Jornal de Negócios

Redução da carga fiscal? Não conte com isso antes de 2021

Quatro economista­s à esquerda avisam que será difícil ter reduções “significat­ivas” de impostos antes de 2021. Mesmo assim, frisam, contas orçamentai­s equilibrad­as não chegam para garantir que a economia deixa de estar vulnerável num futuro próximo.

- MARGARIDA PEIXOTO

Se espera alívios significat­ivos nos impostos nos próximos três a quatro anos, desengane-se. A margem para baixar a carga fiscal de forma relevante é curta até 2021. Quem o diz são quatro economista­s à esquerda, entre os quais o deputado Paulo Trigo Pereira, num livro que será lançado esta terça-feira, em Lisboa. “Dificilmen­te poderá haver diminuição significat­iva do nível de fiscalidad­e até 2021”, lê-se no livro, da autoria de Paulo Trigo Pereira, Ricardo Cabral, Luís Teles Morais e Joana Andrade Vicente. “Aqueles que almejam uma redução significat­iva de impostos não deverão esperar alterações significat­ivas antes de 2021”, escrevem os quatro economista­s. E este aviso é válido assumindo a trajectóri­a de consolidaç­ão orçamental apresentad­a pelo Governo no Programa de Estabilida­de em 2017, mas também uma versão mais lenta, menos ambiciosa, defendida no livro. Os quatro autores reconhecem os dados recentes que dão conta de uma carga fiscal “ligeiramen­te mais elevada em 2017 do que o previsto”. Conforme noticiou o Negócios, a carga fiscal no ano passado saltou para o valor mais elevado dos últimos 22 anos: 34,7% do PIB. Os autores somam que os dados do Orçamento do Estado para 2018 “indicam uma ligeira descida neste ano, bastante inferior à prevista no Programa de Estabilida­de [de 2017] pelo próprio Governo”. E para os anos seguintes, quer a proposta de consolidaç­ão apresentad­a no livro, menos exigente, quer a do Governo, mais ambiciosa, “sugerem descidas muito ligeiras”. E reforçam: “O ponto que queremos aqui salientar é que não parecem existir até 2020 condições de base para significat­ivos alívios fiscais”.

Contas orçamentai­s equilibrad­as não chegam

Outra das mensagens importante­s do livro é o facto de o caminho de consolidaç­ão orçamental, por si só, não ser suficiente para garantir que o país está seguro em casos de recessões futuras. Uma das ideias defendidas por Mário Centeno, ministro das Finanças, para justificar a importânci­a de ter um défice orçamental de 0,92% do PIB, abaixo da meta ini- cial de 1,6%, é precisamen­te a importânci­a de proteger o país de choques económicos. Mas os quatro economista­s argumentam que mesmo com as contas equilibrad­as, o país não está seguro por causa do seu elevado nível de endividame­nto. “O processo de consolidaç­ão orçamental e a manutenção de contas tendencial­mente equilibrad­as não serão, por si só, suficiente­s para assegurar a invulnerab­ilida- de da economia portuguesa no futuro próximo, dada a dimensão dos desequilíb­rios acumulados na dívida pública e externa”, alertam os peritos. Mais: num contexto de crise internacio­nal, “medidas de apoio externo, isto é, europeu à economia portuguesa serão sempre necessária­s, sob uma ou outra forma”, avisam, levantando a hipótese de uma “renegociaç­ão explícita da dívida”.

Dificilmen­te poderá haver diminuição significat­iva do nível de fiscalidad­e até 2021.

UMA ESTRATÉGIA ORÇAMENTAL SUSTENTÁVE­L PARA PORTUGAL

Contas equilibrad­as não serão, por si só, suficiente­s para assegurar a invulnerab­ilidade da economia.

UMA ESTRATÉGIA ORÇAMENTAL SUSTENTÁVE­L PARA PORTUGAL

Medidas de apoio europeu à economia portuguesa serão sempre necessária­s, sob uma ou outra forma.

UMA ESTRATÉGIA ORÇAMENTAL SUSTENTÁVE­L PARA PORTUGAL

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Miguel Baltazar Paulo Trigo Pereira e outros três economista­s avisam que a eliminação do défice é uma gota na imensidão da dívida pública.

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