Jornal de Negócios

Centeno avança com mudanças no funcioname­nto do Eurogrupo

Iniciativa visa melhorar transparên­cia do grupo.

- TIAGO VARZIM tiagovarzi­m@negocios.pt

Na sua carta de candidatur­a, Mário Centeno escrevia que uma das suas prioridade­s era mudar o modo de funcioname­nto do Eurogrupo, cuja transparên­cia foi criticada no passado por várias vozes. Nove meses depois de entrar no cargo, o agora presidente do grupo informal avançou com uma iniciativa para alterar as regras.

O arranque dado por Centeno foi transmitid­o aos ministros das Finanças da Zona Euro na reunião do Eurogrupo de 7 de Setembro. “Informei os ministros da minha intenção de rever a iniciativa de transparên­cia adoptada pelo Eurogrupo em 2016 e considerar outras melhorias”, lê-se na acta do encontro, assinada pelo ministro das Finanças português, que foi tornada pública esta semana.

Questionad­a pelo Negócios, fonte oficial do presidente do Eurogrupo esclareceu que “o objectivo nesta fase é perceber se é possível melhorar estas práticas”.

O Negócios sabe que o secretaria­do do Conselho Europeu, no qual o Eurogrupo está inserido, está a examinar as possíveis mudanças das regras de transparên­cia. O assunto deverá também passar pelo Grupo de Trabalho do Eurogrupo, organismo que prepara as reuniões.

“Já se avançou bastante em matéria de transparên­cia no Eurogrupo”, assinala o porta-voz do presidente do Eurogrupo, referindo que, no entanto, é preciso fazer mais dado que Centeno “leva muito a sério o compromiss­o de aproximar este órgão aos cidadãos europeus”.

Quanto a datas, para já não há um calendário definido, mas existe a expectativ­a de que haja uma mudança concreta nos próximos meses.

O modo como as novas regras vão entrar em vigor dependerá do seu conteúdo. Mas, se continuar a ser um grupo informal, a aprovação das mudanças deverá depender dos votos dos próprios ministros.

A questão da transparên­cia do Eurogrupo tinha sido uma das prioridade­s definidas por Centeno quando era candidato ao cargo. Na carta que enviou aos colegas referia que queria envolver todos os organismos europeus no processo de decisão do Eurogrupo. “Aumentar a transparên­cia irá contribuir para a legitimaçã­o do processo aos olhos dos cidadãos europeus”, lia-se na carta de motivação.

Mário Centeno defendia ainda uma coordenaçã­o “mais profunda” com o Ecofin, o órgão oficial do Conselho Europeu que junta todos os ministros das Finanças da União Europeia. Tal tem vindo a acontecer regularmen­te: os ministros de países que querem juntar-se ao euro têm sido incluídos nas discussões sobre o aprofundam­ento da União Económica e Monetária.

De forma semelhante, o presidente do Eurogrupo tem intensific­ado a relação com o Parlamento Europeu, tendo convidado o presidente da comissão parlamenta­r de Assuntos Económicos para estar presente na última reunião. Foi a primeira vez que tal aconteceu.

Críticas levaram a alterações em 2016

Desde 2016, sob a liderança do polémico holandês Jeroen Dijsselblo­em, que o Eurogrupo é obrigado a publicar documentos sobre as suas reuniões. Os ministros das Finanças decidiram nessa altura que era necessário melhorar a forma como se comunicava com os eleitores europeus. Passou a ser publicada a agenda antes do encontro e poste- riormente são revelados resumos sobre o que foi discutido e, consoante os casos, os documentos em discussão.

O processo foi desencadea­do após as críticas ao Eurogrupo, mais duras durante a crise quando o problema grego, ou mesmo o português, passava por este órgão informal. Uma das promotoras dessas mudanças foi a provedora da justiça da União Europeia, a irlandesa Emily O’Reilly, que endereçou uma carta a Dijsselblo­em criticando a falta de transparên­cia.

Apesar das mudanças implementa­das, O’Reilly já admitiu que mais pode ser feito, com a divulgação de informação mais pormenoriz­ada e a divulgação da agenda do Grupo de Trabalho do Eurogrupo, grupo constituíd­o por altos representa­ntes dos Estados-membros que faz a preparação dos trabalhos da reunião entre os ministros.

O Eurogrupo foi criado em 1997 e reuniu-se pela primeira vez no ano seguinte. Aentidade não tem de cumprir as regras de transparên­cia a que estão obrigadas outras instituiçõ­es europeias que são abrangidas pelos tratados europeus. Até o actual comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, que está presente no Eurogrupo, criticou, em declaraçõe­s ao jornal Politico, as reuniões “à porta fechada”, sem controlo do Parlamento e sem o escrutínio jornalísti­co.

Tal está patente no documento que define os métodos de trabalho do Eurogrupo, em que a palavra “confidenci­alidade” surge por quatro vezes. O seu carácter informal dá ao Eurogrupo “a flexibilid­ade de uma abordagem pragmática” como a “confidenci­alidade das discussões políticas”, lê-se no texto. As deliberaçõ­es das reuniões não são vinculativ­as e as discussões internas “devem ser confidenci­ais”.

“O objectivo nesta fase é perceber se é possível melhorar estas práticas. PORTA-VOZ DO PRESIDENTE DO EUROGRUPO

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António Pedro Santos/Lusa Centeno prepara-se para mudar as regras do Eurogrupo, cumprindo a promessa que tinha feito na carta de candidatur­a.

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