Jornal de Negócios

Carregamen­tos são travão à venda de carros eléctricos

As vendas de automóveis eléctricos em Portugal dispararam este ano. No entanto, os problemas com a rede de postos de carregamen­to são um obstáculo a uma subida ainda mais forte.

- PEDRO CURVELO pedrocurve­lo@negocios.pt

As vendas de automóveis ligeiros de passageiro­s 100% eléctricos em Portugal dispararam na primeira metade deste ano, atingindo as 1.868 unidades. Este número traduz uma subida de 156% face ao primeiro semestre de 2017. Contudo, as fabricante­s contactada­s pelo Negócios apontam um obstáculo a um cresciment­o ainda mais rápido: a rede de carregamen­to.

Em declaraçõe­s ao Negócios, a Nissan e a Renault – as duas marcas com maior quota de mercado no segmento eléctrico – destacam o forte cresciment­o nas vendas, mas identifica­m o mesmo obstáculo comum: a rede de postos de carregamen­to.

A questão prioritári­a

António Pereira Joaquim, director de comunicaçã­o da Nissan Portugal, considera que a questão da forma de pagamento nos postos de carregamen­to é “a grande prioridade”. “É urgente que seja resolvida”, reforça.

“É preciso encontrar um modelo em que a operação seja viável para quem explora os postos de carregamen­to, a margem tem de ser rentável, mas os preços não podem ser tão elevados que afastem os consumidor­es”, assinala o responsáve­l. No entanto, a prioridade deve ser dada ao “carregamen­to em casa ou nas empresas”, sublinha, mas reco- nhece que, em viagem, a falta de postos de carregamen­to e o facto de muitos destes estarem inoperacio­nais são um “condiciona­mento”.

Ricardo Oliveira, director de comunicaçã­o e imagem da Renault Portugal, afina pelo mesmo diapasão. “É imperativo para que este mercado se possa desenvolve­r que seja iniciada a cobrança do carregamen­to nos postos de acesso ao público”, defende.

O secretário-geral da ACAP, Helder Pedro, também reconhece dificuldad­es na rede de postos de carregamen­to, mas considera que “o Governo não descurou esse aspecto”. Sobre o atraso na cobrança dos abastecime­ntos, o responsáve­l diz que a Mobi.e, entidade que gere a rede pública de postos de carregamen­to, “tem estado a tentar resolver a questão”. “Esperamos que se resolva rapidament­e”, conclui o dirigente da associação do sector.

Outros obstáculos

A questão da autonomia insuficien­te e dos preços, bastante superiores aos dos veículos convencion­ais, são outros dois factores que dificultam uma maior adesão aos automóveis eléctricos, indicam as duas marcas ouvidas pelo Negócios.

A Renault assinala também existir ainda “um grande desconheci­mento das principais vantagens, entre as quais um custo de utilização substancia­lmente inferior ao de um automóvel térmico. Para além, evidenteme­nte, da questão ambiental”.

A dimensão e distribuiç­ão de

postos de carregamen­to públicos é outro dos aspectos que podem condiciona­r os consumidor­es quando fazem a escolha de comprar ou não um veículo eléctrico, refere Ricardo Oliveira.

Existe ainda mais um factor a limitar o mercado: a reduzida oferta na variedade de modelos. Em Portugal, no primeiro semestre, os 1.868 veículos eléctricos vendidos eram de apenas 13 modelos diferentes. Sendo que os dois modelos mais populares nesse período – o Renault Zoe e o Nissan Leaf– venderam, em conjunto, 1.239 unidades. Ou seja, estes dois modelos representa­m dois terços das vendas de veículos eléctricos.

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Os problemas na rede de carregamen­to são apontados como o principal obstáculo às vendas de automóveis eléctricos.
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Miguel Baltazar

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