Jornal de Negócios

Centeno alivia ritmo de corte do défice em 2019

As metas orçamentai­s para o horizonte de 2018 a 2022 ainda não estão fechadas, mas os números com que o Governo está a trabalhar sugerem um alívio do esforço no último ano da legislatur­a.

- MARGARIDA PEIXOTO

O ministro das Finanças está a preparar o Programa de Estabilida­de.

Os números com que o Governo está a trabalhar como metas orçamentai­s sugerem um alívio dos esforços para cortar o défice em 2018 e 2019, face ao que estava previsto há um ano. Isto, apesar de os valores de défice agora projectado­s serem mais baixos. Esta semana será de negociaçõe­s intensas. Até aprovar o Programade Estabilida­de em reunião do Conselho de Ministros – agendado para quinta-feira – e entregar a proposta na Assembleia da República, as metas orçamentai­s e de cresciment­o económico ainda podem ser ajustadas. Mas, por enquanto, o Governo está a apontar para um défice de 0,7% do PIB este ano, seguindo-se um corte para 0,2% em 2019 – um número avançado pelo Eco, mas que o Negócios confirmou. Depois, para 2020 a trajectóri­a de consolidaç­ão prossegue, com um défice em torno de 0,6% em 2020 e de 1,3% em 2021, estabiliza­ndo o esforço de consolidaç­ão em 2022, apurou o Negócios, esta segunda-feira. Olhando para a estratégia até ao final da legislatur­a, as metas preliminar­es sugerem algum alívio no esforço de consolidaç­ão. Na versão do ano passado do Programa de Estabilida­de, o Governo estava comprometi­do com um défice de 1% para 2018 e de 0,3% do PIB para 2019 – o último ano da legislatur­a. Tinha projectado um corte no défice de 0,7 pontos percentuai­s deste ano para o próximo. Agora, o corte deverá ser de apenas 0,5 pontos percentuai­s, mesmo incluindo o impacto da recapitali­zação do Novo Banco. Para os anos seguintes não estarão previstos nos saldos novos apoios à banca. O défice de 2018 parece ir apenas ao encontro da actualizaç­ão da meta do Orçamento, aos desenvolvi­mentos económicos. Assumindo todas as medidas do OE 2018, o Conselho das Finanças Públicas estimou o défice deste ano exactament­e nos 0,7% do PIB.

Centeno no caminho alternativ­o?

Mas há ainda outro indício de que esse esforço será menos pronunciad­o no último ano da legislatur­a. Em Setembro do ano passado, um grupo de economista­s à esquerda – o deputado socialista Paulo Trigo Pereira, o economista Ricardo Cabral, e os investigad­ores Luís Teles Morais e Joana Andrade Vicente – propôs um caminho alternativ­o para a consolidaç­ão orçamental, no horizonte até 2021. Argumentav­am que o esforço proposto pelo Executivo era não só excessivo, por limitar o cresciment­o da economia e a melhoria das condições de vida, como inexequíve­l. Na proposta destes economista­s, o défice deveria baixar de 1% em 2018, para 0,6% em 2019 (três décimas mais elevado do que o objectivo com que Mário Centeno trabalhava nesse momento). Ora, estes economista­s actualizar­am agora os cálculos para o seu trajecto alternativ­o de consolidaç­ão orçamental à luz dos desenvolvi­mentos económicos entretanto concretiza­dos, nomeadamen­te, a diminuição da factura com juros. A actualizaç­ão foi feita no âmbito de um livro que será lançado esta terça-feira, assinado pelos mesmos quatro autores e editado pela Almedina. Conforme consta no livro, só essa actualizaç­ão coloca o cenário destes economista­s em linha com as metas agora em cima da mesa do Governo. Ou seja: a mesma proposta, menos exigente, de consolidaç­ão, permite alcançar precisamen­te o défice de 0,7% este ano e de 0,2% no próximo, só por causa dos resultados económicos e orçamentai­s verificado­s até ao momento.

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 ?? Miguel Baltazar ?? Mário Centeno e António Costa procuram garantir um entendimen­to com o BE e o PCP sobre o Programa de Estabilida­de.
Miguel Baltazar Mário Centeno e António Costa procuram garantir um entendimen­to com o BE e o PCP sobre o Programa de Estabilida­de.

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