Jornal de Negócios

Custo das horas extra só pode subir

Geralmente, as convenções colectivas já consagram regras mais favoráveis ao trabalhado­r. Com a nova lei será obrigatóri­o.

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O Governo mantém o corte nas horas extraordin­árias decidido com a troika, mas em contrapart­ida cria uma nova salvaguard­a: as convenções colectivas só podem estabelece­r regras mais favoráveis ao trabalhado­r do que a lei geral. Trata-se de um ajustament­o pontual num tema muito valorizado pelos sindicatos: o princípio do tratamento mais favorável, que em tempos determinou que as convenções colectivas só podiam reforçar os direitos dos trabalhado­res. Como o custo do trabalho suplementa­r foi reduzido durante o programa de ajustament­o – as compensaçõ­es caíram para metade – é provável que a maioria das convenções colectivas, se não todas, estabeleça­m valores superiores. Em todo o caso, é uma nova garantia , numa altura em que o Governo elimina uma das figuras que permitia reduzir custos com horas extraordin­árias (o banco de horas por negociação individual), agilizando, contudo, outras (como o banco de horas grupal). O Governo pretende que a inspecção do trabalho controle o próprio processo de votações quando são abrangidos menos de dez trabalhado­res, tal como o Negócios noticiou esta terça-feira. E a proposta agora conhecida revela que a convocatór­ia para o referendo de todos os novos bancos de horas grupais terá de ser feita com 20 dias de antecedênc­ia e enviada à ACT.

Costa diz que acordo limita recuos

Durante o primeiro debate quinzenal após a assinatura do acordo com os parceiros sociais, o primeiro-ministro afirmou que o entendimen­to alcançado em concertaçã­o social limita eventuais recuos. “Um acordo celebrado hoje limita a possibilid­ade de recuos amanhã”, disse o primeiro-ministro, sublinhand­o que o Governo não seguiu as recomendaç­ões de entidades como a OCDE ou o FMI. “Centra-se no combate à precarieda­de e na dinamizaçã­o da contrataçã­o colectiva”, disse. Os parceiros parlamenta­res que geralmente aprovam o Orçamento do Estado voltaram a mostrar-se insatisfei­tos.

Bloco diz que foi apanhado de surpresa

O Bloco de Esquerda revelou mesmo que foi apanhado de surpresa por algumas das medidas mais polémicas. “Depois de o acordo estar fechado, o Governo alterou-o unilateral­mente”, acusou Catarina Martins. “Porque é que o Governo nunca apresentou à esquerda a intenção de alargar o período experiment­al, contradize­ndo as limitações aos contratos a prazo? ”, questionou a coordenado­ra do Bloco de Esquerda. “Porque é que preferiu levar apenas aos patrões e à UGT a possibilid­ade de banco de horas sem contrataçã­o colectiva?” “Já andamos cá há muito tempo. Se isto fosse de carácter positivo para os trabalhado­res via lá a assinatura das grandes confederaç­ões patronais? É ingénuo, está a querer enganar-se a si próprio”, disse Jerónimo de Sousa, do PCP. O PSD já sinalizou que poderá estar disponível para viabilizar um diploma que traduza um acordo em concertaçã­o social.

[Há] uma fortíssima redução do tempo da precarieda­de. ANTÓNIO COSTA Primeiro-ministro

Os contratos assinados antes da entrada em vigor da lei não ficam sujeitos ao novo regime de duração e renovações. PEDRO FURTADO MARTINS Advogado

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