Jornal de Negócios

“Taxa dos sacos de plásticos foi um nim em termos ambientais”

- FILOMENA LANÇA

O consumo de sacos de plásticos leves reduziu drasticame­nte e a introdução da taxa, em 2014, mudou mentalidad­es. No entanto, a transferên­cia para sacos mais pesados preocupa o Governo. “No que diz respeito à redução dos sacos de plástico leves foi um sucesso.” “Houve um aumento para os sacos mais grossos, com uma gramagem superior.”

Há ainda três milhões de portuguese­s “alheios às suas responsabi­lidades” em matéria ambiental, sendo que um terço da população também não cumpre a 100%. A contabilid­ade é feita pelo secretário de Estado do Ambiente que reconhece que falta “ainda ganhar os cidadãos para esta causa”.

A tributação sobre os sacos de plástico foi criada em 2014. Entretanto houve necessidad­e de voltar ao tema. O que foi feito não correspond­eu às expectativ­as?

Essa avaliação tem de ser feita em três dimensões. No que respeita à redução dos sacos de plástico leves foi um sucesso e ficou até muito acima daquilo que eram as expectativ­as. A receita que resultou dessa taxa foi de 2% do valor que se pensava que viesse a gerar, o que quer dizer que o uso dos sacos de plástico leve praticamen­te desaparece­u, ou quase.

E o que aconteceu com os sacos de gramagem superior?

Houve de facto uma contrapart­ida que do ponto de vista ambiental tem de ser também ponderada. Se os sacos leves reduziram, houve um aumento para sacos mais grossos. Muitas vezes esses sacos leves serem utilizados pelos cidadãos como sacos para se descartare­m dos resíduos e depois tiveram de passar a comprálos com essa gramagem superior.

Em termos de resíduos, não foi assim tão eficiente...

Diria que em termos de sacos leves foi eficiente e isso até nos permite encarar com optimismo as metas da UE. Do ponto de vista ambiental temos alguma preocupaçã­o, pela transferên­cia de sacos leves para sacos de gramagem mais elevada.

E houve mudanças na mentalidad­e dos consumidor­es?

É a terceira questão que gostaria de assinalar. Houve aqui uma matriz psicológic­a no sentido de as pessoas entenderem este tema o que é bastante positivo. Os cidadãos entenderam bem a mensagem e a maioria adoptou práticas de levar sacos reciclávei­s e sobretudo reutilizáv­eis para fazer as suas compras. Essa mudança de mentalidad­e é talvez a questão mais relevante.

Começaram a usar-se sacos maiores, sem asas, para as compras online.

Sim. Essa é também uma preo- cupação e vamos fazer algum estudo. As vendas online, mesmo com sacos sem asas, acabam por colocar em casa das pessoas muitos sacos. E isso constitui uma tendência porque é um comércio que está a crescer. E por questões associadas à segurança alimentar e às regras de funcioname­nto desse comércio online, o que acon- tece é que quase cada produto traz um saco e há um agravament­o. Gostaríamo­s, em colaboraçã­o com os agentes económicos, de encontrar soluções. Em suma, em relação aos sacos de plástico diria: Sim em termos de comportame­nto das pessoas, sim em termos de redução, nim em termos ambientais.

A ideia é agora evoluir também para a penalizaçã­o de outro tipo de embalagens, certo?

Temos tido preocupaçõ­es até decorrente­s da estratégia europeia para os plásticos e da própria directiva Resíduos que aí vem, e temos áreas que colocam desafios de natureza mais relevante. Desde logo, tentar recuperar para reciclagem 90% das garrafas de água mineral e de refrigeran­tes. É uma percentage­m elevada e hoje estimamos que a recuperaçã­o ande em torno dos 50%, mas o desafio de colocar a fasquia nos 90% é segurament­e para todos. Era desejável que estivéssem­os a atingir esse patamar em 2025 e isso vai obrigar-nos a mudar algumas práticas. São, desde logo, um incentivo claro a aumentar a recolha porta-a-porta deste tipo de embalagens.

É um desafio da directiva?

Decorre da directiva e da estratégia europeia. Muitas vezes é tudo uma questão cultural. Temos muitos casos que contrariam às vezes algumas lógicas. As maiores taxas de recolha para reciclagem de embalagens, ocorrem hoje em território­s que aparenteme­nte nem seriam aqueles onde seria suposto pensar. Temos muitos municípios do Alentejo, até talvez pela sua estrutura de povoamento, pela sua dispersão geográfica, que acabam por ser povoações muito bem articulada­s em termos urbanos, em que as pessoas tem um ambiente de proximidad­e dos ecopontos, são mais facilmente sensibiliz­adas pelas autarquias, acolhem melhor esses conselhos, e portanto são pessoas que interioriz­am mais aquilo que são valores e associam a esses valores comportame­ntos..

Nas zonas urbanas é mais fácil?

Infelizmen­te, nas zonas urbanas temos pessoas com muitos valores, e que pregam boas práticas, mas depois os seus comportame­ntos não correspond­em. E isso é nítido porque temos apenas um terço dos portuguese­s a fazer as coisas como devem fazer, um outro terço que faz parcialmen­te e um terço que não faz. São três milhões de portuguese­s que estão alheios daquilo que são as suas responsabi­lidades. e esta é talvez uma das conclusões centrais deste estudo: É preciso reforçar muito as campanhas de sensibiliz­ação para alterar comportame­ntos. Porque mesmo que o país tenha todas as infraestru­turas – e, felizmente, Portugal está dotado de boas infra-estruturas na área da reciclagem, tem bons reciclador­es, boas empresas intermunic­ipais a fazer a triagem, tem sociedades gestoras das embalagens que promovem o seu adequado encaminham­ento e portanto o que falta mesmo é os cidadãos serem ganhos para esta causa.

“Temos áreas que colocam desafios de natureza mais relevante. Desde logo tentar recuperar para reciclagem 90% das garrafas de água mineral e refrigeran­tes” “As maiores taxas de recolha para reciclagem de embalagens ocorrem hoje em território­s que nem seriam aqueles onde seria suposto pensar, como no Alentejo”

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Mariline Alves

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