HERANÇA GENÉTICA
“Senti dor nas costas pela primeira vez na escola, em uma aula de educação física. Tinha 17 anos de idade e estava jogando vôlei. Achei que tivesse realizado algum movimento errado e, na hora, nem liguei. Tomei um analgésico e, poucos dias depois, o desconforto estava controlado.
Dois anos depois, tive uma crise muito forte. Comecei a trabalhar em um escritório de advocacia e passava cerca de oito horas sentada na mesma posição. Após um tempo, as dores eram praticamente diárias e me acompanhavam o dia todo. Na hora de dormir, pioravam, o que dificultava o meu sono, pois, para aliviá-las, eu precisava mudar de posição.
Demorei cinco anos para buscar ajuda médica. Eu não dava importância para o problema, e tinha pouco tempo disponível para me cuidar.
Nas férias, procurei um ortopedista que me indicou sessões de fisioterapia e alguns exames, como raio X. Levei uma bronca, porque ele disse que eu deveria ter ido ao médico logo após sentir as dores.
O especialista também chamou a atenção para a minha má-postura. Costumo inclinar os ombros para frente, o que causa dor no meio das costas.
Os exames solicitados não mostraram nada de anormal. Então, a indicação foi que preciso me policiar o tempo todo para não ficar curvada. Confesso que tomo medicamentos por conta própria. Faço isso porque sei que os médicos vão me passar os mesmos remédios e indicar tratamentos que já realizo.
Durante um ano, fiz pilates. A atividade me ajudou bastante até na questão do conhecimento corporal, mas o valor das aulas é muito elevado e tive que deixar de praticá-la. Com os profissionais da área, aprendi que estava forçando muito a coluna e não o abdômen, o que aumentava a dor.
Com a fisioterapia, tive uma melhora considerável. Inicialmente, os profissionais me colocaram em algumas máquinas para controlar a inflamação muscular, e fiquei fascinada com o resultado, que foi quase instantâneo. Nas primeiras sessões, fiquei em um aparelho que ‘esquentava’ a região que estava doendo. Em seguida, ia para outro, que dava ‘choques’ leves. Tirava um peso, literalmente, das costas.
O fisioterapeuta também me ensinou a fazer alongamento. Hoje, realizo os movimentos pela manhã e eles ajudam bastante.
Por recomendação médica, pratico musculação de três a quatro vezes por semana. No começo, achei uma loucura pegar peso, mas, depois, percebi que o fortalecimento muscular ajuda a controlar o desconforto. Mesmo assim, tem alguns movimentos que não consigo fazer, e, de jeito nenhum, posso andar de bicicleta.
As pessoas não compreendem que todos podem ter dor nas costas, e olham desconfiadas quando digo que tenho o problema. Muitos pensam que é frescura ou exagero. Nas crises mais fortes, chego a chorar.
Continuo trabalhando sentada por longos períodos. Tento me levantar a cada duas horas para andar pela sala ou ir ao banheiro. Meu pai tem hérnias de disco, e cresci com ele sentindo muita dor. Perdi as contas de quantas intervenções ele já realizou na coluna, além dos gastos com medicamentos. Achava um exagero a quantidade de remédios e alongamentos que ele fazia todos os dias. Até hoje, ele faz fisioterapia, RPG e hidroginástica.
Ele brinca que herdei dele o pior problema de saúde que poderia ter. Acho que é verdade, pois não acredito que um dia me livrarei do desconforto. Posso até controlá-lo com medicamentos, mas, de alguma forma, ele estará lá. Ficou preocupada se um dia engravidar, mas tento viver um problema de cada vez.
Só quem tem esse tipo de dor sabe o quanto ela pode ser incapacitante.”