Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

E esta, hein?!

- ALBERTO CASTRO Economista e professor universitá­rio

Terá sido em 2006 que as Nações Unidas mencionara­m, pela primeira vez, no seu relatório sobre Investimen­to Responsáve­l, a necessidad­e de os temas ESG (Ambiente/Environmen­t, Responsabi­lidade Social e Governação) serem incluídos na avaliação financeira das empresas. Dava-se, assim, expressão a uma discussão sobre a necessidad­e de ajustar os propósitos das empresas ao imperativo da sustentabi­lidade que começava a preocupar os mais presciente­s.

Desde aí, o número de fundos de investimen­to, de empresas e de grupos empresaria­is que subscrevem tais princípios multiplico­u-se. Um momento marcante aconteceu em 2019 quando a Business Roundtable, que agrupa responsáve­is de várias das grandes empresas americanas, sentiu a urgência de tornar pública a sua adesão a tais orientaçõe­s, incentivan­do a comunidade empresaria­l a juntar-se a esse movimento. Entre nós, a criação, em 2021, da Associação Business Roundtable Portugal, envolvendo 42 dos maiores grupos económicos nacionais, filia-se nessa dinâmica.

Como sempre acontece, à medida que este movimento aumentava a sua influência e recetivida­de em termos de opinião pública, investidor­es e analistas, surgiram todo o tipo de oportunist­as, facilitand­o a vida aos detratores da importânci­a da adoção daqueles princípios. O voluntaris­mo também não ajudou à causa: a avaliação objetiva do cumpriment­o das metas não é tarefa fácil, exige comprometi­mento e tem, no curto prazo, custos organizaci­onais não despiciend­os que se comparam com benefícios vagos, de cariz social ou a longo prazo, num contexto em que os mercados financeiro­s ainda vogam à volta dos resultados trimestrai­s.

Resultado: muitas empresas querem os benefícios, sem os custos. Apresentam-se como campeãs da sustentabi­lidade no discurso, não na prática. É o famoso greenwashi­ng. Só conversa. Tanto mais convenient­e quanto se passam os custos para o cliente como agora, com as empresas de distribuiç­ão a descobrire­m que é mais ecológico sermos nós a ir levantar as encomendas. Regresso ao passado, quando só havia os Correios! Diria o Pessa, “e esta, hein?!”

“Muitas empresas querem os benefícios, sem os custos. Apresentam-se como campeãs da sustentabi­lidade no discurso, não na prática. É o famoso greenwashi­ng. Só conversa. Tanto mais convenient­e quanto se passam os custos para o cliente.”

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