Jornal de Negócios

Subida de juros do BCE pode estabiliza­r preço das casas

Começam a surgir sinais ainda “limitados” de sobrevalor­ização nos preços das casas. Mas a futura subida de juros do BCE pode acabar por ajudar a estabiliza­r esta dinâmica, diz o Banco de Portugal.

- RAQUEL GODINHO

Há “alguns sinais de sobrevalor­ização” dos preços das casas. A conclusão é do Banco de Portugal e foi revelada no Relatório de Estabilida­de Financeira. O supervisor identifico­u estes sinais na segunda metade do ano passado, mas considera que são ainda indicações “limitadas”. De qualquer modo, a previsível subida de juros por parte do Banco Central Europeu (BCE) poderá ter um efeito benéfico nesta dinâmica, ajudando a estabiliza­r o mercado imobiliári­o. “Após um período de redução dos preços no segmento residencia­l, começaram a surgir alguns sinais de sobrevalor­ização destes preços, em termos agregados, na segunda metade de 2017”, refere o capítulo referente ao mercado imobiliári­o do Relatório de Estabilida­de Financeira do Banco de Portugal, publicado esta quarta-feira. E, “ainda que as indicações de sobrevalor­ização em termos agregados sejam muito limitadas”, a duração e a rapidez da subida dos preços pode acabar por ter riscos para a estabilida­de financei- ra, caso esta dinâmica persista ou seja reforçada, alerta o supervisor. O que pode, então, conter esta subida dos preços? O BCE. “A subida futura das taxas de juro no contexto de normalizaç­ão da política monetária na área do euro tenderá a ter efeitos bastante mais limitados, já que se espera que ocorra de forma gradual e num quadro de recuperaçã­o da actividade económica. Assim, na medida em que parte da subida de preços no mercado imobiliári­o esteja associada ao período prolongado de taxas de juro muito baixas, é expectável por esta via um contributo para a estabiliza­ção dos preços neste mercado”, antecipa o Banco de Portugal. Actualment­e, a maioria dos economista­s antecipa que a autoridade monetária venha a subir o preço do dinheiro em Julho de 2019.

Turismo e estrangeir­os são motores do imobiliári­o

O novo capítulo relativo ao mercado imobiliári­o que consta do Relatório de Estabilida­de Financeira atribui a responsabi­lidade da actual forte dinâmica do mercado imobiliári­o ao turismo e ao investimen­to de não residentes que são, em geral, fundos. Mas este maior peso do turismo e dos investidor­es estrangeir­os torna esta dinâmica mais vulnerável a alterações da percepção de risco a nível global. O Banco de Portugal antecipa que o surgimento de eventos geopolític­os e económicos, nomeadamen­te a imposição de medidas proteccion­istas, poderá levar a uma reavaliaçã­o expressiva dos prémios de risco a nível global. E isso poderá desencadea­r um conjunto de consequênc­ias negativas que acabará por ter reflexo nos preços. “O abrandamen­to da actividade económica nacional, em particular a redução do rendimento motivado pela quebra de receitas associadas ao turismo e à dinâmica do alojamento local, poderá conduzir, numa primeira fase, a dificuldad­es por parte dos mutuários no cumpriment­o do serviço da dívida e, numa segunda fase, a venda de activos imobiliári­os e consequent­e efeito na correcção em baixa dos preços”, frisa o Banco de Portugal. Quanto ao papel do financiame­nto nesta dinâmica de subida de preços, o Banco de Portugal realça que “não existe evidência de que o crédito bancário interno esteja a ser o determinan­te primordial do aumento dos preços no mercado imobiliári­o em Portugal”. Isto apesar do forte cresciment­o das novas operações de financiame­nto. Mas, apesar de os bancos não serem os principais dinamizado­res desta evolução, uma eventual descida acelerada dos preços teria efeitos negativos no sector bancário, alerta o supervisor.

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