António Vieira Monteiro
Após quatro anos de braço-de-ferro com o Estado, o Santander Totta fechou um acordo no caso dos “swaps” que mantém os contratos e ainda permite ao banco aumentar o seu volume de crédito. Já a compra do Popular em Espanha permitiu à instituição reivindicar a liderança da banca privada em Portugal. O ano correu de feição a Vieira Monteiro. Não só pelas conquistas do banco em si, mas pelo que significam face ao rival BPI que, sob o domínio do CaixaBank, ameaçava ser um rival de peso.
Amelhor imagem da ascensão de António Vieira Monteiro na escala do poder em Portugal mostra o presidente do Santander Totta a cumprimentar o primeiro-ministro António Costa. No enquadramento surge ainda Ana Botín, a todo-poderosa líder do Santander, a aplaudir. A fotografia foi tirada a 31 de Janeiro, dia da inauguração da extensão da sede do Santander Totta junto à Praça de Espanha, em Lisboa. Menos de três meses depois, o banco liderado por Vieira Monteiro chegava a acordo com o Governo para pôr fim ao litígio judicial que há anos opunha o Estado português e a instituição por causa dos “swaps” de várias empresas públicas. O entendimento é uma vitória do banqueiro que reivindicou a legalidade destes contratos desde o primeiro momento em que Maria Luís Albuquerque, antiga secretária de Estado do Tesouro e Finanças, contestou as coberturas de risco subscritas pela Carris, Metro de Lisboa, STCP e Metro do Porto. Vieira Monteiro conseguiu que o Estado desistisse de todos os processos que corriam nos tribunais, portugueses e internacionais, pedindo a anulação dos “swaps”. Por outro lado, os contratos mantêm-se em vigor nos mesmos termos que o anterior Governo considerou serem “mesmo muito maus”. E, além disso, o Santander Totta concedeu um empréstimo à República, no valor total de 2,3 mil milhões de euros e por um prazo de 15 anos. Com o acordo sobre os “swaps”, Vieira Monteiro teve o mérito de enterrar um problema que se arrastava há quatro anos, manter os contratos com as condições de origem e aumentar o volume de negócios. Tudo com o aval do Executivo de António Costa – como aconteceu em 2015 quando assegurou a compra dos melhores activos do Banif. O banqueiro recusa aideia de que o entendimento no caso dos “swaps” tenha sido vantajoso para o Santander Totta. “Não há ganhos para o banco”, tem repetido. Mas a verdade é que a instituição aumentou a sua carteira de crédito com um cliente que dificilmente entrará em incumprimento. E Vieira Monteiro deixou de ter de gerir um dos assuntos que lhe dava mais dores de cabeça. O ano também sorriu ao líder do Santander Totta graças aos ventos que sopraram de Espanha. Nos primeiros dias de Junho, o banqueiro recebia outra boa notícia: o Grupo Santander acordou a compra do Banco Popular Español, negócio que inclui a operação portuguesa e permitiu ao Totta proclamar-se líder do negócio de banca privada em Portugal. Pelo menos, em crédito e em número de balcões. Ultrapassar o BCP – feito cuja duração dependerá da rapidez com que o Santander Totta fizer a limpeza da carteira de crédito a herdar do Popular Portugal – tem um valor simbólico ainda maior porque, durante quase duas décadas, as instituições alimentaram uma rivalidade entre si. A fusão do Central Hispano com o grupo da família Botín, em 1999, obrigou o BCP a procurar um novo parceiro espanhol (Sabadell). Poucos meses depois, o banco de Jardim Gonçalves ajudou o Governo de António Guterres a travar a compra de todo o universo de António Champalimaud pelo Santander. Um negócio que, se se tives-
se concretizado como previsto, teria colocado os dois grupos em pé de igualdade logo em 2000. Ironia das ironias é que o BCP é hoje liderado pelo antecessor de Vieira Monteiro no Santander Totta. Mais do que ultrapassar o BCP, a compra do Popular Portugal permite ao Totta descolar do BPI, numa altura em que o banco, que desde Fevereiro é dominado pelo CaixaBank, se preparava para dar luta na batalha pelos melhores clientes bancários. Com o negócio que acordou adquirir, o Santander Totta ganha vantagem sobre o BPI. Vieira Monteiro parecia adivinhar o futuro quando, em Abril, na primeira reacção ao domínio catalão no BPI, dizia que a mudança obrigava o seu grupo “a ser mais forte”. Não é só em dimensão que se mede a diferença entre os dois bancos portugueses dominados por grupos espanhóis. Há 17 anos que o Santander Totta é espanhol, mas sempre manteve a liderança executiva na mão de gestores portugueses. No BPI, a intenção de entregar a presidência executiva a um banqueiro espanhol foi anunciada no mesmo dia em que passou a ser oficial que o CaixaBank era o dono hegemónico do banco. A Vieira Monteiro interessará muito mais o que Ana Botín pensa da operação portuguesa. E terá sido com agrado que, em Janeiro, ouviu os elogios da banqueira espanhola: “O Totta é um exemplo para o grupo Santander e também para mim. A sua forma de gerar resultados é a correcta. Parabéns”.