Bolha? A chave está no turismo
Asubida acelerada dos preços da habitação tem tanto um lado luminoso, como pode ter um lado negro. Mas pode-se ter o primeiro, sem cair necessariamente no segundo. Tudo depende de se conseguir um equilíbrio, que por ora não existe. Esta quarta-feira chegou o selo oficial daquilo que os indicadores do INE já mostravam. O Relatório de Estabilidade Financeira diz que há “alguns sinais de sobrevalorização” dos preços das casas.
O primeiro ponto a reter é a heterogeneidade. O comportamento de “bolha” é localizado sobretudo em Lisboa e Porto, e mesmo dentro destas cidades não é homogéneo. O que significa que o risco que este aquecimento dos preços representa, sendo relevante, não é generalizado.
O segundo é que este aumento é provocado não tanto pela maior procura das famílias por crédito para a compra de casa própria, mas por investidores, a maior parte estrangeiros e institucionais, e pelo crescimento do turismo.
Até aqui, as notícias são boas para quem investiu e tem agora um activo mais valioso. São boas para os bancos, que conseguem mais facilmente ver-se livres dos imóveis que têm nos balanços e por melhores preços, ajudando à digestão do malparado.
Há aqui, no entanto, um paradoxo. Por exigência da regulação, os bancos têm estado muito limitados na concessão de crédito para a promoção imobiliária. Um dos motivos por que os preços vêm subindo tão depressa, e o movimento chega já às periferias das referidas cidades, é porque há pouca oferta nova nas zonas onde há mais procura.
Sendo compreensiva a cautela, sem financiamento não há construção, sem mais oferta será difícil conseguir um equilíbrio. A menos que outros factores, e o Banco de Portugal cita a subida dos juros pelo BCE, consigam restringir suavemente a procura. O advérbio fará toda a diferença.
Neste momento, estamos num círculo virtuoso. O lado negro – e os problemas para os bancos – chegará se entretanto os motores desta “sobrevalorização” desaparecerem. Aí, os olhos estão todos postos no turismo e na sua sustentabilidade. Os últimos indicadores dizem que continua a crescer a bom ritmo, apesar do Brexit e da concorrência de novo aguerrida de destinos como a Turquia, a Tunísia ou o Egipto. Além dos preços das casas, convém ficar de olho no número de turistas.