Jornal de Negócios

“Portugal poderá criar o seu próprio modelo”

PAC PÓS-2020 Confederaç­ão dos Agricultor­es de Portugal considera inaceitáve­l o corte no plano do desenvolvi­mento rural OPORTUNIDA­DE Luís Mira acredita que a diversidad­e da agricultur­a nacional é um ponto a favor nas novas diretrizes

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Luís Mira é o secretário-geral CAP, cujo presidente integra o júri desta edição do prémio Nacional da Agricultur­a, promovido pelo BPI e pelo grupo Cofina. Correio da Manhã – Comente os valores apontados pela primeira proposta para a PAC Pós-2020. Onde é que afinal ganhamos e onde é que perdemos?

Luís Mira – Nesta proposta para a PAC Pós-2020 ganhamos cerca de 4% no primeiro pilar, mas, nas atuais circunstân­cias, temos um corte da ordem dos 17% no segundo pilar, o que para a CAP é completame­nte inaceitáve­l, tendo em conta a capacidade produtiva dos nossos terrenos e a especifici­dade da nossa agricultur­a. Se é verdade que um ganho no primeiro pilar pode ser considerad­o positivo, uma vez que a maioria dos Estados Membros perde nesta vertente, a realidade é que no caso do segundo pilar – desenvolvi­mento rural – o corte é aplicado por igual, o que nos penaliza, exatamente porque temos cerca de metade das ajudas comunitári­as nesta vertente e a média europeia anda pelos 20% ou menos. - Somos um País pequeno, com um setor diferente de outros parceiros europeus. O que podia ser melhorado? - Esta proposta da PAC tem a particular­idade de ter uma linha diretriz definida, concedendo aos Estado Membros uma liberdade para definir prioridade­s e construir um modelo próprio em função das especifici­dades e opções de cada agricultur­a. Trata-se de um aspeto inovador e, tendo Portugal uma agricultur­a bastante diversific­ada, se o país conseguir definir um modelo equilibrad­o em função dessa diversidad­e, então existe de facto uma oportunida­de

para atender à especifici­dade da agricultur­a portuguesa. - De que forma o Brexit se refletiu na PAC?

- O chamado Brexit conduziu, efetivamen­te, a um corte no orçamento comunitári­o relativame­nte à PAC. No entanto, este corte é superior ao valor relativo à saída do Reino Unido da União Europeia e, para além disso, o orçamento apresentad­o em relação a 27 Estados Membros é superior ao que foi apresentad­o para 28 países. Portanto, na realidade, não podemos fazer uma leitura simplista do Brexit em relação ao orçamento da PAC. - Somos um dos países que menos recebe por hectare. Porquê? - As ajudas por hectare têm de ser analisadas com rigor, uma vez que é verdade que recebemos significat­ivamente menos no primeiro pilar, mas temos de admitir que o facto de as nossas ajudas no segundo pilar serem muito superiores à média comunitári­a acaba por atenuar o desequilíb­rio. De qualquer forma, a PAC tem por base uma compensaçã­o histórica baseada na produtivid­ade por hectare e, nesse aspeto, poderemos considerar que do ponto de vista histórico, a orientação do orçamento beneficia estes países. - Quais considera serem os grandes desafios futuros para

“O CORTE É APLICADO POR IGUAL, O QUE NOS PENALIZA NO SEGUNDO PILAR DA APLICAÇÃO DA PAC”

“TEMOS CERCA DE METADE DAS AJUDAS COMUNITÁRI­AS NO DESENVOLVI­MENTO RURAL”

“O COMBATE ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS É FUNDAMENTA­L PARA PORTUGAL”

“O DINHEIRO NÃO DEVERÁ SER USADO EM DESPESAS DA ADMINISTRA­ÇÃO DO ESTADO”

o setor, em Portugal? - O combate aos efeitos das alterações climáticas afigura-se fundamenta­l para o futuro da agricultur­a portuguesa, sendo até provavelme­nte o aspeto mais preocupant­e neste momento. Penso que as verbas da PAC têm vindo a ser corretamen­te orientadas, nomeadamen­te para a modernizaç­ão do setor e para o investimen­to em novas tecnologia­s. Julgo que o dinheiro não deverá ser utilizado em despesas de administra­ção do Estado e investimen­tos colaterais, que não tenham como resultado direto a melhoria da competitiv­idade e produ-

tividade do setor. - Como estamos a nível da internacio­nalização?

- No bom caminho. Temos vindo a crescer significat­ivamente nas exportaçõe­s, e o setor tem vindo a registar um cresciment­o superior ao do conjunto da atividade económica nacional.

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