As canções são como os filhos, é preciso libertá-las
Entrevista a José Mário Branco
Humberto Delgado O general que assustou o Estado Novo
“Oque fiz, ao longo deste tempo, foi falar do que aconteceu, não fui eu que fiz acontecer. Não são os escritores de canções que mudam sociedades, a sociedade é que muda os escritores de canções.” É este o olhar de JOSÉ MÁRIO BRANCO, cantautor português que acaba de lançar o álbum “Inéditos (1967-1999)”, um dos discos mais aguardados da música portuguesa, uma viagem pela história contemporânea. Ali encontramos Paris, Porto e Lisboa, ali vivemos o Maio de 68, o 25 de Abril e a pós-revolução. Ali sentimos, também, o tempo dos trovadores medievais portugueses. Entre inéditos, maquetas restauradas a partir de bobines originais e canções feitas para filmes, o novo álbum tem 26 músicas. “É como se (até agora) uma parte das coisas que inventei não estivesse entregue a quem de direito, que é o público. Agora, essas canções foram à vida. São como os filhos. É preciso libertá-las. Não tenho qualquer sentimento de posse em relação às coisas que faço, em relação às coisas que edito ou em relação às coisas que dou a conhecer”, diz, em entrevista, o compositor.
A 8 de Junho de 1958, há precisamente 60 anos, realizavam-se em Portugal as eleições presidenciais que abanaram o Estado Novo.
HUMBERTO DELGADO, o “General sem Medo”, candidatava-se ao acto eleitoral. A apoiá-lo estava, também, José Mário Branco. “Por ser dirigente da Acção Católica no meu liceu, eu podia andar com o autocolante do Delgado ao peito sem correr o risco de ser reprimido ou expulso!”, conta o músico, que admirava o homem que um dia, questionado por um jornalista sobre o que faria ao então Sr. Presidente do Conselho se fosse eleito Presidente da República, respondeu: “Obviamente, demito-o”, recorda a jornalista Filipa Lino.