Jornal de Negócios

Organismos públicos dão milhões à margem da lei

Inspecção de Finanças detectou irregulari­dades na atribuição de subvenções e pede nova lei-quadro.

- JOÃO D’ESPINEY joaodespin­ey@negocios.pt

Treze organismos públicos não reportaram à Inspecção- -Geral de Finanças (IGF) subvenções que concederam no valor global de 44,4 milhões de euros, três entidades que atribuíram apoios no valor de 600 mil euros sem fundamento legal e 499 entidades públicas que deram benefícios no montante de 3.203 milhões de euros não cumpriram a correspond­ente obrigação fiscal declarativ­a. Estas são as principais conclusões de uma acção de controlo da IGF realizada com a finalidade de “confirmar se as entidades do sector público cumpriram, sem erros materialme­nte relevantes, as obrigações estabeleci­das” na atribuição de subvenções e benefícios públicos em 2016.

As subvenções e benefícios públicos comunicado­s atingiram os 4.306 milhões de euros em 2016, o que representa um acréscimo de 15% em relação ao apurado no ano anterior. Neste ano foram concedidas subvenções por parte de 528 organismos a 92.558 beneficiár­ios, números que representa­m uma descida do número de entidades que concederam benefícios em 2015 (550), mas traduzem um aumento do número de beneficiár­ios face aos 47.694 que receberam apoios no ano anterior.

A lei que regula esta matéria (n.º 64/2013, de 27 de Agosto), considera subvenção pública “toda e qualquer vantagem financeira ou patrimonia­l atribuída, directa ou indirectam­ente, qualquer que seja a designação ou modalidade adoptada”.

De acordo com o resumo da auditoria – a IGF nunca publica os relatórios das suas acções inspectiva­s e de auditoria na íntegra –, as treze entidades que não comunicara­m as suas subvenções alegaram “como principais razões para o incumprime­nto, erros e atrasos no tratamento da informação”.

A IGF detectou ainda que de 30 entidades públicas que concederam subvenções de montante superior a

Em 2016, 528 organismos deram apoios a 92.558 entidades no valor global de 4.306 milhões de euros.

8,5 milhões de euros, dez “não cumpriram a subsequent­e obrigação legal de publicitaç­ão dessa informação no respectivo sítio da internet”. E dos 50 maiores beneficiár­ios de subvenções (mais de 4,7 milhões) apenas dois divulgaram online os respectivo­s montantes.

“Apesar da relevância financeira das transferên­cias correntes e de capital do sector público (3.098 milhões de euros), continua a não existir em Portugal (diferentem­ente de outros países) um diploma legal que introduza maior rigor e objectivid­ade à concessão de subvenções e be-

nefícios públicos de origem nacional”, concluíram os inspectore­s das Finanças.

A auditoria detectou ainda que as entidades da Região Autónoma dos Açores também não reportaram a informação nos termos convencion­ados (no total de 255,4 milhões de euros), “invocando, como causa justificat­iva, a inexistênc­ia de um protocolo entre os Governos da República e Regional”.

Além de recomendar aperfeiçoa­mentos no quadro legal, designadam­ente quanto ao facto de o prazo legal de reporte das subvenções an- teceder o da prestação de contas, a IGF propôs ao Governo que aprove uma lei-quadro que “defina os princípios gerais para a atribuição de subvenções e benefícios públicos, bem como o reforço dos critérios de objectivid­ade e dos objectivos de consolidaç­ão orçamental”.

A IGF defende ainda a necessidad­e de “aperfeiçoa­r” a lei em vigor no sentido de “clarificar o universo de entidades públicas obrigadas, de alterar o prazo de reporte e publicitaç­ão e de alargar a obrigação de divulgação das subvenções públicas aos beneficiár­ios”.

 ?? Pedro Catarino ?? O Ministério do Trabalho, Solidaried­ade e Segurança Social, liderado por Vieira da Silva, foi o organismo que mais dinheiro deu em 2016: 2156,2 milhões de euros.
Pedro Catarino O Ministério do Trabalho, Solidaried­ade e Segurança Social, liderado por Vieira da Silva, foi o organismo que mais dinheiro deu em 2016: 2156,2 milhões de euros.

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