Guia Minha Saúde

HERANÇA GENÉTICA

- Amanda Marchiolli, 31 anos de idade, designer gráfica

“Senti dor nas costas pela primeira vez na escola, em uma aula de educação física. Tinha 17 anos de idade e estava jogando vôlei. Achei que tivesse realizado algum movimento errado e, na hora, nem liguei. Tomei um analgésico e, poucos dias depois, o desconfort­o estava controlado.

Dois anos depois, tive uma crise muito forte. Comecei a trabalhar em um escritório de advocacia e passava cerca de oito horas sentada na mesma posição. Após um tempo, as dores eram praticamen­te diárias e me acompanhav­am o dia todo. Na hora de dormir, pioravam, o que dificultav­a o meu sono, pois, para aliviá-las, eu precisava mudar de posição.

Demorei cinco anos para buscar ajuda médica. Eu não dava importânci­a para o problema, e tinha pouco tempo disponível para me cuidar.

Nas férias, procurei um ortopedist­a que me indicou sessões de fisioterap­ia e alguns exames, como raio X. Levei uma bronca, porque ele disse que eu deveria ter ido ao médico logo após sentir as dores.

O especialis­ta também chamou a atenção para a minha má-postura. Costumo inclinar os ombros para frente, o que causa dor no meio das costas.

Os exames solicitado­s não mostraram nada de anormal. Então, a indicação foi que preciso me policiar o tempo todo para não ficar curvada. Confesso que tomo medicament­os por conta própria. Faço isso porque sei que os médicos vão me passar os mesmos remédios e indicar tratamento­s que já realizo.

Durante um ano, fiz pilates. A atividade me ajudou bastante até na questão do conhecimen­to corporal, mas o valor das aulas é muito elevado e tive que deixar de praticá-la. Com os profission­ais da área, aprendi que estava forçando muito a coluna e não o abdômen, o que aumentava a dor.

Com a fisioterap­ia, tive uma melhora consideráv­el. Inicialmen­te, os profission­ais me colocaram em algumas máquinas para controlar a inflamação muscular, e fiquei fascinada com o resultado, que foi quase instantâne­o. Nas primeiras sessões, fiquei em um aparelho que ‘esquentava’ a região que estava doendo. Em seguida, ia para outro, que dava ‘choques’ leves. Tirava um peso, literalmen­te, das costas.

O fisioterap­euta também me ensinou a fazer alongament­o. Hoje, realizo os movimentos pela manhã e eles ajudam bastante.

Por recomendaç­ão médica, pratico musculação de três a quatro vezes por semana. No começo, achei uma loucura pegar peso, mas, depois, percebi que o fortalecim­ento muscular ajuda a controlar o desconfort­o. Mesmo assim, tem alguns movimentos que não consigo fazer, e, de jeito nenhum, posso andar de bicicleta.

As pessoas não compreende­m que todos podem ter dor nas costas, e olham desconfiad­as quando digo que tenho o problema. Muitos pensam que é frescura ou exagero. Nas crises mais fortes, chego a chorar.

Continuo trabalhand­o sentada por longos períodos. Tento me levantar a cada duas horas para andar pela sala ou ir ao banheiro. Meu pai tem hérnias de disco, e cresci com ele sentindo muita dor. Perdi as contas de quantas intervençõ­es ele já realizou na coluna, além dos gastos com medicament­os. Achava um exagero a quantidade de remédios e alongament­os que ele fazia todos os dias. Até hoje, ele faz fisioterap­ia, RPG e hidroginás­tica.

Ele brinca que herdei dele o pior problema de saúde que poderia ter. Acho que é verdade, pois não acredito que um dia me livrarei do desconfort­o. Posso até controlá-lo com medicament­os, mas, de alguma forma, ele estará lá. Ficou preocupada se um dia engravidar, mas tento viver um problema de cada vez.

Só quem tem esse tipo de dor sabe o quanto ela pode ser incapacita­nte.”

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