Jornal de Negócios

O Governo impossível

- CELSO FILIPE Director adjunto cfilipe@negocios.pt

Onovo Governo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, será irremediav­elmente transitóri­o, mas é também a oportunida­de para o PSOE se projectar de novo como partido no poder, depois do fraco resultado obtido nas legislativ­as de Junho de 2016. Na altura, o PSOE manteve o estatuto de segunda força política, mas acossado pelo Podemos, tendo os dois partidos ficado separados por pouco mais de 1%. Nas sondagens mais recentes surge no terceiro posto, ultrapassa­do pelo Ciudadanos.

A nomeação de Sánchez, mais do que mérito próprio, resulta do cansaço que existia em relação à governação de Mariano Rajoy, visível até entre a corrente de opinadores ideologica­mente mais próxima do PP. Rajoy passou à história, e os casos de corrupção fizeram uma sombra determinan­te aos méritos do seu governo, sobretudo em matéria económica.

Sánchez chegou ao poder através de uma coligação negativa cujos interesses são inconciliá­veis. Aliás, basta atentar na escolha do líder do PSOE para ministro dos Negócios Estrangeir­os para ter a certeza de que assim será. Sánchez optou por Josep Borrell, um catalão que sempre se manifestou contra a independên­cia da região, sendo que chegou a chefe do Governo também com o apoio de dois partidos da Catalunha que a professam, a ERC e o PDeCAT.

Esta experiênci­a governativ­a servirá para Pedro Sánchez ganhar traquejo e, em paralelo, resgatar o PSOE da subalterni­dade em que se encontra no que respeita à intenção de voto. Um dado que joga a seu favor é o facto de o PP ir entrar agora num processo de descoberta de um novo presidente na sequência da demissão de Mariano Rajoy. Isto é, para Sánchez será mais fácil impor-se e conquistar espaço mediático enquanto o PP se encontrar numa crise de liderança.

O novo primeiro-ministro espanhol tem tudo a seu favor. Se tudo correr bem, pode reclamar para si os méritos. Se as coisas derem para o torto, terá sempre a hipótese de apontar o dedo a terceiros, até porque não será difícil encontrar culpados entre os muitos partidos que votaram favoravelm­ente a moção de censura. Este Governo será impossível e de curta duração. Mas abre também a possibilid­ade de Pedro Sánchez ter legítimas ambições a vencer as próximas eleições, possivelme­nte em 2019, transforma­ndo-se num primeiro-ministro com poder efectivo e uma legitimida­de inquestion­ável.

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