“Autarquias demoram três meses a meter uns papéis no correio”
PHILIPPE AUSTRUY PRESIDENTE EXECUTIVO DO GRUPO SIS
O empresário garante que “nunca [sentiu] a pressão” da corrupção, mas critica a lentidão e a burocracia da administração pública portuguesa, que fazem com que seja “tudo complicado” para quem investe no país.
Philippe Austruy conheceu melhor o país quando veio comprar uma quinta e sentiu, ainda durante a intervenção da troika, que a fase seguinte iria ser de “forte dinamismo” económico.
Como surgiu o interesse por Portugal?
Por reflexão e por sorte. Vim há seis anos para comprar uma quinta no Douro e conheci um Portugal maravilhoso, em tudo diferente do que eu e toda a gente pensávamos [em França]. Descobri um país com cultura, com pessoas sérias e trabalhadoras, cheio de dinamismo. E senti logo em 2012 que ia acontecer aqui qualquer coisa, que Portugal ia ter um forte dinamismo nos anos seguintes e tornar- -se um país atractivo.
Também nesta área?
A esperança de vida e o cuidado aos idosos que é exigido são os mesmos que noutros países europeus. Mas também aqui as famílias se reconfiguraram, as pessoas passaram a viver mais nas cidades e os idosos ficaram mais dependentes. Vi isso, e também que era inexacto o que se diz sobre Portugal ser um país de pobres. Vi bons restaurantes e hotéis, uma classe média a enriquecer, que tem necessidade de colocação para as pessoas mais velhas e meios para a pagar.
Como descreve o ambiente de investimento que encontrou?
Problemas fiscais não tive, pelo menos para já. Mas a administração pública é lenta e complicada. Encontramos os decisores – os presidentes de Câmara, os arquitectos, a Direcção- Geral de Cultura – e dizem que está tudo bem, que apoiam as boas estruturas para os idosos e, não custando nada ao Estado, encorajam. Mas sempre que se pousa um dossiê num escritório… Um exemplo: tínhamos uma licença de arquitectura num departamento público [camarário] assinada a 20 de Dezembro e pedimos para nos enviarem o documento, já que estava pronto. Acabámos por recebê-lo a 22 de Março. Demoram três meses a meter uns papéis no correio, simplesmente! Não consigo compreender. E tudo é assim. Há sempre qualquer coisa. Ou o funcionário está doente…
Porque acontece?
Nunca é por má vontade. Contrariamente ao que me diziam – “atenção à corrupção” –, nunca senti essa pressão, nunca me pedi-
“Contrariamente ao que me diziam – ‘atenção à corrupção’ –, nunca me pediram nada.”
“Senti em 2012 que Portugal ia ter um forte dinamismo e tornar-se um país atractivo.”
ram nada. Mas é tudo complicado. Aburocracia administrativa é muito pesada. De cada vez que venho a Portugal fico mais entusiasmado. É um país que aprendi a amar. Vejo um dinamismo enorme. Mas os meus colaboradores franceses, que estão aqui toda a semana, já estão fartos [risos]. Quem tem de executar os projectos sente mais as entropias do país.
Pensa captar clientes estrangeiros para estes lares?
Quando encontro os banqueiros em Portugal eles dizem-me: “Ah, compreendo. Constrói estes lares porque como há muitos franceses que vêm para aqui...” Não é verdade. Vivem aqui na reforma, mas quando ficam dependentes voltam a casa para estar perto das famílias. Este projecto será sobretudo para portugueses. Como os banqueiros insistem muito [nessa tese], confirmo para lhes agradar [risos]. Mas não é esse o plano.