O estado da Nação na economia e na política
Taxa de crescimento do PIB
No dia em que o Governo vai à Assembleia da República prestar contas sobre o estado da Nação, o Negócios preparou um painel de bordo que permite medir o pulso ao país pela lente da economia. Como estão as famílias, as empresas e o Estado?
Esta sexta-feira, o Governo chefiado por António Costa vai ao Parlamento prestar contas sobre o estado daNação. O debate anual é geralmente aproveitado para medir o pulso político e as condições de vida do país. Ainda ontem a Comissão Europeia previu um crescimento de 2,2% do PIB para este ano. Mas o que é que isso diz sobre o estado da economia?
Depois de um primeiro trimestre de crescimento fraco, Bruxelas já não espera que o Executivo cumpra a meta do PIB em 2018. A diferença é pequena – uma décima, dos anteriores 2,3% para 2,2%. Além disso, o primeiro trimestre foi mais fraco do que o antecipado sobretudo por questões temporárias – o mau tempo prejudi- cou a actividade da construção e o movimento dos portos.
Aexpectativa de curto prazo é de que no segundo trimestre haja um efeito de compensação, mas isso não vai impedir aeconomiade andar mais devagar quando comparada com 2017, quando cresceu 2,7%. Contas feitas, qual é o estado da economia?
Famílias mais desafogadas
Há um ano, em Julho de 2017, a taxa de desemprego estava em 8,9%, com o INE a estimar 459 mil pessoas à procura de trabalho. A informação mais recente só vai até Maio, mas mostra que em dez meses o número de desempregados caiu 83,4 mil, para 375,6 mil pessoas, 7,1% da população activa. A queda do desemprego é uma das principais melhorias do último ano.
Mas isto não quer dizer que esteja tudo bem. Segundo dados da Segurança Social noticiados pelo Jornal de Notícias, no período de Janeiro a Abril os salários médios declarados aumentaram 1,6%, quando comparados com os mesmos quatro meses de 2017. Há um ano o ritmo era superior: 5,4%.
Outro ponto que as famílias têm vindo a corrigir, mais ainda sem a batalha completamente vencida é o do endividamento. Segundo os últimos dados do Banco de Portugal, em Abril a dívida das famílias estava em 141,5 mil milhões de euros, dos quais 99 mil milhões justificados pela habitação. Assumindo o PIB estimado pelo Governo para 2018, o endividamento total representa 70,6% – mais de 20 pontos abaixo do registado em 2012, quando a troika tomou conta do país, e cerca de três pontos a menos do que o registado um ano antes.
Empresas mais resistentes
O mesmo caminho de desendividamento tem vindo a ser percorrido pelas empresas privadas. Mas aqui o cenário é mais agudo: não só os níveis do endividamento são bastante superiores (as empresas deviam em Março de 2018 o equivalente a 133,7% do PIB), como têm uma posição líquida financeira deficitária.
As empresas não financeiras, ou seja, excluindo os bancos, tinham no ano terminado em Março necessidades líquidas de financiamento de 1,4% do PIB, um défice que se tem vindo a agravar desde 2012, contrariando o movimento da média da área do euro.
Ainda assim, há dados que mostram que o desempenho das empresas continua a melhorar. Os dados do INE sobre o comércio internacional de bens mostram que as exportações têm vindo a crescer em torno de 5%, em termos médios, até Maio. Já do lado do investimento, é a Comissão Europeia que dá conta da maior capacidade das empresas para investir, tendo em conta a desalavancagem que têm vindo a concretizar.
Estado mais leve
À primeira vista, este é o sector da economia cujo pulso é mais fácil de medir: o défice orçamental continua a descer, com o valor dos primeiros três meses a fixar-se em 0,9%, abaixo dos 2% do período homólogo, descontando o efeito da recapitalização da CGD.
No que toca à dívida pública é cedo para tirar conclusões, uma vez que o Tesouro privilegia o primeiro semestre do ano para as idas ao mercado, financiando-se em antecipação. Em Março, a dívida pública estava em 126,4% do PIB, acima do valor de fecho de 2017 e ainda longe da meta de 122,2% definida pelo Executivo.
Mas a questão é mais complexa: as críticas dos partidos da oposição e a reivindicação dos agentes dos sectores da saúde e educação são crescentes, denunciando um estrangulamento do financiamento. O Executivo responde com o aumento da despesa nestas áreas e com a subida do número de funcionários, mas a qualidade do serviço prestado é difícil de avaliar. Segundo os dados da DGAEP, no final de Março havia mais de 674 mil funcionários públicos, um aumento d e 0,8% em termos homólogos.
ECONOMIA CRESCE MAIS DEVAGAR, MAS ACIMA DE 2%
Há seis trimestres consecutivos que a economia portuguesa está a crescer com um ritmo acima dos 2%. Olhando para o histórico português, este é um marco assinalável: é preciso recuar à década de 90 e à viragem do milénio para encontrar um período mais longo de crescimentos robustos. Contudo, desde a segunda metade de 2017 que o PIB português tem vindo a perder o gás. Se as previsões da Comissão Europeia se concretizarem, no próximo ano a economia portuguesa já só cresce 2%.