Aquilo que é escrito sem esforço é geralmente lido sem prazer.
Samuel Johnson
Exercício de memória: em 2009, quando na campanha eleitoral para as autárquicas desse ano foi proposta a urgente construção de um novo aeroporto de Lisboa, na carreira de tiro da Força Aérea em Alcochete, António Costa (que venceu essas eleições) tomou posição contra a ideia e contra a urgência da decisão. Pedro Santana Lopes, que havia apresentado e defendido a proposta, perdeu as eleições, Costa venceu, e os trabalhos preparatórios do aeroporto não se iniciaram – em Alcochete ou em outra localização. Já lá vão nove anos – o tempo que os especialistas consideram razoável para a preparação, planeamento e construção de uma infra-estrutura como um aeroporto moderno, feito de raiz. E que se passa agora? O aeroporto da Portela está caótico, as previsões de que ficaria saturado confirmaram-se devido ao enorme afluxo de visitantes, a solução do Montijo, que não resolve o problema de fundo, está atrasada. As queixas dos utilizadores do aeroporto aumentam, os atrasos nos voos tam- bém, as demoras na entrada e saída de passageiros atingem níveis brutais. Pelo meio, a TAP e a ANA– Vinci estão em guerra permanente, atirando uns para cima dos outros culpas pelos atrasos. As companhias aéreas queixam-se que a concessionária do aeroporto aumenta os preços sem prestar melhor serviço (e foi anunciado novo aumento para o final do ano) e o membro do Governo que tutela a área limita-se a dizer que é difícil negociar com a Vinci. O país continua entregue ao improviso, só depois da casa roubada é que se colocam trancas na porta. Por este andar, os turistas vão aborrecer-se de passar mais tempo no aeroporto e nos voos atrasados do que a ver a cidade. E lá encontrarão outro destino mais confortável, por muitas fotos que Madonna coloque no Instagram. Lembram-se como começava “Airport”, uma canção dos Motors, em 1978? – “So many destination faces going to so many places/ Where the weather is much better/ And the food is so much cheaper.”