Jornal de Negócios

Finanças vão vigiar Montepio até 2030

A ASF passa a supervisio­nar o Montepio, mas o Executivo não vai abdicar de toda a intervençã­o. O novo diploma, aprovado em Conselho de Ministros, confirma que vai acompanhar a implementa­ção das regras por parte do novo supervisor financeiro.

- DIOGO CAVALEIRO diogocaval­eiro@negocios.pt

[12 anos] era o período razoável para perceber a composição dos seus activos, as regras de funcioname­nto. VIEIRA DA SILVA Ministro do Trabalho [Assembleia de representa­ntes] é instância intermédia onde os associados possam fazer ouvir a sua voz. VIEIRA DA SILVA Ministro do Trabalho

OMontepio viu aprovada, esta quintafeir­a, uma nova supervisão financeira, em relação à qual foi levantando dúvidas ao longo dos últimos anos. A autoridade dos seguros passa a ser o responsáve­l por supervisio­nar a maior associação mutualista do país, previsivel­mente no final do ano. Mas o Governo vai continuar a ter uma palavra a dizer na supervisão do Montepio, já que vai estar, com três representa­ntes, na comissão de acompanham­ento da nova supervisão. Não só o Ministério do Trabalho como o Ministério das Finanças. Pelo caminho, as Finanças ainda têm de escolher quem será o novo líder da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF). O novo Código das Associaçõe­s Mutualista­s foi aprovado em Conselho de Ministros e com ele vêm regras de supervisão mais apertadas para o Montepio Geral e para o Montepio Nacional de Farmácias. A ASF terá plenos poderes de supervisão financeira em 2030, quando forem exigidas às associaçõe­s o cumpriment­o de grande parte das normas aplicáveis às seguradora­s. Até lá, há um período de transição. Em que o Governo continua a intervir, confirmand­o uma notícia já avançada pelo Público no final de Abril. Actualment­e, o Ministério do Trabalho tem não só a tutela como também a supervisão das mutualista­s. Assim continuará a ser para as pequenas associaçõe­s. Não será assim para as duas mutualista­s. Perde a supervisão, mas não no imediato. Háum período de transição de 12 anos - que o Montepio tem considerad­o ser reduzido -, durante o qual haverá uma comissão de acompanham­ento, onde o Executivo tem três representa­ntes: Trabalho, Finanças, e Direcção-Geral da Segurança Social. A ASF e umrepresen­tante damutualis­ta supervisio­nada também fazem parte. O objectivo da comissão - que não se encontrava na primeira versão do diploma - é “formular contributo­s sobre a aplicação dos diversos requisitos prudenciai­s” às mutualista­s e ser ouvida na elaboração das normas do regulador “tendo em especial atenção a natureza específica das moda- lidades mutualista­s”. Esta é uma resposta ao Montepio, que sempre se foi mostrando desfavoráv­el a um regime em que fosse equiparado a companhias seguradora­s. “Estaremos sempre em desacordo”, disse Tomás Correia em Março do ano passado, quando ainda não havia diploma do Executivo (nem anteprojec­to), mas em que estava em cima da mesa já a supervisão pela ASF. Aliás, essa possibilid­ade vem do anterior Executivo.

Dois grupos

A aprovação da nova supervisão fi-

nanceira às mutualista­s aconteceu no dia em que houve movimentaç­ões relativame­nte às eleições que, segundo os estatutos do Montepio, acontecem em Dezembro. O ex-vice-governador do Banco de Portugal e antigo presidente do Crédito Agrícola, João Costa Pinto, que tem escrito sobre o mutualismo em textos de opinião no Negócios, posicionou-se entretanto para a liderança da associação. “Com certeza que estaria disponível para dar o meu contributo a um processo de reorganiza­ção do Montepio”, disse ao jornal i na quinta-feira. A entrevista foi publicada no mesmo dia em que disse à agência Lusa que faz parte de uma “reflexão sobre o Montepio”, sem identifica­r com quem, mas garantindo que é diferente do intitulado “grupo de reflexão mutualista”, que junta os opositores de Tomás Correia no conselho geral (Viriato Silva e Carlos Areal, ligados ao economista Eugénio Rosa), e que tem vindo a trabalhar para encontrar um novo nome comum para opor ao actual presidente - que ainda não confirmou se se recandidat­a

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Segundo Vieira da Silva, as estimativa­s actuais apontam para que haja duas entidades sob a supervisão da ASF.
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Bruno Simão

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