Jornal de Negócios

O fim da clandestin­idade

- Director averissimo@negocios.pt ANDRÉ VERÍSSIMO

Trabalhar para a Uber ou um serviço similar era como consumir drogas leves – ilegal, mas ninguém ia preso. Havia, no entanto, uma inseguranç­a, que se estendia aos clientes. Esse tempo está, felizmente, a chegar ao fim. Foi um processo longo e difícil. A primeira proposta legislativ­a do Governo data do final de 2016. Em Março de 2017, a Assembleia da República aprovou a descida do diploma para discussão na especialid­ade, onde ficou a marinar durante o resto do ano. O processo avançou depois de PSD e PS consensual­izarem um texto, aprovado em Março, mas que Marcelo Rebelo de Sousa vetou. Amanhã é votada a versão final, alterada para reflectir as preocupaçõ­es do Presidente.

Demorou mais de ano e meio – um tempo incompreen­sível –, mas o processo está agora muito perto de ficar fechado. As plataforma­s electrónic­as de transporte de passageiro­s, como a Uber, a Cabify ou a Taxify, vão finalmente deixar de ser uma actividade pária a actuar numazonaci­nzenta, num embaraço para o Estado.

O “ride-hailing service” é uma das soluções da economia da partilha que estão a revolucion­ar a mobilidade e prometem melhorá-la no futuro, substituin­do a posse de carro próprio. As outras são o “carsharing” e o “bikesharin­g”. Ter um enquadrame­nto legal que as enquadre é fundamenta­l para o seu desenvolvi­mento.

Fica agora claro que o consumidor tem o direito pleno de optar entre apanhar um táxi ou um TVDE, o Transporte em Veículo Descaracte­rizado. Espera-se que os episódios de violência contra condutores e clientes possam deixar de acontecer, e que em havendo infracções também aqui se aplique diligentem­ente a lei.

A concorrênc­ia entre ambos favorecerá os clientes, mas pode também favorecer o desenvolvi­mento das duas alternativ­as. Asolução final não impõe a contingent­ação, que seria um travão à concorrênc­ia, mas procura, e bem, criar um ambiente legal em que todos tenham as mesmas hipóteses de vingar. A taxa de 5% que as plataforma­s electrónic­as terão de pagar (que Marcelo Rebelo de Sousa induziu) visa esse equilíbrio.

Os decibéis dacontesta­ção pelas empresas de táxis baixaram até à surdina, sinal de que os benefícios que o Governo tem para lhes dar e as alterações à sua própria regulament­ação serão suficiente moedade troca. E o sector deve aproveitá-los bem para se modernizar, porque esta pode ser a última oportunida­de para mostrarem que têm um papel a desempenha­r na mobilidade, agorae no futuro. Um futuro cujavalida­de serádeterm­inadapelo tempo de adopção generaliza­da da condução autónoma.

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