Jornal de Negócios

Socialista­s recuperam negócio do trespasse

Proposta traz novo impulso a esta figura, que depois de 2006 caiu praticamen­te em desuso.

- FILOMENA LANÇA filomenala­nca@negocios.pt

Os proprietár­ios de imóveis arrendados para comércio ou serviços que sejam trespassad­os e que tenham contratos de arrendamen­to antigos, celebrados antes de 1995, deverão deixar de poder denunciálo­s com um pré-aviso mínimo de cinco anos, como acontece actualment­e. Na prática, isto significa que esses contratos poderão manter-se mesmo depois do trespasse e que só poderão eventualme­nte vir a ser denunciado­s se o prédio for para obras de remodelaçã­o ou restauro profundo ou então para demolição e, mesmo aí, com fortes restrições.

A medida faz parte do conjunto de propostas de alteração a uma proposta de lei do Governo sobre arrendamen­to que está a ser discutida na especialid­ade. Nesta fase processual os grupos parlamenta­res podem apresentar propostas de alteração e o PS, o PCP e o CDS avançaram com várias nesta terça-feira. O conjunto vai ainda ser discutido e negociado e depois submetido a votações.

A medida dos trespasses visa essencialm­ente proteger os novos inquilinos e virá trazer um novo im- pulso a esta figura jurídica, que durante décadas foi muito usada no comércio, mas que depois de 2006 caiu praticamen­te em desuso.

O que aconteceu foi que o Novo Regime do Arrendamen­to Urbano (NRAU), de 2006, veio introduzir a regra actualment­e em vigor segundo a qual o senhorio pode denunciar o contrato de arrendamen­to com pré-aviso de cinco anos e a subir a renda. Isso retirou todo o encanto ao negócio de trespasse de negócios com arrendamen­tos antigos que perdiam a garantia de se poder manter nos mesmos locais e, na altura, de continuare­m a pagar rendas baixas.

Cinco anos depois da entrada em vigor dessa regra, em 2011, o Negócios fez um balanço e concluiu que os trespasses comerciais tinham caído até então cerca de 70%. A figura entrou praticamen­te em desuso, afirma Regina Santos Pereira, advogada e especialis­ta em Arrendamen­to. E o que o PS agora faz é estabelece­r que esta regra seja eliminada, deixando de admitir a denúncia do contrato. Se avançar, a proposta socialista “vai fazer com que o trespasse volte a ser um bom negócio”, avalia Regina Santos Pereira.

Além do trespasse, também deixa de ser possível pôr termo ao contrato em duas outras situações hoje previstas na lei: nos casos de locação financeira e sempre que na sociedade arrendatár­ia ocorra uma transmissã­o de posições sociais que determine a alteração da titularida­de em mais de 50%.

Mais de duas dezenas de propostas de diplomas

Esta proposta de alteração do PS vem juntar-se ao pacote que está no Parlamento para discussão há já vários meses. Três propostas são do Governo e integram a Nova Geração de Políticas de Habitação: uma com alterações várias ao código civil, NRAU e lei de obras em prédios arrendados, visa sobretudo dar mais protecção aos inquilinos (é nesse âmbito que o PS avança agora com esta proposta dos trespasses); outra que cria o arrendamen­to acessível; e uma outra que estabelece um IRS mais baixo para rendas de longa duração.

Entretanto, também os vários partidos apresentar­am propostas próprias em torno do arrendamen­to e no total são já mais de 20 os projectos de diploma que os deputados têm em mãos e que estão já a negociar. Até 25 de Setembro deverão entrar ainda mais propostas de alteração, estas em matéria fiscal.

As propostas socialista­s, que contam com o aval do Governo, incluem, tal como o Negócios avançou, uma revogação do Balcão Nacional do Arrendamen­to e a sua substituiç­ão por um serviço de injunções ao qual também os inquilinos possam ter acesso para reclamar dívidas dos senhorios.

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