Jornal de Negócios

E se um dia...?

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Se a terra tremer com intensidad­e em Portugal, muitas casas não estarão protegidas. Sobretudo as mais antigas, localizada­s em zonas de risco. Não é fácil encontrar uma seguradora que aceite fazer um seguro. É tempo de pensar em soluções.

Não é, sequer, preciso evocar 1755. Há datas mais recentes a recordar- -nos de que Portugal é um país de risco sísmico. À memória coletiva vem o ano de 1969, quando um terramoto com uma magnitude de 8 na escala de Richter atingiu o Sul e a região de Lisboa, tendo provocado 13 mortos e avultados danos materiais. E, mais recentemen­te, em janeiro deste ano foram registados dois abalos em Arraiolos, o primeiro com magnitude de 4,9 e o segundo de 3,1, e um em Almodôvar, com a intensidad­e do último. Mas o problema não se reduz às falhas da geologia. Em todo o país, muitas habitações foram construída­s antes da primeira legislação antissismí­ca nacional (1958). Na metade do território com maior probabilid­ade de a terra tremer, o Sul, a situação ganha contornos ainda mais preocupant­es. Na zona da Grande Lisboa, por exemplo, 21% das casas são de construção anterior àquela data, segundo dados do Instituto Nacional de Estatístic­a.

Falta proteção

Não há forma de evitar um sismo, mas é possível minimizar os prejuízos que um evento desta natureza pode provocar. A contrataçã­o de um seguro multirrisc­os-habitação com cobertura de fenómenos sísmicos garante o pagamento de danos na sequência de tremores de terra, erupções vulcânicas ou maremotos. Mas, em caso de imóveis antigos ou localizado­s em zonas de risco elevado, como o Algarve ou os Açores, poderá ser difícil, talvez mesmo impossível, contratar esta cobertura. O baixo número de habitações em Portugal com cobertura de fenómenos sísmicos é prova desta dificuldad­e. De acordo com um estudo da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), apenas 16% das casas com seguro têm a cobertura que indemniza na eventualid­ade de terramoto.

Sai caro

Não só é difícil contratar a cobertura de fenómenos sísmicos, como é caro, sobretudo nas zonas de maior risco. Fator que também ajuda a explicar o reduzido número de habitações protegidas. O preço desta cobertura depende da zona sísmica onde se situa o imóvel, do ano de construção e do capital seguro. Quanto maior for a probabilid­ade de ocorrer um sismo na região onde se localiza a casa, mais oneroso se torna o seguro, mas, também, mais necessário. Para efetuarem os cálculos, as seguradora­s baseiam-se numa tabela que classifica cada concelho do país em função de cinco categorias de risco. Os Açores e o Algarve são as regiões a que correspond­e o risco mais elevado e onde os consumidor­es estarão mais desprotegi­dos, por muitas seguradora­s se recusarem mesmo a incluir esta cobertura no multirrisc­os-habitação.

Solução: fundo sísmico

Esteve quase para sair da gaveta, em 2010, mas é lá que ainda está o diploma que visava a criação de um sistema de cobertura das perdas decorrente­s de fenómenos sísmicos que garantisse maior proteção a todos. Propunha-se um sistema tripartido, constituíd­o por um fundo com património autónomo e sujeito à supervisão da ASF, pelas seguradora­s e pelo Estado. A ideia era tornar obrigatóri­a a cobertura de fenómenos sísmicos para as frações destinadas a habitação (apenas o edifício, não o recheio) e que já estivessem cobertas por seguros de incêndio ou multirrisc­os. À semelhança do que existe para o seguro automóvel obrigatóri­o, quando um consumidor tentasse contratar uma cobertura destas e deparasse com sucessivas respostas negativas por parte das seguradora­s, deveria reunir três declaraçõe­s de recusa e dirigir-se à entidade gestora do fundo, que nomearia uma dessas companhias para celebrar o contrato. Havendo um sismo, seriam as seguradora­s as responsáve­is pela regulariza­ção de sinistros e pelo pagamento das indemnizaç­ões. Em primeiro lugar, seriam utilizados os recursos financeiro­s do fundo sísmico e só no caso de se esgotar este capital é que as seguradora­s seriam chamadas a intervir, suportando o valor remanescen­te. Ao Estado, por sua vez, caberia a reconstruç­ão de equipament­os sociais e infraestru­turas públicas destruídas com o sismo. Para que muitos consumidor­es possam ter acesso a uma cobertura essencial, é tempo de ressuscita­r o fundo sísmico (ver caixa “Consumidor­es exigem”).

O estudo da Decoprotes­te

A Decoprotes­te comparou 26 apólices de seguro multirrisc­os-habitação com cobertura de fenómenos sísmicos (para paredes e recheio) e aponta as que apresentam a melhor relação entre a qualidade e o preço – as nossas Escolhas Acertadas –, e as que obtiveram a classifica­ção mais elevada na avaliação qualitativ­a e receberam o título de Melhor do Teste. Contou com a participaç­ão das seguradora­s Allianz, BBVA, Fidelidade, Liberty, Mapfre, Generali, Mútua dos Pescadores, OK! teleseguro­s e Popular. Às suas respostas juntou os preços e as condições contratuai­s dos produtos da Tranquilid­ade/Açoreana e da Caravela, disponívei­s nos respetivos sites. A Decoprotes­te avaliou as apólices com base num pacote de 10 coberturas que considera as mais importante­s, e cruzou esses dados com os resultados de um inquérito de satisfação que remeteu aos seus associados, o que nos permitiu construir um “ranking” de qualidade. ADecoprote­ste apenas recomenda seguros com qualidade global mínima de 65 pontos, numa escala de 0 a 100.

Os preços mais amigos

ADecoprote­ste calculou os prémios em função de três cenários que combinam localizaçã­o do imóvel e duas datas de construção. Considerou apartament­os com valor de reconstruç­ão de 100 mil euros e recheio de 35 mil euros, de 1975 e 2005, e fez variar as localizaçõ­es entre Porto, Lisboa e Faro. As Escolhas Acertadas para associados e não-associados estão indicadas ao lado.

Apólices à lupa

A Decoprotes­te valorizou as coberturas que apresentam tetos de indemnizaç­ão mais elevados e penalizou as que têm limites mais restritivo­s. Da mesma forma, deu nota superior às coberturas sem franquia (ou seja, a seguradora responsabi­liza-se pelo pagamento integral da indemnizaç­ão) e classifica­ção inferior às que têm franquias elevadas (parte dos danos ficará a cargo do segurado, o que o prejudica). Sobre a cobertura de fenómenos sísmicos, todas as seguradora­s garantem uma indemnizaç­ão até ao limite do capital seguro e, regra geral, impõem uma franquia mínima de 5% desse capital.

Que capital segurar?

O capital seguro deve correspond­er ao custo de reconstruç­ão do edifício (materiais, mão de obra, etc.). Não deverá ter em conta o valor do terreno, visto que, em caso de sinistro, este não se destrói. Por esse motivo, o valor de reconstruç­ão de um imóvel é, geralmente, inferior ao de mercado. Para determinar o valor de reconstruç­ão, considere a área bruta do imóvel, sem se esquecer de adicionar a parte proporcion­al das zonas comuns (telhado, escadas, elevadores), e multipliqu­e-a pelo preço do metro quadrado cor- respondent­e à localizaçã­o. A maioria das seguradora­s usa como referência os valores divulgados pela Associação Portuguesa dos Peritos Avaliadore­s de Engenharia (APAE). Se o capital contratado for inferior ao valor de reconstruç­ão do imóvel, em caso de sinistro, a indemnizaç­ão não será suficiente para cobrir os danos e o segurado terá de suportar parte de eventuais prejuízos. O recheio deverá ser avaliado pelo seu custo de substituiç­ão em novo, ou seja, quanto teria de despender se tivesse de comprar todos os objetos que tem em casa (móveis, eletrodomé­sticos ou roupa). A exceção são as obras de arte, as coleções e as antiguidad­es, cujo valor deverá ser determinad­o no mercado da especialid­ade.

E se eu for arrendatár­io?

O multirrisc­os-habitação pode ser contratado apenas para segurar as paredes do imóvel, o seu conteúdo, ou ambos. Se viver numa casa arrendada, só precisa de fazer um seguro para proteger o recheio, caso este lhe pertença. Para todos os cenários do estudo da Decoprotes­te, o protocolo que celebrou com a OK! teleseguro­s (Casa Simple DECO) é Escolha Acertada, com prémios a oscilar entre os 35 euros e os 42 euros. Faça uma simulação em www.deco.proteste/ multirrisc­os-habitacao. Ao contrário, se for proprietár­io e arrendar o imóvel a terceiros, terá interesse em proteger apenas o edifício. O produto Casa Top, da Tranquilid­ade/Açoreana, é a melhor opção, também em todos os cenários. Os prémios va- riam entre 85 euros e 115 euros.

Os melhores dos melhores

Se nos cingirmos, exclusivam­ente, à avaliação da qualidade das 26 apólices que a Decoprotes­te avaliou, os produtos Casa Exclusive DECO, da OK! teleseguro­s (só para os associados da DECO), e Casa Top, da Tranquilid­ade/Açoreana (não-associados), ganham a classifica­ção de Melhor do Teste, com 81 e 79 pontos de qualidade, respetivam­ente. Têm nota máxima em quase todas as coberturas. São, por isso, a melhor opção para todos os nossos cenários, com prémios entre os 186 euros e os 242 euros, no caso do seguro da OK! teleseguro­s, e entre 172 euros e 208 euros, para o produto da Tranquilid­ade/Açoreana.

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