Jornal de Negócios

A ajuda da Amazon ao retalho alimentar

Digitaliza­ção e vendas podem acelerar.

- ALEXANDRA MACHADO ANDRÉ VERÍSSIMO

Atão falada e prevista entrada da Amazon em Portugal não assusta a grande distribuiç­ão. Pelo contrário. Num encontro promovido pelo Negócios com directores de marketing, o tema não foi esquecido, mas a segurança foi afirmada: “quando a Amazon entra faz o desenvolve­r muito o mercado”. Ou seja, a entrada da Amazon não roubará mercado, “até muitas vezes gera vendas incrementa­is”. Portugal é um país com baixos níveis de comércio electrónic­o. No alimentar representa cerca de 1% das vendas. O desenvolvi­mento é inferior ao resto da União Europeia. Se há uma questão do lado do consumidor, que tem um nível de utilização baixo, há, por outro lado, ainda investimen­tos, também eles baixos, do lado dos retalhista­s. “As empresas não têm investido o necessá- rio para ter boas ofertas digitais”, por isso, “a entrada de um ‘player’ líder mundial, como a Amazon, vai mexer muito com o mercado e obrigar a que os ‘players’ apostem fortemente nessa oferta”. A unanimidad­e parece ser a de que a abertura de um novo canal não tira quota de mercado à venda física. Acrescenta venda, dizem. “Não apenas quando falamos da Amazon ou outros. AAmazon vem para Portugal, mas não consideram­os uma ameaça com nome e apelido”. Ainda assim, a grande distribuiç­ão acresce a este desafio as caracterís- ticas do mercado português de retalho alimentar: dominado por dois grupos, com mais de 50% do mercado e que já tem um nível de maturidade elevado e até, em algumas zonas, de saturação. Por isso, o desafio acontece quando se fala de entrada de lojas virtuais mas também de novos protagonis­tas com unidades físicas, como vai acontecer em 2019 com a entrada da Mercadona em Portugal. O que significa que um dos factores que leva ao sucesso de modelos online - a conveniênc­ia - está já endereçado pelo mundo físico: a maioria dos portuguese­s tem uma loja a não mais de cinco minutos de distância. “Aconveniên­cia já lá está”. E há, ainda, que desafiar os baixos níveis de penetração da internet e de utilização para compras online. Há outras questões críticas que os retalhista têm de saber endereçar, como a da confiança. “Quando vão a uma loja vêem o produto e escolhem”, por isso, quando a encomenda é feita online, nomeadamen­te nos frescos e perecíveis, têm de ter “confiança” de que os produtos vão chegar em condições. E garantir que o produto é o que eles espera e na data que pretende. O que si-

gnifica que é um segmento particular­mente sensível à logística das entregas, que, muitas vezes, dependem de terceiros. “Numa loja a compra média pode ter 20 ou 30 items. A probabilid­ade de haver um que não exista quando compra online, que desencadei­a uma substituiç­ão, pode degradar a expectativ­a de compra”, por isso, “tem de se ter cuidado para se dar um nível de serviço idêntico ao físico”. É que “se o cliente tiver uma má experiênci­a não volta a repetir”, assegura um dos gestores de marketing, coadjuvado por um colega na afirmação de que “não há nada pior que ter uma expectativ­a que não seja cumprida”, e isso “pode contaminar a marca”. Não há, no entanto, dúvidas de que o comércio electrónic­o é um dos principais desafios deste sector. Mas se estar é um desafio, saber estar ainda é mais.

Aplicações para todos

A integração entre o mundo físico e o digital torna-se cada vez mais precisa. É que mesmo hoje já há muita compra na loja que teve por detrás uma escolha digital. “O consumidor quer que a sua experiênci­a em loja seja simples, fluída e rápida”, e isso pode promover novos “layouts” de loja. As experiênci­as já são várias mas esta revolução digital começa agora mais reforçada com as aplicações para telemóveis dos programas de fidelizaçã­o. Hoje há vários retalhista a empreender­em campanhas de comunicaçã­o para promoverem as suas aplicações. É uma das oportunida­des para as empresas trabalhare­m a interacção e a cumplicida­de com o cliente, além de gerar maior visibilida­de para os cupões e promoções. “Com as aplicações conseguimo­s impactar o cliente de forma mais directa e transparen­te”. É uma aposta “claramente ganha”. O retalho alimentar vai ter de “recuperar o tempo perdido”, já que não se tem caracteriz­ado por grandes inovações ou revoluções digitais. As experiênci­as de comércio digital até têm, em alguns casos, falhado. É que “lança-se negócio de ‘ecommerce’, mas por detrás não se lançam os processos que permitem que tenha sucesso”. O que significa que também ao nível da comunicaçã­o e marketing vai haver mudanças, com a necessidad­e de se promover uma relação cada vez mais directa e direcciona­da ao cliente. Ter dados é fácil, interpretá-los é mais difícil e o próximo grande desafio, admite-se. “Os próximos anos vão ser muito agitados”. O comércio digital leva a desafios até ao nível dos recursos humanos, com competênci­as novas. “É preciso semear para colher mais à frente”, tem, por maioria de razão, uma perspectiv­a de longo prazo. “Se não formos nós a apanhar esses clientes, serão outros”.

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Miguel Baltazar Quatro gestores ligados à grande distribuiç­ão falaram cerca de duas horas sobre os desafios desta indústria.
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