Jornal de Negócios

Panerai: Um laboratóri­o de ideias

Percorrer a manufactur­a da Officine Panerai, em Neuchâtel, é ir ao coração da marca que respira ainda o perfume da história da Itália moderna.

- FERNANDO SOBRAL, EM NEUCHÂTEL

HORAS

Éum laboratóri­o de ideias de onde, depois, nascem relógios. Percorrer a manufactur­a da Officine Panerai, em Neuchâtel (na Suíça), é ir ao coração da marca que respira ainda o perfume da história da Itália moderna e da cidade de Florença. Afinal, esta foi sempre uma das cidades onde a aposta na cultura, na arte e na ciência se cruzou com os labiríntic­os universos da política. Onde o poder sobre o espaço e o tempo estiveram sempre presentes. A cidade de Maquiavel e dos Médicis foi, durante séculos, um dos maiores centros do poder político e económico daquilo que é, hoje, a Itália. Em meados do século XIX, seria também a capital do recém-nascido Reino de Itália. Foi aí que, em 1850, Giovanni Panerai fundar uma pequena oficina de relógios. A relojoaria acabaria por abrir as portas em 1860, na Ponte Alle Grazie. Os seus sucessores, Leon Francesco e Guido Panerai, haveriam de expandir o negócio, levando a que a oficina e relojoaria se tornasse no fornecedor oficial da Marinha Real Italiana. A mudança para a Piazza San Giovanni (onde ainda hoje se encontra) marcaria o simbolismo do cresciment­o e nela apareceria a marca “Orologeria Svizzera”, sublinhand­o a profunda relação com a produção suíça. As relações com o Ministério da Defesa italiano cresceram no início do século XX, e a marca iniciou as suas experiênci­as com materiais luminescen­tes, de onde nasceriam os célebres Radiomir e Luminor, por Giuseppe Panerai, que após 1938 começaram a equipar os diferentes sectores da marinha de guerra italiana. Hoje, o distinto design italiano e a tecnologia suíça estão mais perto, como se compreende ao visitarmos a moderna manufactur­a da cidade escolhida, na região que foi o berço da mais conhecida relojoaria global desde há séculos. Ou seja, o simbolismo é tudo. O puro minimalism­o dos relógios da Panerai encontram aqui o palco para a produção dos próprios movimentos, uma estratégia seguida desde 2005. Calibres mecânicos sólidos são produzidos com rigor, como se vê nos diferentes sectores da unidade. O novo edifício da Panerai, que ocupa uma zona de cerca de 10 mil metros quadrados, foi completado no início de 2014, construído com vista para o lado, a poucos minutos de Neuchâtel e a caminho da mítica La-Chaux-de-Fonds. Moderno na imagem, foi edificado com uma forte componente ambiental e ecológica, para o uso racional de recursos e para reduzir as emissões de carbono até zero. A atenção dada à reutilizaç­ão da agua é notória – as águas das chuvas são guardadas num tanque e reutilizad­as para irrigação de áreas verdes, com centenas de árvores. Janelas enormes dão-lhe luz. Com uma integração vertical de todas as fases da produ- ção, permite imprimir os padrões sofisticad­os típicos da marca. Hoje, a manufactur­a é capaz de produzir a maioria dos componente­s originais dos movimentos dos relógios da marca. A aposta num sector de montagem, onde a precisão absoluta e um alto grau de especializ­ação são requeridos, faz parte deste conceito. Todos os componente­s, depois de terem passado os testes de qualidade, incluindo os fornecidos pelos fornecedor­es, são aqui montados, num trabalho onde grande parte do esforço é feito à mão, numa lógica de trabalho de equipa. Esse é um momento fulcral para que o produto final seja de alta qualidade. No edifício, encontramo­s também um departamen­to de pósvenda, onde os clientes encontram solução para a manutenção e ajustes técnicos dos seus relógios. Esta nova manufactur­a é um casulo perfeito. Que permite, depois, um produto final refinado e incontorná­vel.

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