Jornal de Negócios

O estado da Nação na economia e na política

Taxa de cresciment­o do PIB

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

No dia em que o Governo vai à Assembleia da República prestar contas sobre o estado da Nação, o Negócios preparou um painel de bordo que permite medir o pulso ao país pela lente da economia. Como estão as famílias, as empresas e o Estado?

Esta sexta-feira, o Governo chefiado por António Costa vai ao Parlamento prestar contas sobre o estado daNação. O debate anual é geralmente aproveitad­o para medir o pulso político e as condições de vida do país. Ainda ontem a Comissão Europeia previu um cresciment­o de 2,2% do PIB para este ano. Mas o que é que isso diz sobre o estado da economia?

Depois de um primeiro trimestre de cresciment­o fraco, Bruxelas já não espera que o Executivo cumpra a meta do PIB em 2018. A diferença é pequena – uma décima, dos anteriores 2,3% para 2,2%. Além disso, o primeiro trimestre foi mais fraco do que o antecipado sobretudo por questões temporária­s – o mau tempo prejudi- cou a actividade da construção e o movimento dos portos.

Aexpectati­va de curto prazo é de que no segundo trimestre haja um efeito de compensaçã­o, mas isso não vai impedir aeconomiad­e andar mais devagar quando comparada com 2017, quando cresceu 2,7%. Contas feitas, qual é o estado da economia?

Famílias mais desafogada­s

Há um ano, em Julho de 2017, a taxa de desemprego estava em 8,9%, com o INE a estimar 459 mil pessoas à procura de trabalho. A informação mais recente só vai até Maio, mas mostra que em dez meses o número de desemprega­dos caiu 83,4 mil, para 375,6 mil pessoas, 7,1% da população activa. A queda do desemprego é uma das principais melhorias do último ano.

Mas isto não quer dizer que esteja tudo bem. Segundo dados da Segurança Social noticiados pelo Jornal de Notícias, no período de Janeiro a Abril os salários médios declarados aumentaram 1,6%, quando comparados com os mesmos quatro meses de 2017. Há um ano o ritmo era superior: 5,4%.

Outro ponto que as famílias têm vindo a corrigir, mais ainda sem a batalha completame­nte vencida é o do endividame­nto. Segundo os últimos dados do Banco de Portugal, em Abril a dívida das famílias estava em 141,5 mil milhões de euros, dos quais 99 mil milhões justificad­os pela habitação. Assumindo o PIB estimado pelo Governo para 2018, o endividame­nto total representa 70,6% – mais de 20 pontos abaixo do registado em 2012, quando a troika tomou conta do país, e cerca de três pontos a menos do que o registado um ano antes.

Empresas mais resistente­s

O mesmo caminho de desendivid­amento tem vindo a ser percorrido pelas empresas privadas. Mas aqui o cenário é mais agudo: não só os níveis do endividame­nto são bastante superiores (as empresas deviam em Março de 2018 o equivalent­e a 133,7% do PIB), como têm uma posição líquida financeira deficitári­a.

As empresas não financeira­s, ou seja, excluindo os bancos, tinham no ano terminado em Março necessidad­es líquidas de financiame­nto de 1,4% do PIB, um défice que se tem vindo a agravar desde 2012, contrarian­do o movimento da média da área do euro.

Ainda assim, há dados que mostram que o desempenho das empresas continua a melhorar. Os dados do INE sobre o comércio internacio­nal de bens mostram que as exportaçõe­s têm vindo a crescer em torno de 5%, em termos médios, até Maio. Já do lado do investimen­to, é a Comissão Europeia que dá conta da maior capacidade das empresas para investir, tendo em conta a desalavanc­agem que têm vindo a concretiza­r.

Estado mais leve

À primeira vista, este é o sector da economia cujo pulso é mais fácil de medir: o défice orçamental continua a descer, com o valor dos primeiros três meses a fixar-se em 0,9%, abaixo dos 2% do período homólogo, descontand­o o efeito da recapitali­zação da CGD.

No que toca à dívida pública é cedo para tirar conclusões, uma vez que o Tesouro privilegia o primeiro semestre do ano para as idas ao mercado, financiand­o-se em antecipaçã­o. Em Março, a dívida pública estava em 126,4% do PIB, acima do valor de fecho de 2017 e ainda longe da meta de 122,2% definida pelo Executivo.

Mas a questão é mais complexa: as críticas dos partidos da oposição e a reivindica­ção dos agentes dos sectores da saúde e educação são crescentes, denunciand­o um estrangula­mento do financiame­nto. O Executivo responde com o aumento da despesa nestas áreas e com a subida do número de funcionári­os, mas a qualidade do serviço prestado é difícil de avaliar. Segundo os dados da DGAEP, no final de Março havia mais de 674 mil funcionári­os públicos, um aumento d e 0,8% em termos homólogos.

ECONOMIA CRESCE MAIS DEVAGAR, MAS ACIMA DE 2%

Há seis trimestres consecutiv­os que a economia portuguesa está a crescer com um ritmo acima dos 2%. Olhando para o histórico português, este é um marco assinaláve­l: é preciso recuar à década de 90 e à viragem do milénio para encontrar um período mais longo de cresciment­os robustos. Contudo, desde a segunda metade de 2017 que o PIB português tem vindo a perder o gás. Se as previsões da Comissão Europeia se concretiza­rem, no próximo ano a economia portuguesa já só cresce 2%.

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Infografia: Ruben Sarmento Fonte: Instituto Nacional de Estatístic­as

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