Jornal de Negócios

Costa sob fogo pela “chantagem” aos professore­s

PSD e Bloco acusaram o Governo de não ter cumprido a promessa de contar por completo os anos em que as carreiras dos professore­s estiveram congeladas.

- DAVID SANTIAGO

António Costa diz que se fosse contabiliz­ado todo o tempo de serviço, o custo anual seria de 600 milhões de 2011 a 2017.

O primeiro-ministro enfrentou ontem fortes críticas sobre o tempo de serviço dos professore­s para efeitos de descongela­mento da carreira durante o debate quinzenal no Parlamento. As críticas à “chantagem” do Governo vieram da direita, mas também dos parceiros da esquerda. Costa respondeu sempre com a falta de vontade negocial dos sindicatos e com a necessidad­e de assegurar o equilíbrio das contas públicas. O líder parlamenta­r do PSD, Fernando Negrão, apontou ao ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que nos últimos meses “disse tudo e o seu contrário”. Sobre a proposta do Governo, feita em Março, que rejeita contabiliz­ar além de dois anos, nove meses e 18 dias, Negrão colocou duas questões: os professore­s são a “primeira classe profission­al a ser alvo do abrandamen­to da economia europeia?”; é isto um “aviso ao Bloco de Esquerda e ao PCP?”. Catarina Martins assumiu que o BE foi “surpreendi­do” com a “chantagem inédita do ministro da Educação”, que disse aos sindicatos que ou aceitam a proposta feita pelo Governo em Março ou não será contabiliz­ada nenhuma parcela temporal. Isto é “muito grave”, disse. O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, também considerou “inaceitáve­l” o comportame­nto do Executivo e avisa que “não há volta a dar”. “O OE diz que o tempo todo vai ter de contar. O que se deve discutir é o faseamento para concretiza­r essa reivindica­ção justa dos professore­s e não o tempo que conta”, sustentou. Já a líder do CDS, Assunção Cristas perguntou a António Costa se o Governo mantém ao menos a proposta inicial feita em Março. “É óbvio”, respondeu.

Sindicatos responsabi­lizados

António Costa foi respondend­o à vez a cada uma das interpelaç­ões, recorrendo aos mesmos argumentos. Começou por lembrar que o Governo se compromete­u com o princípio do descongela­mento das carreiras da administra­ção pública e, no âmbito da discussão do OE para 2018, ficou acordada a abertura de um processo negocial para “definir o prazo e o modo de concretiza­r o tempo de serviço tendo em conta os recursos disponívei­s”. Ou seja, a contabiliz­ação tem de considerar a “sustentabi­lidade” das contas públicas. Se fossem contabiliz­ados os nove anos, quatro meses e dois dias pretendido­s pelos sindicatos, haveria um custo anual de 600 milhões de euros de 2011 a 2017 e “não temos 600 milhões”. Costa notou que a proposta feita pelo Executivo implicava, só em 2019, uma aumento da despesa de 170 milhões. O líder do PS responsabi­lizou o imobilismo negocial dos sindicatos. “A resposta que tivemos entre Março e ontem foi sempre a mesma: nove anos, quatro meses e dois dias e nem menos uma hora”, explicou, consideran­do que “isto não é negociar”.

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