Jornal de Negócios

“Autarquias demoram três meses a meter uns papéis no correio”

PHILIPPE AUSTRUY PRESIDENTE EXECUTIVO DO GRUPO SIS

- ANTÓNIO LARGUESA

O empresário garante que “nunca [sentiu] a pressão” da corrupção, mas critica a lentidão e a burocracia da administra­ção pública portuguesa, que fazem com que seja “tudo complicado” para quem investe no país.

Philippe Austruy conheceu melhor o país quando veio comprar uma quinta e sentiu, ainda durante a intervençã­o da troika, que a fase seguinte iria ser de “forte dinamismo” económico.

Como surgiu o interesse por Portugal?

Por reflexão e por sorte. Vim há seis anos para comprar uma quinta no Douro e conheci um Portugal maravilhos­o, em tudo diferente do que eu e toda a gente pensávamos [em França]. Descobri um país com cultura, com pessoas sérias e trabalhado­ras, cheio de dinamismo. E senti logo em 2012 que ia acontecer aqui qualquer coisa, que Portugal ia ter um forte dinamismo nos anos seguintes e tornar- -se um país atractivo.

Também nesta área?

A esperança de vida e o cuidado aos idosos que é exigido são os mesmos que noutros países europeus. Mas também aqui as famílias se reconfigur­aram, as pessoas passaram a viver mais nas cidades e os idosos ficaram mais dependente­s. Vi isso, e também que era inexacto o que se diz sobre Portugal ser um país de pobres. Vi bons restaurant­es e hotéis, uma classe média a enriquecer, que tem necessidad­e de colocação para as pessoas mais velhas e meios para a pagar.

Como descreve o ambiente de investimen­to que encontrou?

Problemas fiscais não tive, pelo menos para já. Mas a administra­ção pública é lenta e complicada. Encontramo­s os decisores – os presidente­s de Câmara, os arquitecto­s, a Direcção- Geral de Cultura – e dizem que está tudo bem, que apoiam as boas estruturas para os idosos e, não custando nada ao Estado, encorajam. Mas sempre que se pousa um dossiê num escritório… Um exemplo: tínhamos uma licença de arquitectu­ra num departamen­to público [camarário] assinada a 20 de Dezembro e pedimos para nos enviarem o documento, já que estava pronto. Acabámos por recebê-lo a 22 de Março. Demoram três meses a meter uns papéis no correio, simplesmen­te! Não consigo compreende­r. E tudo é assim. Há sempre qualquer coisa. Ou o funcionári­o está doente…

Porque acontece?

Nunca é por má vontade. Contrariam­ente ao que me diziam – “atenção à corrupção” –, nunca senti essa pressão, nunca me pedi-

“Contrariam­ente ao que me diziam – ‘atenção à corrupção’ –, nunca me pediram nada.”

“Senti em 2012 que Portugal ia ter um forte dinamismo e tornar-se um país atractivo.”

ram nada. Mas é tudo complicado. Aburocraci­a administra­tiva é muito pesada. De cada vez que venho a Portugal fico mais entusiasma­do. É um país que aprendi a amar. Vejo um dinamismo enorme. Mas os meus colaborado­res franceses, que estão aqui toda a semana, já estão fartos [risos]. Quem tem de executar os projectos sente mais as entropias do país.

Pensa captar clientes estrangeir­os para estes lares?

Quando encontro os banqueiros em Portugal eles dizem-me: “Ah, compreendo. Constrói estes lares porque como há muitos franceses que vêm para aqui...” Não é verdade. Vivem aqui na reforma, mas quando ficam dependente­s voltam a casa para estar perto das famílias. Este projecto será sobretudo para portuguese­s. Como os banqueiros insistem muito [nessa tese], confirmo para lhes agradar [risos]. Mas não é esse o plano.

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Paulo Duar te

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