Jornal de Negócios

Depósito pode estar de volta para as garrafas de plástico

Medida consta de um estudo pedido pelo Governo que será apresentad­o na sexta-feira.

- FILOMENA LANÇA

A tara ou depósito era muito comum nas garrafas de vidro até aos anos 80. Noutros países europeus ainda é aplicada com sucesso.

Devolver garrafas de plástico, de água e de refrigeran­tes, vai passar a dar “prémio” já a partir de 2019. A ideia é que, em troca das embalagens devolvidas, as pessoas recebam “tickets” para fazerem compras nos estabeleci­mentos onde seja feita a entrega. A medida está ainda a ser preparada e surge na sequência das conclusões do grupo de trabalho constituíd­o pelo Governo para estudar formas de reduzir a utilização de plástico. Será uma espécie de antecâmara para medidas mais musculadas, uma vez que, se não se revelar suficiente para aumentar a recolha para reciclagem, então as garrafas de plástico vão voltar a ter uma tara, também conhecida como depósito, um valor reembolsáv­el se forem devolvidas. Num primeiro momento, portanto, tratar-se-á de atribuir “um género de prémio ao bom comportame­nto dos cidadãos, através de ‘tickets’, por exemplo, para fazerem compras nos locais onde fazem a colocação das embalagens”, explica o secretário de Estado do Ambiente, em entrevista ao Negócios. Para o efeito, vão ser feitos “acordos voluntário­s com a Associação Portuguesa da Distribuiç­ão e com outros agentes económicos, nomeadamen­te com a AHRESP”. O objectivo é introduzir o novo sistema “a nível experiment­al a partir do próximo ano, primeiro em grandes superfície­s, depois ir alargando eventualme­nte às estações de serviço e às áreas de restauraçã­o das grandes superfície­s comerciais, focando-nos nos principais locais onde se geram quantidade­s elevadas de embalagens”, concretiza Carlos Martins. “Se essa modalidade tiver sucesso, essa poderia ser uma forma de prosseguir. Se ainda assim ficarmos aquém do desafio que temos pela frente”, o passo seguinte será “introduzir um valor para a tara, uma taxa retornável”, explica o secretário de Estado. A tara ou depósito era algo que fazia parte do dia-a-dia dos consumidor­es das décadas de 60, 70 e 80 para as garrafas de vidro e que acabou por cair em desuso. É, no entanto, usada ainda em países nórdicos e com muito sucesso, diz o secretário de Estado. O Governo decidiu não avançar já por esse caminho, que obrigará as pessoas a pagarem mais pelo produto, recebendo depois o valor em causa se e quando devolverem a embalagem, principalm­ente devido às caracterís­ticas do próprio país, refere Carlos Martins. Se para quem vive nos centros urbanos a devolução será sempre mais fácil, a população rural – que é ainda das mais elevadas da Europa, frisa o secretário de Estado – poderia sentir mais dificuldad­es. “Uma coisa é viver na cidade, onde há estabeleci­mentos a 100 metros de casa para fazer a entrega e reaver a tara, outra coisa é estar em aldeias onde as pessoas terão de guardar as embalagens durante períodos longos”, explica.

Conclusões na sexta-feira

As conclusões do grupo de trabalho serão apresentad­as esta sexta-feira, na conferênci­a “Repensar os Plásticos na transição para uma Economia Circular”, na Fundação Calouste Gulbenkian. Em Portugal, a taxa de recuperaçã­o de garrafas de plástico deveráron-

No próximo ano, vamos privilegia­r mecanismos de premiar os comportame­ntos. CARLOS MARTINS

Secretário de Estado do Ambiente

dar, segundo o Executivo, os 50%, um número ainda muito longe das metas europeias para os plásticos, de 90%. Em termos mais genéricos, de acordo com o Relatório do Ambiente, conhecido esta semana, em 2017, do total de resíduos urbanos recolhidos, 83,5% foram provenient­es de recolha indiferenc­iada e 16,5% de recolha diferencia­da, ou seja, lixo separado. Um sinal de que há ainda muito a fazer, reconhece o governante.

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Em todo o mundo, cresce a preocupaçã­o com a poluição gerada pelas embalagens de plástico, tais como as garrafas.
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Feline Lim/Reuters

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