Além do peso
A obesidade infantil é um dos principais desafios da saúde pública no século 21. Só no Brasil, uma em cada três crianças sofre com o descontrole
Durante muito tempo prevaleceu a ideia equivocada de que criança rechonchuda era sinônimo de saudável. Porém, a descoberta de que a obesidade infantil é uma doença séria – e tida como um dos principais desafios da saúde pública do século 21 – promoveu uma verdadeira revolução nos conceitos.
Só para ter uma ideia, 2,8 milhões de pessoas morrem anualmente por problemas decorrentes do excesso de peso, segundo estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a Iniciativa de Vigilância da Obesidade Infantil, braço da OMS, um terço das crianças no mundo, com idades entre 6 e 9 anos, está obesa ou acima do peso. No Brasil, os dados do Ministério da Saúde, apontam que uma em cada três crianças sofre com a doença.
O panorama da obesidade infantil é assustador. Há anos, as pesquisas mostram o aumento do sobrepeso e da obesidade infanto-juvenil. Hoje, a obesidade é considerada uma epidemia pela OMS, que afeta países ricos e em desenvolvimento, nos quais a prevalência da obesidade excede agora 15%, situação usada pela OMS para definir situação crítica para intervenção em epidemias nutricionais.
Triste panorama
Consultoria: Louise Cominato, endocrinologista infantil e coordenadora do ambulatório de obesidade do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo (USP).
Embora os Estados Unidos tenham o maior número de pacientes obesos no mundo, a obesidade infantil está estável há mais de uma década, com algo em torno de 17% e, nos últimos anos caiu entre crianças de 2 e 5 anos de idade, graças à política pública eficaz.
No Brasil não há o que comemorar, pois os casos de crianças obesas só cresceram: a obesidade aumentou 300% entre crianças de 5 a 9 anos nos últimos 20 anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os nossos índices de obesidade infantil estão próximos aos dos americanos.
Meu filho é mesmo obeso?
O sobrepeso e a obesidade são definidos pela OMS como o acúmulo de gordura anormal que representa risco para a saúde. As repercussões psicossociais da doença pioram a qualidade de vida levando ao isolamento social e a baixa autoestima.
Vale lembrar que a obesidade infantil é multifatorial e leva não só ao excesso de peso, mas também aos problemas de saúde associados. Para a classificação do paciente, precisamos calcular o Índice de Massa Corpórea (IMC) e colocar esse valor em gráficos adequados à idade. O cálculo do IMC é feito do seguinte modo: o peso do paciente deve ser dividido pela sua altura ao quadrado. A criança cujo IMC for maior que o percentil 97,5 para idade é considerada obesa e, entre o percentil, 85 a 97.5 tem sobrepeso. Portanto para saber se uma criança está acima do peso é preciso pesar, medir, calcular o IMC e colocar nos gráficos adequados. Isso deve ser feito como rotina na consulta o pediatra.