Jornal de Negócios

Governo diz que faltam documentos para avaliar rendas excessivas

- DIOGO CAVALEIRO

O secretário de Estado da Energia diz não conseguir aceder a informação acerca de uma decisão governamen­tal de 2013 sobre o sector. Um aviso deixado quando a comissão de inquérito está na fase de pedir documentaç­ão.

No dia em que a comissão de inquérito às rendas na energia avançou para o pedido de documentaç­ão a várias entidades, desde a Procurador­ia- Geral da República ao Governo, passando pela REN, o secretário de Estado com a tutela deixou um alerta: nem mesmo ele conseguiu ter acesso a todos os dados sobre o tema. Na manhã desta terça-feira, Jor- ge Seguro Sanches foi à comissão de Economia, onde deixou a esperança de que a comissão de inquérito possa discutir como tudo aconteceu na criação das chamadas rendas excessivas. Mas avisou: “O sistema de informação, para quem queira tomar decisões, é muito difícil.” O secretário de Estado afirmou que procurou dados nos arquivos dos últimos anos, mas não foi bem-sucedido: “Quero dizer que não os encontro.” O exemplo foi uma alteração feita em 2013 ao regime dos CMEC (Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual) assinados com os produtores eléctricos. Criados em 2004 e implementa­dos em 2007, o regulador ERSE já veio dizer publicamen­te que trouxeram maiores custos para os consumidor­es do que os instrument­os em vigor até então. Seguro Sanches contou que não consegue descobrir quais as condições propostas no diploma governamen­tal (portaria n.º 85-A/2013) que alteraram em parte aquele regime. O Governo não conseguiu lá chegar, mas um dos documentos pedidos, pela mão do PS, para que chegue à comissão de inquérito visa precisamen­te “toda a correspond­ência e documentaç­ão enviada/recebida por membros do Governo português ou dos seus gabinetes de/para EDP” sobre aquela portaria. Os partidos aprovaram o pedido de documentaç­ão proposto. Desde logo, é solicitada à Procurador­ia- Geral da República “todos os documen- tos relacionad­os com investigaç­ões passadas ou em curso com relevância no âmbito da comissão parlamenta­r de inquérito”, com base num requerimen­to do PSD. O Bloco pediu “todos os documentos associados à investigaç­ão em curso na PGRdadenom­inada Operação Ciclone ou outra com elevância no âmbito desta CPI”. O PS solicita os “documentos relativos a processos judiciais que envolvam rendas na energia que não estejam em segredo de justiça”.

Privatizaç­ão regressa

Os partidos querem, também, perceber o que foi prometido às empresas aquando das várias fases de privatizaç­ão da EDP. O PSD, que apoiou o Governo responsáve­l pela última fase, elenca “todos os documentos elaborados pelos consultore­s jurídicos e financeiro­s das várias operações de privatizaç­ão da EDP, nomeadamen­te: estudos de mercado, avaliações financeira­s, avaliações de risco jurídico e suporte das decisões do modelo de privatizaç­ão”. Adocumenta­ção técnica, que esteve na base de decisões relativas aos vários instrument­os que podem configurar as rendas excessivas, concentra o protagonis­mo nos pedidos. Também os reguladore­s e as empresas são alvo de requerimen­tos de documentaç­ão, incluindo as reuniões entre a EDP e a REN, bem como o Governo, a quem é pedida a correspond­ência com Bruxelas e bancos de investimen­to sobre este tema.

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Direitos Reser vados Os partidos querem saber o que foi prometido às empresas aquando das várias fases de privatizaç­ão da EDP, liderada por António Mexia.

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