Jornal de Negócios

Um código sem natalidade

- MANUEL ESTEVES Editor executivo mesteves@negocios.pt

Oministro do Trabalho sempre recusou falar em revisão do Código do Trabalho. E com razão. Este é um pacote de medidas que ignora componente­s centrais como os motivos para despedimen­to e as respectiva­s indemnizaç­ões; o custo das horas extra e regras do trabalho suplementa­r; ou as férias. O Governo não mexe aí porque, no essencial, concorda com as alterações feitas por Passos Coelho que, de forma muito simplifica­da, reduziu o custo do trabalho (custo das empresas, que é o rendimento dos trabalhado­res), flexibiliz­ou horários de trabalho, facilitou os despedimen­tos e diminuiu o tempo de descanso.

O que se esperava da reforma de Vieira da Silva – previsto nas posições conjuntas assinadas com PCP e Bloco – era que reduzisse a precarieda­de laboral. Nesse sentido, propôs uma redução do tempo dos contratos a prazo de três para dois anos, uma maior limitação às renovações e, no caso dos contratos de trabalho temporário, a fixação de um limite máximo de seis renovações. O Governo restringe ainda as situações em que as empresas podem contratar a prazo sem invocarem os motivos legais previstos.

Acontece que Vieira da Silva também propôs o alargament­o dos contratos de muito curta duração (até 35 dias) a quase todos os sectores da economia, ampliou o período de experiênci­a nos contratos sem termo para 180 dias (para quem procure o primeiro emprego ou desemprega­dos de longa duração), criando um contrato a prazo dentro de um contrato sem termo. Ainda assim, feitas as contas, é defensável que a segurança contratual sai um pouco reforçada.

Porém, é redutor falar em precarieda­de sem atender à questão dos horários precários, ou seja, horários que dão pouca estabilida­de aos trabalhado­res. Sabendo disso, o PS inscreveu no seu programa eleitoral o fim do banco de horas individual. E cumpriu. Mas uma vez mais, o que tirou com uma mão introduziu com a outra, neste caso de forma mais disruptiva: facilitou outro tipo de banco de horas, chamado grupal, que até pode ser mais lesivo para a vida familiar na medida em que não é recusável se 65% dos visados (antes eram 75%) aprovarem a proposta da empresa.

Vieira da Silva disse na quarta-feira que o factor mais decisivo para as famílias terem filhos é a estabilida­de laboral. É verdade. O que não chegou a dizer, porque não quis mentir, é que estas alterações à lei laboral vão criar melhores condições para as famílias terem filhos. E não vão.

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