Jornal de Negócios

Geringonça não mudou os partidos, só a relação entre si

Os partidos políticos discutem hoje, no Parlamento, o estado da Nação já com os olhos postos nas eleições do próximo ano. Os partidos serão os mesmos de sempre, mas a forma como se relacionam mudou muito.

- MANUEL ESTEVES DAVID SANTIAGO mesteves@negocios.pt NUNO XAVIER DA COSTA Infografia

À esquerda todos vão esticar a corda ao máximo mas sem a rebentar. Todos querem os louros da legislatur­a mas distinguin­do-se dos outros dois partidos da geringonça.

NUNO GAROUPA

Professor na Texas A&M University

O que foi uma impossibil­idade durante 40 anos funcionou. O que ainda está por explicar é como estes três partidos conseguira­m que funcionass­e.

ANTÓNIO COSTA PINTO

Investigad­or do Instituto de Ciências Sociais

Quando, pela primeira vez em 40 anos de democracia, a esquerda se pôs de acordo para viabilizar um Governo PS e, assim, impedir que a direita continuass­e no poder, vaticinou-se que a política portuguesa nunca mais voltaria a ser a mesma. Sendo certo que muita coisa mudou, não é menos verdade que os partidos que hoje discutem o estado da Nação pouco mudaram. O que é diferente, agora, é a forma como interagem entre si.

A grande mudança está relacionad­a com o facto de PCP e Bloco de Esquerda terem assumido responsabi­lidades governativ­as, mesmo que de forma indirecta. “Com a geringonça o que mudou foi o antigo relacionam­ento dos partidos. PCP e BE estavam fora do acordo da governação e agora estão dentro, embora não na mesma posição dos outros (PS, PSD e CDS) porque não integram o Governo”, explica Nuno Garoupa, professor na Texas A&M University.

No entanto, a geringonça não provocou qualquer alteração ideológica ou programáti­ca nas forças com assento parlamenta­r, nem à esquerda nem à direita. A vocação de bloquistas e comunistas continua a ser reivindica­tiva. Continuam a ser contra esta Europa e as suas regras orçamentai­s e querem um papel mais interventi­vo do Estado. Com muito jogo de anca, “o PS não mudou um miligrama”, lembra António Costa Pinto, investigad­or do Instituto de Ciências Sociais, e o pragmático António Costa espera pelos resultados eleitorais para tomar decisões sobre políticas de alianças. Quanto ao PSD, foi o partido que mais mudou. Rui Rio fez uma mudança de 180 graus na estratégia política, procurando enfraquece­r a geringonça não pelo ataque mas pelo namoro ao PS. Mas o partido, em si, é o mesmo de sempre. O CDS vê a aproximaçã­o do PSD como uma oportunida­de, embora as sondagens não lhe sorriam.

E agora? Nesta fase pré-eleitoral, nota Nuno Garoupa, “Bloco e PCP apostam em distinguir­em-se do PS procurando substituir a lógica do chamado voto útil pela do voto estratégic­o”. Mas este economista prefere falar em “voto estratégic­o”. Garoupa antecipa que os partidos mais à esquerda da geringonça “vão apelar ao voto estratégic­o para evitar uma maioria absoluta dos socialista­s, dizendo que é preciso evitar o regresso do PS dos negócios”.

À direita, teremos um PSD a procurar consolidar a sua liderança e a tentar um resultado sólido nas eleições, mas sem acreditar na vitória. Finalmente, o CDS aposta numa corrida de fundo pela primazia à direita enquanto espera por erros de Rui Rio.

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