A Invencível Armada e o OE
Diz-se que, humilhado, Alonso Pérez de Guzmán, o comandante da Invencível Armada que tentou invadir a Inglaterra em 1588, declarou em sua defesa que estava preparado para lutar contra os ingleses, mas não contra os temporais. Filipe II tinha-lhe encomendado uma missão impossível. E Guzmán teve tudo contra si, até a natureza. Quando se entra no último ano de poder antes de eleições ninguém quer comandar uma Invencível Armada. António Costa sabe isso e os partidos que suportam, à esquerda, este Governo também estão cientes disso. Não é por acaso que os sindicatos afectos a PCP começam a incendiar a pradaria (dos comboios à Autoeuropa). Tal como outras reivindicações têm um dedo do PSD ou do CDS. Não é pelas chuvas tardias de Primavera que os sindicatos dos professores colocam o ministro da Educação contra a parede. O tempo de algumas decisões começa a fazer-se agora. Todos sabem isso. E o Governo, que também de contentar Bruxelas, intui que a política pode ser a arte de fazer hoje os erros de amanhã. Isto é, decidir mal agora o que nos vai ser cobrado com juros num futuro próximo. Há quem, na política, divida os problemas entre os que se resolvem sozinhos e os que não se resolvem de maneira nenhuma. O dos professores é um deles. O Governo e o PS estão aqui defronte uma equação complicada: por um lado não há dinheiro para pagar tantos anos de progressão nas carreiras; por outro, os votos dos professores (e do funcionalismo público) são fundamentais para se garantirem maiorias. BE e PCP sabem que esse é o calcanhar de Aquiles do Governo. Por isso vai ser uma complicação criar um castelo de cartas no OE de 2019. Todos vão querer aparecer junto dos eleitores como os distribuidores de maná. Ou como os que lutaram destemidamente contra um Governo que deu a uns, mas que tirou aos outros. A Invencível Armada já saiu do porto de abrigo. Resta ver se sobrevive às tempestades dos próximos meses.
Vai ser uma complicação criar um castelo de cartas no OE para 2019. Como já se vê.