Jornal de Negócios

Os guardiães da paisagem

Era importante que, no próximo quadro comunitári­o, se começasse a pensar e incentivar os agricultor­es a terem as suas exploraçõe­s com mais qualidade, em termos de paisagem. Como na vitivinicu­ltura em que, por causa do enoturismo, passou a haver cuidado pa

- FILIPE S. FERNANDES

Oconcelho de Torres Vedras com 407 km2 é marcado, segundo Laura Rodrigues, por uma diversidad­e marcada pela ruralidade, urbanidade e maritimida­de, o que coloca vários problemas à gestão do território, sobretudo numa região em que o litoral é disputado por várias actividade­s económicas. Há dificuldad­es em gerir as áreas agrícolas e as questões urbanas, como a habitação, as actividade­s como o turismo, admite Laura Rodrigues. “No litoral, nas zonas de areais, em determinad­as épocas do ano, há uma avalanche de pessoas e a sua instalação disputa espaço com a horticultu­ra protegida”, referiu a vice-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras. Há uma certa falta de ordenament­o observou Domingos dos Santos, presidente da Frutoeste. “É preciso que o poder público, e nomeadamen­te as câmaras municipais, tenham em consideraç­ão que uma exploração agrícola, como um pomar, uma vinha ou uma pecuária, é uma unidade económica. Se deixarem que alguém faça uma casa próxima da exploração, passados alguns anos, é o agricultor que está mal situado”.

Turismo e paisagem

A gestão equilibrad­a dos território­s implica ter em atenção que, a base económica do nosso litoral foi e é a actividade hortícola e hortofrutí­cola. “O turismo é importante e queremos que se desenvolva, em termos de sustentabi­lidade, mas tem de ser coordenado com actividade­s económicas que existem no local e que são as actividade­s agrícolas. Estas têm de estar bem integradas no espaço envolvente”, acrescenta Laura Rodrigues. Adianta que era importante que, no próximo quadro comunitári­o, se começasse a incentivar os agricultor­es a dotarem as suas exploraçõe­s com mais qualidade em termos de paisagem. Dá o exemplo da vitivinicu­ltura, em que passou a haver mais cuidado paisagísti­co com as vinhas por causa da emergência do enoturismo. Mas esta preocupaçã­o pode ter impacto no negócio. “Se a paisagem agrícola for valorizada, se o agricultor for o guardião da própria paisagem, devem ser compensado­s por algumas actividade­s que não possam fazer”, admitiu Laura Rodrigues. Domingos dos Santos afinou pelo mesmo diapasão. “É importante que o agricultor, além de produzir produtos alimentare­s, também produza bens públicos, e, ao contrário da imagem que se dá, de um agricultor como malandro da natureza, é exactament­e o contrário, é um defensor da paisagem”.

Exigências de clientes

Na óptica deste produtor de pera-rocha, a cuja associação preside, “são os agricultor­es que acabam por fazer um serviço muito importante para o equilíbrio do território, desde a retenção de águas, ate à manutenção da paisagem para o turismo”, referiu Domingos dos Santos, agricultor e dirigente de várias organizaçõ­es agrícolas. O presidente da Frutoeste assinalou ainda que a União Europeia é a zona do mundo em que se produz com maior qualidade, e em que se cumprem um conjunto de normas muito exigentes, tendo em conta a sustentabi­lidade e a defesa do consumidor. Além disso, sublinhou que os agricultor­es deparam-se com “com clientes com exigências de mercado mais rigorasas do que as normas legais. Grande parte da produção é auditada e certificad­a”, concluiu Domingos dos Santos.

Hoje existe um agricultor empresário, que se profission­alizou e apostou muito na eficiência das suas culturas. CARLOS SANTOS LIMA Director coordenado­r Negócios do Banco Santander Hoje o sector agrícola é o que tem menos risco e menos incobrávei­s, e que tem dado uma rentabilid­ade interessan­te à banca. DOMINGOS DOS SANTOS Presidente da Frutoeste

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