Jornal de Negócios

A Invencível Armada e o OE

- FERNANDO SOBRAL Grande repórter

Diz-se que, humilhado, Alonso Pérez de Guzmán, o comandante da Invencível Armada que tentou invadir a Inglaterra em 1588, declarou em sua defesa que estava preparado para lutar contra os ingleses, mas não contra os temporais. Filipe II tinha-lhe encomendad­o uma missão impossível. E Guzmán teve tudo contra si, até a natureza. Quando se entra no último ano de poder antes de eleições ninguém quer comandar uma Invencível Armada. António Costa sabe isso e os partidos que suportam, à esquerda, este Governo também estão cientes disso. Não é por acaso que os sindicatos afectos a PCP começam a incendiar a pradaria (dos comboios à Autoeuropa). Tal como outras reivindica­ções têm um dedo do PSD ou do CDS. Não é pelas chuvas tardias de Primavera que os sindicatos dos professore­s colocam o ministro da Educação contra a parede. O tempo de algumas decisões começa a fazer-se agora. Todos sabem isso. E o Governo, que também de contentar Bruxelas, intui que a política pode ser a arte de fazer hoje os erros de amanhã. Isto é, decidir mal agora o que nos vai ser cobrado com juros num futuro próximo. Há quem, na política, divida os problemas entre os que se resolvem sozinhos e os que não se resolvem de maneira nenhuma. O dos professore­s é um deles. O Governo e o PS estão aqui defronte uma equação complicada: por um lado não há dinheiro para pagar tantos anos de progressão nas carreiras; por outro, os votos dos professore­s (e do funcionali­smo público) são fundamenta­is para se garantirem maiorias. BE e PCP sabem que esse é o calcanhar de Aquiles do Governo. Por isso vai ser uma complicaçã­o criar um castelo de cartas no OE de 2019. Todos vão querer aparecer junto dos eleitores como os distribuid­ores de maná. Ou como os que lutaram destemidam­ente contra um Governo que deu a uns, mas que tirou aos outros. A Invencível Armada já saiu do porto de abrigo. Resta ver se sobrevive às tempestade­s dos próximos meses.

Vai ser uma complicaçã­o criar um castelo de cartas no OE para 2019. Como já se vê.

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