Jornal de Negócios

Governo e professore­s estão separados por 400 milhões de euros

- MARGARIDA PEIXOTO

Segundo as contas do Executivo, a proposta de reconhecim­ento de dois anos e nove meses do tempo de carreira dos professore­s implica um acréscimo da despesa líquida anual na ordem dos 113 milhões de euros. As reivindica­ções dos sindicatos custam mais 514 milhões.

Cerca de 400 milhões de euros – é este o número que separa o Governo dos sindicatos dos professore­s. Segundo as contas do Executivo, a proposta de reconhecim­ento de dois anos e nove meses do tempo de carreira dos professore­s implica um acréscimo de despesa líquida anual na ordem dos 113 milhões de euros. Já as reivindica­ções dos professore­s custam mais 514 milhões de euros. As contas do Executivo descontam o impacto da taxa social única, uma vez que esta reverte como receita para a Segurança Social e por isso atenua o custo orçamental. Sem descontar este efeito, ou seja, em termos brutos, a proposta de aproximaçã­o aos professore­s, já rejeitada pelos sindicatos, custaria mais 140 milhões por ano. Este número compara com um acréscimo de despesa na ordem dos 635 mi- lhões , se fosse aplicada a proposta dos sindicatos. Os números foram calculados assumindo que não há faseamento e, por isso, com base no ano de 2023. Ou seja, na verdade, a reivindica­ção dos sindicatos no curto prazo tem um custo inferior. As contas do Governo apontam para 259 milhões de acréscimo em 2019, face aos gastos de 2017, em vez dos 170 milhões que decorrem do descongela­mento já aplicado com o Orçamento do Estado. Daqui resulta que só a partir do momento em que o faseamento ficasse concluído é que o valor subiria para a dimensão que tem sido referida pelo primeiro-ministro – os cerca de 600 milhões. Já o custo, no curto prazo, da proposta do Governo (dois anos e nove meses de reconhecim­ento de tempo de serviço perdido) não está calculado, uma vez que as negociaçõe­s foram interrompi­das antes de se chegar à fase do modelo do faseamento. Na proposta que os sindicatos recusaram, em que o Governo aceita recuperar exactament­e dois anos, nove meses e 18 dias do tempo perdido, o Executivo frisa que “este é o [seu] limite negocial”. Tanto o pri- meiro-ministro como o ministro da Educação têm frisado que os sindicatos não fizeram qualquer cedência. A proposta que continua em cima da mesa é a que sempre esteve: recuperar os sete anos de congelamen­to aplicados no período da troika, aos quais se somam dois anos de congelamen­to anterior. No total, implica recuperar nove anos de tempo de serviço. Mas esta guerra surgiu já no ano passado e resulta do modelo de descongela­mento das carreiras dos funcionári­os públicos. Quando o Governo decidiu descongela­r as pro-

gressões, optou por simplesmen­te reverter as normas de congelamen­to que vinham sendo aplicadas desde 2011. Isto é: nas carreiras cujo elemento determinan­te para a progressão é a avaliação de desempenho, os pontos entretanto acumulados passaram a surtir efeitos práticos na remuneraçã­o. Já nas carreiras em que o elemento determinan­te para subir de escalão é o tempo, foi “colocado o cronómetro a contar”, como tem argumentad­o António Costa. Foi desta decisão que surgiram as reivindica­ções dos professore­s, que se sentiram injustiçad­os por perderem por completo o tempo de serviço que decorreu durante o congelamen­to. O Executivo acabou por assinar uma “declaração de compromiss­o” onde aceitou negociar o tempo, o modo de recuperaçã­o e o calendário dos anos perdidos. Mais tarde, esta intenção viria a integrar a lei do OE para 2018, mas com algumas nuances. Diferenças que os sindicatos argumentam agora que fizeram acreditar que o que estaria em causa seria apenas negociar o modo de recuperaçã­o de todo o tempo perdido.

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Governo e professore­s não se entendem. Os sindicatos anunciaram ontem um ciclo de greves que se pode prolongar até Outubro.
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Luís Forra/Lusa

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