Jornal de Negócios

O futuro do Novo Banco

- Director averissimo@negocios.pt ANDRÉ VERÍSSIMO

Salvar o Novo Banco já custou mundos e fundos. E vai custar ainda mais. Daí que a pergunta seja legítima: será que vale a pena? Atarefa de provar que sim cabe à equipa liderada por António Ramalho. Assumir esse dever, como faz na entrevista publicada no Negócios, é um bom ponto de partida. A conta é feia, poderá chegar aos 9,8 mil milhões de euros. Vejamos as parcelas. O Fundo de Resolução injectou 4,9 mil milhões de euros para que nascesse o Novo Banco separado do BES. O Lone Star meteu mais mil milhões de euros para capitaliza­r a instituiçã­o quando comprou 75% do capital. Mas para que o único comprador aceitasse a operação foi ainda preciso criar um mecanismo de capital contingent­e no seio do Fundo de Resolução que poderá ser accionado até 3,9 mil milhões de euros.

Ainda o banco procura demonstrar a sua viabilidad­e e a conta já vai alta: 6,7 mil milhões de euros. É somar aos 4,9 mil milhões de euros que o Fundo de Resolução já dá como irremediav­elmente perdidos os 792 milhões injectados no âmbito do mecanismo contingent­e, valor que não ficará por aqui.

A factura recai sobre todos os bancos do sistema português e os contribuin­tes. Estes por causa do impacto nos juros decorrente do aumento do nível de dívida pública, ao qual há que somar as perdas no valor presente provocadas pelo imprescind­ível reescalona­mento dos pagamentos do Fundo de Resolução.

Justifica-se tanto esforço humano e financeiro para preservar um banco? A resposta obriga a olhar para a alternativ­a. Ora a alternativ­a a este caminho era a liquidação e essa teria um impacto recessivo difícil de contabiliz­ar, mas que seria por certo tremendo entre poupanças perdidas, financiame­nto cancelado, emprego destruído, perda de confiança no sistema financeiro e outras provações.

Será mais fácil de aceitar se no fim emergir um banco estabiliza­do e sólido, capaz de financiar a economia portuguesa, em particular as suas PME. “Tenho o dever de viabilizar o Novo Banco”, diz António Ramalho, que reconhece que a solução “onera todos os bancos”. Está bem ciente da sua responsabi­lidade.

Dentro de alguns anos, o Novo Banco terá outro dono. ALone Star está de passagem – é essa a sua natureza – e quererá sair com o maior lucro possível. Os candidatos mais prováveis são os que já cá andam. São eles os que mais podem pagar, pela simples razão de que são eles os que mais sinergias poderão retirar.

É elevada a probabilid­ade de a nacionalid­ade do comprador ser espanhola. Como diz Ramalho, o sistema financeiro português “iberizou-se”. “É o que é.” Mas há um risco na incerteza sobre a disponibil­idade para financiar a economia portuguesa em tempos difíceis para os dois países.

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