento da cervical preserva a curvatura natural, e a pelve mantém o alinhament­o entre os ossos do quadril e o púbis – em uma posição mais próxima do dia a dia dos alunos, o que torna o exercício do pilates mais funcional. “O foco dos exercícios é trabalhar posições usuais na rotina de trabalho ou durante a vivência diária. Dessa forma, evita-se lesões e desenvolve-se o aprendizad­o das atividades diárias, como dirigir, sentar ou subir escadas”, explica Renata.

Independen­temente da linha seguida, o pilates conta com mais de 500 exercícios, que vão do básico ao avançado, e devem ser executados sob orientação de profission­al com formação completa. Para garantir a integridad­e do método e a sua qualidade, há sete anos, foi criada a Pilates Method Alliance, instituiçã­o da qual fazem parte quatro dentre os cinco Elders ainda vivos, além da maioria das escolas e grandes nomes do pilates dos EUA e do mundo. Uma instituiçã­o semelhante está sendo fundada no Brasil (a Aliança Brasileira de Pilates), com participan­tes de diversas linhas e escolas concorrent­es nacionais e internacio­nais.

Difícil de escolher? O importante é praticar, com qualidade e seriedade. A seguir, elencamos alguns exercícios representa­ntes destas duas grandes vertentes do pilates.

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