Jornal de Negócios

Leonor Beleza é a personalid­ade do ano

- FILIPE S. FERNANDES

O Negócios e a PwC entregaram na noite de quarta-feira os prémios Excellens Oeconomia, com os quais reconhece os melhores e aqueles que se afirmam pela sua actuação. Na edição deste ano, o prémio personalid­ade foi atribuído a Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalima­ud, enquanto o galardão que distingue a empresa do ano foi entregue à TMG Automotive. O júri decidiu ainda selecciona­r cinco empresas que renasceram das cinzas após os incêndios do Verão passado.

Notabilizo­u-se na liderança política, mas fechada a porta da política, um telefonema de António Champalima­ud mudou-lhe o destino e deu-lhe a liderança da Fundação Champalima­ud, que fez de raiz. Em 1982, quando Leonor Beleza foi convidada para a Secretaria de Estado da Presidênci­a do Conselho de Ministros, pediu para ser nomeada secretária de Estado. Três anos depois, foi nomeada para a pasta da Saúde, por Cavaco Silva, e repetiu o pedido para ser ministra. Foi o primeiro membro do Governo em Portugal designado no feminino. Nasceu no Porto a 23 de Novembro de 1948 numa família ligada à burocracia do regime e com acções na empresa de Vinhos Borges. É a mais velha de cinco irmãos. Licenciou-se em Direito, em 1972 na Faculdade de Direito da Universida­de de Lisboa, onde começou uma carreira como assistente em direito da família. Em 1975, esteve no gabinete do ministro dos Assuntos Sociais, Jorge Sá Borges, e, depois, na Comissão da Condição Feminina. Em 1977, participou na Comissão que fez a reforma do Código Civil português, que modernizou o direito da família. Entrou para a SEDES antes do 25 de Abril de 1974 e, depois aderiu ao PPD, actual PSD. “A primeira vez que o PPD fez um comício, no fim de 1974, no Pavilhão dos Desportos, o Francisco Sá Carneiro pediu-me para falar das mulheres. A primeira vez que tive uma oportunida­de pública de fazer um statement político foi sobre os direitos das mulheres”, recordou numa entrevista à Notícias Magazine.

Via crucis judicial

Depois de cinco anos como ministra, em 1990, Leonor Beleza foi substituíd­a na pasta da Saúde por Arlindo de Carvalho. Na sua autobiogra­fia política, Cavaco Silva, então primeiro-ministro, reconheceu a coragem de Leonor Beleza, “demonstrad­a na luta contra os grupos de interesses na área da saúde”. Regressou à Assembleia da República e entrou para a advocacia, depois de estagiar com o patrono, Luís Queiró. Foi consultora na Presidênci­a do Conselho de Ministros e dirigiu o serviço jurídico da TVI. Leonor Beleza viveu a via crucis dos tribunais quando, em 1986, foi feita arguida pelo crime de negligênci­a com dolo, no caso dos 137 hemofílico­s contaminad­os com o vírus do VIH/sida em transfusõe­s feitas em hospitais públicos. O processo foi definitiva­mente arquivado pelo Supremo em 2003. “O arrastar do caso dos hemofílico­s ao longo de duas décadas acabou por liquidar o futuro político de Leonor Beleza, que se desenhava na linha da frente da ribalta política”, escreveu São José Almeida no Público de 29 de Dezembro de 2010.

O telefonema fatal

Fechou-se a porta da política activa, abriu-se a da Fundação Champalima­ud, com um património que ronda hoje os mil milhões de euros, segundo o Centro Português de Fundações. Em 2000, António Champalima­ud telefonou a Leonor Beleza dizendo-lhe: ‘Vou escrever um testamento e criar uma fundação, que tem que ver com a saúde, e queria saber se a senhora aceita ser presidente.’ Anuiu no mesmo instante. Só quatro anos depois, a 8 de Maio de 2004, quando António Champalima­ud morreu, a fundação tomou forma e surgiu em 2005. To rno u- s e p re s i de nte da Fundação Champal imaud, que se dedica à investigaç­ão científi- cana área da saúde, com ênfase no que“édes conhecido no âmbito da ciência e da tecnologia, onde queremos, e já estamos, a deixar uma marca de presença e de reputação”, escreveu Leonor Beleza. Em 2007, começou a ser concedido o prémio anual no campo da prevenção da cegueira, o Prémio António Champalima­ud de Visão no valor de um milhão de euros. Foi lançado o actual Internatio­nal Doctoral Programme in Neuroscien­ces (INDP), e criado o Champalima­ud Research com o Champalima­ud Neuroscien­ce Programme. Em 2014, estabelece­u oCancerRe se arch Programme. Hoje, abrange 17 laboratóri­os, com cerca de 250 cientistas. Em 2012, chegou a ser considerad­a pela The Scientist como um dos melhores locais para trabalhar fora dos Estados Unidos. Em 2010, o Centro Champalima­ud foi oficialmen­te inaugurado. O Centro Clínico Champalima­ud presta cuidados clínicos especializ­ados de oncologia, e desenvolve programas avançados de investigaç­ão médica. Conta com cerca de 400 profission­ais, dos quais 98 são médicos e 120 enfermeiro­s.

O património da Fundação Champalima­ud ronda os mil milhões de euros.

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Foi ministra da Saúde e aceitou o convite para liderar a Fundação Champalima­ud em 2000.
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D.R. Leonor Beleza aceitou em 2000 o convite para liderar a Fundação Champalima­ud.

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