Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
E esta, hein?!
Terá sido em 2006 que as Nações Unidas mencionaram, pela primeira vez, no seu relatório sobre Investimento Responsável, a necessidade de os temas ESG (Ambiente/Environment, Responsabilidade Social e Governação) serem incluídos na avaliação financeira das empresas. Dava-se, assim, expressão a uma discussão sobre a necessidade de ajustar os propósitos das empresas ao imperativo da sustentabilidade que começava a preocupar os mais prescientes.
Desde aí, o número de fundos de investimento, de empresas e de grupos empresariais que subscrevem tais princípios multiplicou-se. Um momento marcante aconteceu em 2019 quando a Business Roundtable, que agrupa responsáveis de várias das grandes empresas americanas, sentiu a urgência de tornar pública a sua adesão a tais orientações, incentivando a comunidade empresarial a juntar-se a esse movimento. Entre nós, a criação, em 2021, da Associação Business Roundtable Portugal, envolvendo 42 dos maiores grupos económicos nacionais, filia-se nessa dinâmica.
Como sempre acontece, à medida que este movimento aumentava a sua influência e recetividade em termos de opinião pública, investidores e analistas, surgiram todo o tipo de oportunistas, facilitando a vida aos detratores da importância da adoção daqueles princípios. O voluntarismo também não ajudou à causa: a avaliação objetiva do cumprimento das metas não é tarefa fácil, exige comprometimento e tem, no curto prazo, custos organizacionais não despiciendos que se comparam com benefícios vagos, de cariz social ou a longo prazo, num contexto em que os mercados financeiros ainda vogam à volta dos resultados trimestrais.
Resultado: muitas empresas querem os benefícios, sem os custos. Apresentam-se como campeãs da sustentabilidade no discurso, não na prática. É o famoso greenwashing. Só conversa. Tanto mais conveniente quanto se passam os custos para o cliente como agora, com as empresas de distribuição a descobrirem que é mais ecológico sermos nós a ir levantar as encomendas. Regresso ao passado, quando só havia os Correios! Diria o Pessa, “e esta, hein?!”
“Muitas empresas querem os benefícios, sem os custos. Apresentam-se como campeãs da sustentabilidade no discurso, não na prática. É o famoso greenwashing. Só conversa. Tanto mais conveniente quanto se passam os custos para o cliente.”