A evolução dos treinos de corrida
Muita coisa mudou nesses últimos 20 anos. A distância semanal pregada caiu para dar lugar ao aumento da intensidade
O corredor dos dias de hoje tem um perfil diferente daquele de 20 anos atrás. Quando comecei a correr, só corria quem estava no exército ou quem treinava muito, e com fins bem competitivos. Em outras palavras, há duas décadas o corredor visava resultado e performance, e era treinado por ex-atletas cuja suposta “experiência” o faria evoluir e alcançar as marcas desejadas. Se o praticante de antes deveria se dedicar exclusivamente à corrida, o de hoje é mais eclético, versátil e tem melhor condição física geral. Isso quer dizer que o treinamento de 20 anos atrás mudou, e para melhor. Até a década de 1990, pregava-se que deveríamos cumprir quilometragens semanais bem altas (acima de 60 km). E musculação era praticamente proibida, sob a alegação de que um corpo mais forte traria o ônus de deixar o corredor mais pesado, deixando-o mais lento. A musculação era nos “morros” (termo hoje foi trocado por subidas e descidas). O treinamento evoluiu. Surgiram centenas de milhares de estudos na área da fisiologia do exercício, medicina do esporte, biomecânica, nutrição etc. Os ex-atletas foram dando lugar aos profissionais da educação física. Essa evolução trouxe mudanças muito positivas, entre as quais destaco: - Diminuição da distância semanal percorrida, caindo de 60 km para 40 km. Exceto para quem busca 10 km sub-40min ou uma maratona sub-3h30min, sabe-se que dá para obter os mesmos resultados correndo menos; - Aumento da intensidade dos treinos. Os estudos foram mostrando que, para corredores bem treinados, o aumento da intensidade dos treinos intervalados traria mais resultado do que simplesmente aumentar o volume; - O treino de força passou a fazer parte do treinamento de corrida. A ciência vem mostrando que também é preciso aumentar o nível de força e o equilíbrio muscular do corredor para melhorar a performance e proteger contra lesões. O core passou a fazer parte do tratamento e do treinamento dos corredores; - Maior informação sobre a prevenção e o tratamento de lesões, com técnicas e recursos mais avançados; - Possibilidade de distribuição da quilometragem semanal utilizando outros meios, como o ciclismo ou o elíptico em substituição a um treino no asfalto, atenuando, com isso, o impacto; -Surgimento de maiores conhecimentos sobre o aspecto nutricional, com a inclusão da alimentação funcional; - A medicina do esporte passou a ir além do tradicional teste para mensurar o consumo máximo de oxigênio e o limiar anaeróbio para fazer uma varredura bem mais abrangente da saúde do corredor. Em resumo, a ciência do esporte vem mudando o modo de treinar corrida, com mais respostas para muitas das nossas perguntas. Vamos correr, mas “com ciência”